Cláudia Cabral

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Cláudia Cabral

Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

CC: Nasci no Rio de Janeiro em 1964, no ano da ditadura. Talvez esse tenha sido um dos motivos para eu estudar no Andrews. Apesar de meus pais não serem muito ativistas, eles eram totalmente contra a ideologia da ditadura. E a gente percebia que o Andrews era realmente uma escola diferente.

 

Quem são seus pais?

 

CC: Meu pai é médico, estudou no Andrews, e minha mãe também.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

CC: Estudei o tempo todo no Andrews, só sai por um ano, quando tinha 15 anos. Entrei no Jardim 1, em 1968, com três anos. Meu irmão mais velho também estudava no Andrews.

 

Você se lembra de seus professores do Jardim?

 

CC: Lembro da tia Ângela, lembro da professora do pré-primário que me alfabetizou, tia Iara. Eu me lembro muito dos meus colegas.

 

Quem são?

 

CC: O Mark Wundheiler que estudou comigo desde pequeno. Tenho uma grande amiga que estudou comigo no Jardim, a Adriana, não nos falamos com muita frequência, mas nunca deixei de saber o que ela faz e onde está. Há pouco tempo, reencontrei uma amiga de infância, a Cris Bahia.

 

Quais professores ficaram marcados para você?

 

CC: Tinha uma professora de Inglês que não me lembro o nome, lembro-me de fingir que dormia na aula porque não gostava da matéria. Lembro muito da tia Iara, antes de sair ela nos arrumava, passava lavanda; era uma pessoa que tinha pulso, impunha respeito. Eu era apaixonada por um professor de Educação Física no Jardim Ele era extremamente carinhoso.

 

E dos professores do primeiro grau?

 

CC: Tinha a tia Edith, que na época dos meus filhos foi coordenadora, ela foi minha professora do terceiro ano do primeiro grau, era muito querida. Eu me lembro muito das instalações do colégio na Visconde de Silva.

 

Como foi sua passagem da Visconde de Silva para a Praia de Botafogo?

 

CC: Eu preferia a Visconde, acompanhei toda a evolução. Todas as vezes que vou lá, lembro das salas em que estudei. A sala da Direção foi uma das minhas salas do Jardim. Eu tenho muito carinho pela Visconde Silva, a Praia não me marcou tanto assim. Tenho amigos no grupo que são mais marcados pela Praia.

 

Fale um pouco da sua época da Praia de Botafogo.

 

CC: A opção de ir para a Praia foi muito difícil, pois me separei de todos os meus amigos. Foi criada uma nova turma, e como eu era atleta, tinha que estudar à tarde, praticamente só com alunos novos. A época da Praia não me marcou muito, eu tinha outro foco, queria sair dali e ir nadar.

 

Você me disse que saiu um ano do colégio, quando foi?

 

CC: Com 15 anos eu fui morar seis meses no exterior. Depois fiz um ano escolar em seis meses em outro colégio, e voltei para o Andrews no terceiro ano do colegial na Visconde de Silva. Eu só não cursei o segundo ano colegial no Andrews.

 

Como foi esse ano no colégio? Quais professores mais te marcaram?

 

CC: Lembro-me bem dos professores. Tinha o Sérgio Nogueira, que eu adorava. Tinha um professor de Física que me fez gostar um pouco da matéria, o Fernando, de Biologia, que dava aula de uma forma muito divertida. Lembro demais do Loureiro, ele fazia umas piadas muito sem graça e eu ria de todas. O Andrews sempre teve ótimos professores de História. Eu não peguei a época do Chico Alencar, mas ele marcou muito meu irmão. São pessoas de visão aberta. De Química, tinha a Penha Jacobina, sensacional. O Domício Proença dava aulas dificílimas, mas eu era encantada por ele. A aula era aos sábados de manhã, muita gente não ia, mas eu não perdia; ele foi uma pessoa que me deu um gosto imenso pela literatura. Eu era da turma Biomédica, onde estavam os melhores alunos, mas fiquei com vontade de fazer Letras, muito em função das aulas dele. O Andrews sempre recomendou ótimos livros. Hoje em dia, quando converso com outras pessoas da minha idade, percebo que li muitos bons livros recomendados pelo colégio. Não sei com que idade ler deixou de ser obrigatório e passou a ser um prazer.

De Matemática, lembro do Leo. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida. Sofri um acidente e tive uma queimadura séria, quando estava na sexta série, e fiquei em recuperação por falta. O Leo me deu muito carinho e muito apoio. Ele me falava: “você está aqui só porque faltou; você é ótima aluna”. Nessa época, tive um professor de Biologia que era flamenguista doente. Ele descobriu que eu nadava pelo Flamengo e me chamava para subir no tablado, ele sempre falava: “como vai a minha campeã?”.

 

Você acha que o colégio teve alguma influência na sua escolha de profissão?

 

CC: Não. A minha família é toda de médicos e eu sempre quis ser médica. O colégio teve influências em outras coisas, por exemplo, a Literatura. Isso foi uma descoberta com o Andrews. Tenho lembranças bem nítidas até a terceira ou quarta série, depois que fui para a Praia, ficou um certo vácuo. Assistia as peças do TACA na Praia. A minha época era do Miguel Falabella e da Maria Padilha. Lamento não ter participado, eu tive aula de Teatro e não gostei, acho que pela minha timidez.

 

Tem algum fato curioso ou engraçado que ficou marcado?

 

CC: O dia das crianças ainda não era feriado decidimos que não deveríamos ter aula naquele dia. Descemos para o pátio e ficamos numa ciranda cantando cantigas de roda. Isso acho que foi na oitava série.

Na minha época saiu muita gente criativa, a maioria das pessoas trabalha com arte, muitos são jornalistas. Lembro do jornalzinho do Andrews, o colégio sempre permitiu essa criatividade. Na época da Visconde, época áurea da ditadura, lembro que havia um certo mal-estar que não entendíamos. Depois viemos a descobrir que no colégio tinha muitos filhos de exilados, o Andrews permitia. Outro fato que me lembro é que na época da novela Irmãos Coragem eu estudava com o Tarcisinho, e a Glória Menezes ia buscá-lo no colégio com um turbante e com uns óculos, super glamourosa. No terceiro ano, os meninos da minha turma queriam comprar um carro coletivamente. O pai de um deles era dono de uma clínica e eles compraram uma das ambulâncias. Era um grupo de sete a 10 meninos. A ambulância chegou na Visconde de Silva com a sirene ligada, eles foram para o pátio, pegaram alguém com uma espécie de maca e saíram. Foi muito engraçado.

 

Você sentiu muita diferença da sua época para a de seus filhos?

 

CC: Eu gostei muito de perceber que meus filhos no colégio tinham um nome. Quando as pessoas me ligavam, eu era a mãe do Caio e da Camila, não era o aluno da turma tal, o número tal.

 

E você acha que o ensino mudou muito?

 

CC: O Andrews tem o Horário Integral, o que para mim foi um divisor de águas. Por ser médica, eu tinha dificuldade de ter meus filhos estudando em um período escolar pequeno. A coordenadora era a Regina Andrews, eu confiava totalmente nela. O Integral me deu a sensação de ser o Andrews antigo. Eles tinham aula de manhã, mas à tarde tinha reforço do ensino, eles faziam as crianças gostarem de estudar. O Caio tinha dislexia, e a fonoaudióloga me avisou que ele poderia ter dificuldades na escrita. Quando ele foi alfabetizado, na parte da tarde as professoras ficavam diretamente com ele. Eu senti muito apoio delas.

 

Voltando um pouco, que faculdade você cursou?

 

CC: Fiz vestibular para Medicina. Entrei em 1982 para Petrópolis e depois fiz a Faculdade Gama Filho.

 

Qual a sua especialidade?

 

CC: Ginecologia e obstetrícia. No terceiro ano da faculdade de Medicina comecei a cursar Letras na UERJ. Não estudei muito para o vestibular porque não tinha tempo, mas mesmo assim consegui passar. O Andrews me deu uma base muito boa.

 

De uns tempos para cá muitos colégios fecharam. O que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

CC: Eu vejo muitos filhos de ex-alunos. O Andrews tem um bom ensino. Essa preocupação com os alunos persiste até hoje. A Verinha sempre manteve as portas abertas. O Andrews convoca muitas reuniões, dá apoio aos pais. O Andrews conseguiu acompanhar a modernização. Foi um dos primeiros colégios particulares a criar o Horário Integral e a Permanência, espaços de orientação de estudo.

 

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

CC: Foi imensa. Tenho um carinho enorme pelo colégio. O fato de ter estudado no Andrews nos colocou um crachá de boa pessoa, e isso nós guardamos para o resto da vida. Não é à toa que você consegue fazer amizade para o resto da vida. O colégio valorizava a amizade.

 

Muito obrigada, Cláudia, pelo seu depoimento.

 

 

 

 

 


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