Eduardo Álvares

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Eduardo Álvares

Rio de Janeiro, 6 de março de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

EA: Nasci no Rio de Janeiro, no bairro de Ipanema, em 1947.

 

Quem foram seus pais?

 

EA: Meu pai, Júlio Alberto Álvares, era desembargador. Minha mãe é Cida Álvares, escritora.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

EA: Comecei meus estudos num colégio chamado Cirandinha, que existia em Copacabana. Depois fui para o Chapeuzinho Vermelho, onde fiz todo o curso primário. Fiz dois anos no Colégio Santo Inácio e depois fui para o Andrews.

 

Em que ano você foi para o Colégio Andrews?

 

EA: 1958, no segundo ano ginasial. Eu não me adaptei muito bem ao Santo Inácio.  Apesar de ter muitos amigos lá, eu não gostava daquela disciplina muito rígida do colégio; era um colégio católico, você tinha que ter sido batizado, seus pais tinham que ser casados. Era um colégio extremamente rígido. Eu já tinha essa cabeça de artista e entrar no Andrews foi perfeito.

 

Você se lembra dessa época do ginásio, dos professores e dos colegas?

 

EA: Eu me lembro do professor Olavo, de Ciências, e do professor Osmar. Fui aluno do doutor Carlos, em História da Arte. A professora que me marcou muito foi a madame Jacobina. Como eu era um pouco disperso, no princípio tive uma relação difícil com ela, mas depois nós ficamos amigos. No final do ano, em vez de eu fazer prova final, eu dava um recital cantando músicas francesas.

 

Você participou do Cercle Dramatique Molière?

 

EA: Muito. Fizemos o L’oiseau bleu, de Maurice Maeterlinck, eu representava o fogo e cantava;  Le Bourgeois Gentilhomme, eu cantava canções de minuit. Ela me dava 10, ficava emocionada. Quando eu vinha cantar no Rio, ela estava sempre lá, de bengala, com a Sylvette.

Aprendi muito com ela. Quando estava morando fora do Brasil, o francês virou uma língua bastante presente, e quando eu fazia os papéis franceses minha pronúncia era sempre elogiada. Ela tinha uma admiração pela enorme cultura francesa e passava isso para os alunos.

Lembro-me também da Áurea e a Eva, professoras de Inglês, e do Mário Pires, que era um excelente professor de Latim e Português. Era um ex-seminarista que ficou muito amigo de meu pai depois que tive aulas particulares com ele. O Andrews me marcou muito, principalmente porque foi lá a primeira vez que subi em um palco. Eram recitais: cantando com o John Neschling, e, tocando piano, o João Carlos Assis Brasil. Nós éramos colegas de classe, era uma turma que tinha um lado artístico muito forte.Fiz um ano do curso científico, mas não gostei. Depois, fui fazer o clássico, onde o Mário Pires também foi meu professor, bem como o Garcia Rosa, em Filosofia. Depois nós mantivemos uma relação pessoal.

 

E de seus colegas, você se lembra?

 

EA: Além do John Neshling, que é maestro, e do João Carlos, tinha o Vítor Assis Brasil, que se casou com uma prima minha e morreu muito cedo; e o Maneco Sauer. Amigos que vejo bastante até hoje, como o Sebastião Lacerda, que foi meu compadre, e a Verinha Flexa Ribeiro, que é minha madrinha. Eu fiz uma vida social importante no Andrews.

 

Tem algum fato curioso ou engraçado que você se lembre dessa época?

 

EA: O Festival de Música. Nós tínhamos todo o apoio. Tínhamos o piano de cauda, o teatro, levamos para lá a Nara Leão. Eu também gostava muito de música popular.A coisa principal que eu me lembro do Andrews foi essa formação. As aulas do Andrews eram muito disciplinadas.  Tinha professores que nos formaram: o professor Moraes, de Português, o Antônio Carlos, de História. Eu adorava História. E não posso me esquecer do muito acusado Eremildo Viana. O Eremildo dava aula como se fosse um romance histórico, tipo Os reis malditos.  

 

Você acha que o colégio teve alguma influência na escolha da sua profissão?

 

EA: Pela escolha não, porque eu sempre quis fazer música. Mas teve uma influência marcante em mostrar que era possível. Eu tive a chance de me apresentar no teatro. O Andrews me deu essa facilidade.     

 

Depois do clássico você fez vestibular para alguma faculdade?

 

EA: Meu pai me forçou um pouco para fazer Direito. Fiz vestibular para a PUC, sem estudar nada, e passei em sexto lugar. Eu nunca fui um aluno muito estudioso, mas prestava muita atenção em aula. O Andrews me deu essa base.Cheguei a cursar dois anos. Um colega do meu pai, o desembargador Murta Ribeiro, falou para eu convencê-lo a sair do curso. Consegui convencê-lo a me sustentar por três anos na Europa, para fazer música. Se desse certo eu ficaria, se não, faria concurso para o Itamaraty. Mas acabou dando tudo certo e fiz minha carreira fora do Brasil.

 

Fale um pouco sobre sua carreira.

 

EA: Trabalhei em Roma, depois fui estudar em Viena e lá estreei. Trabalhei no mundo inteiro.

 

De uns tempos para cá muitos colégios fecharam. O que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

EA: Primeiro, acho que a tradição da família. O Andrews, apesar de ter fechado a Praia de Botafogo, o que me deixou muito triste, conseguiu manter o que já tinha. O Andrews foi sempre um colégio um pouco à frente da sua época, agora ele está na época.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

EA: Os três anos do curso clássico foram muito importantes para mim, me deram a visão clássica do mundo. Eu tive aula de Latim, de História, de Filosofia. Fui dar um curso na Casa do Saber sobre Wagner, e muitas coisas que falei sobre Espinoza, Nietzsche, Schopenhauer, eu aprendi nas aulas de Filosofia do Garcia Roza no Andrews. O Andrews é útil para mim até hoje. Lá, formei minha cidadania, principalmente nas aulas do Garcia Roza e da Eva, professora de Inglês. Discutíamos política em sala de aula. Eu fiz parte de uma turma especial, que tinha um nível intelectual muito bom, tinha filhos de diplomatas, com uma vivência humanística que eu precisei para a minha vida.

 

Muito obrigada, Eduardo, pelo seu depoimento.

 

 

 


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