Guilhermina Sette

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Guilhermina Sette

Rio de Janeiro, 12 de julho de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Quando e onde nasceu?

 

GS: Em 1919, no Rio de Janeiro.

 

E seus pais, quem eram?

 

GS: Francisco e Otelina, nascidos em Nova Friburgo/RJ.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

GS: Fiz o curso Primário na Escola Pública Sarmiento. Depois fiz o exame de Admissão em fevereiro, em segunda época, no Colégio Andrews, que era meu sonho, porque meus irmãos estudavam lá. Eu tinha um sonho de entrar para o Andrews, onde fiquei 54 anos. Saí após uma reunião com os professores. O Edgar Flexa assistiu e me deu os parabéns. Logo depois, eu disse que queria minha saída, como o Pelé fazendo o último gol. Ele disse: “é impossível”.  Saí dois meses depois.

 

Você entrou no Andrews na Admissão, você se lembra em que ano?

 

GS: Foi em 1933.

 

Como foram seus estudos no colégio, você se lembra de algum professor?

 

GS: Gostei muito dos meus professores. Teve o Penido, passei a gostar de Francês por causa dele; ele dava muita matéria, mas eu gostava do sistema dele. Tinha a Ruth. Gostava também da Margarida, que foi professora de Português no 2º ano ginasial.

 

Depois do Ginásio você fez o Clássico?

 

GS: Não, eu fiz o curso complementar de Direito, porque todos os meus amigos iam fazer Direito. Eu não queria ser advogada, mas fui fazer porque gostava do grupo.

 

Você fez na Faculdade Nacional de Direito?

 

GS: Fiz.

 

Quem te convidou para trabalhar no Colégio Andrews?

 

GS: Eu praticamente me convidei, porque fui ficando. Até que dona Alice Flexa Ribeiro um dia disse: “você vai ganhar dinheiro, porque você está trabalhando de graça e eu não quero isso”. Então eu ganhei cento e poucos réis, depois passou para duzentos e quarenta.

 

Como era o seu relacionamento com a dona Alice?

 

GS: Muito bom. Eu me relacionava muito bem com todo mundo do colégio, mas dona Alice dizia: “Otelina tem uma forma para os filhos, todos são iguais, estudiosos, obedientes”. Ela era uma pessoa maravilhosa.

 

Qual o setor do colégio que você começou a trabalhar?

 

GS: Eu fundei a orientação educacional na Praia de Botafogo.

 

Fale um pouco sobre essa época em que você criou a orientação educacional do colégio. Como funcionava o sistema do Andrews?

 

GS: Eu via quais eram os alunos que estavam com nota baixa e chamava os pais, ou, conforme a idade do aluno, falava com o próprio. Um dia a Mrs. Andrews falou: “isso que você faz se chama guide nos Estados Unidos, então você vai ser a nossa guide aqui”. Eu respondi: “não quero título, eu quero fazer”. A Mrs. Andrews achou engraçado, dona Alice também. Eu já nasci psicóloga, sabendo lidar com crianças, eu tinha oito irmãos.

 

Por que a dona Alice saiu do colégio?

 

GS: Dr. Carlos, que foi meu professor de História da Arte, não queria ficar só como professor. Dona Alice abriu mão e ele tornou-se diretor.

 

Conte um pouco sobre a época da direção do dr. Carlos. Como era o seu relacionamento com ele?

 

GS: Era muito bom. Eu tinha muito respeito, mas havia muita liberdade. Ele fez um curso para nos preparar, na casa dele.  

 

O seu trabalho na orientação educacional era encarregado de todas as turmas?

 

GS: Primeiro eu tinha todas as turmas, depois me deram só o Ginásio.  

 

E como foi seu trabalho na orientação do Ginásio?

 

GS: Conversava com os pais, com os alunos.

 

E a sua relação com os professores?

 

GS: Conversava também com os professores. Às quartas-feiras eu jantava com madame Jacobina, porque ensinava acordeom para a Sylvette, filha dela. Madame Jacobina cozinhava muito bem, fazia jantares muito bons. Todas os problemas com os alunos eu falava com ela nessa hora.

 

Você foi professora no Andrews?

 

GS: Fui professora de Latim. O meu professor tinha um método direto, ele botava o verbo e a gente repetia. Quando a inspetora federal foi assistir a minha aula, porque achou que eu era muito moça para dar aula de Latim, falei com o meu professor, Davi Peres, que ia usar o seu método, para a inspetora ficar de boca aberta. Eu ia falando com os alunos, e eles respondendo. A inspetora ficou tão impressionada que ao final do dia me convidou para trabalhar no escritório do marido dela. Eu agradeci, mas disse que era exclusiva do Colégio Andrews.

 

Você dava aulas para que turmas?

 

GS: Para o primeiro ano ginasial.

 

Fale um pouco sobre os cursos experimentais do Andrews.

 

GS: Foi uma experiência brilhante. Depois que acabou, ficamos com classes experimentais, porque os professores já estavam contratados, sabiam ensinar pelos novos métodos.

 

Como você montou a orientação educacional no Andrews?

 

GS: Fiz um curso no Isop (Instituto Superior de Orientação Pedagógica).

 

Como foi a época da direção do Edgar Azevedo?

 

GS: Foi uma época muito boa, porque eu era amiga dele, fomos colegas desde o primeiro ano ginasial.

 

Gostaria que você falasse mais desse seu período no colégio.

 

GS: Eu fui excelente aluna. Dei aulas particulares de Latim, Português, Matemática. Eu fazia daquelas aulas uma coisa boa, não tinha nenhum medo de não saber.  

 

Seus irmãos foram todos do Andrews. Alguns deles foram também professores?

 

GS: Artur foi professor de desenho.

 

Depois ele foi coordenador?

 

GS: Foi.

 

Quem coordenava o trabalho de orientação educacional?

 

GS:  Eu e a  Elsa.

 

E o Ari Sette, ele era seu primo?

 

GS: Era. Ele veio do Colégio Aldrich. Era muito severo.

 

Guilhermina, gostaria que você falasse um pouco sobre seus pais.

 

GS: Meu pai trabalhava no Ministério da Justiça. Minha mãe era professora. Nasceu em Friburgo e veio para o Rio fazer o Curso Normal. Ela adorava crianças, todos os alunos rebeldes iam para a sala dela.

 

Por que sua família escolheu colocar os filhos no Colégio
Andrews?

 

GS: Porque era um colégio de elite.

 

Fale um pouco sobre seus irmãos, quantos eram vocês?

 

GS: Nós éramos oito, três homens e cinco mulheres. Todos estudaram no Colégio Andrews.

 

Na época da guerra foram criados os cursos complementares. Você me disse que fez o curso complementar de Direito. Que outros cursos complementares havia?

 

GS: Direito, Engenharia e Medicina.

 

Como foi a saída da dona Alice do Andrews?

 

GS: Foi uma choradeira geral. Ficaram a Mrs. Andrews e o doutor Carlos na direção. Depois a Mrs. Andrews saiu, porque estava muito cansada.

 

 

 

Quando o doutor Carlos  foi para a Secretaria de Educação, quem entrou para a direção do Andrews foi o Edgar Azevedo?

 

GS: Foi. Eu fiquei trabalhando com ele. Dr. Carlos uma vez me disse: “eu só vou para a secretaria porque eu tenho o Edgar, tenho toda a confiança nele”.  

 

Com o crescimento da Visconde de Silva e da Praia de Botafogo, você acha que ficaram dois colégios independentes? Tinha algum problema entre eles?

 

GS: Não. No colégio nós resolvíamos os problemas, não criávamos.

 

Havia entrosamento entre as equipes da Praia e da Visconde?

 

GS: Sempre houve muito entrosamento.

 

A senhora acha que o colégio sempre manteve uma boa qualidade em relação ao seu corpo docente?

 

GS: Sempre. O Andrews sempre teve os melhores professores do Rio.

 

Eu soube que muitos professores do Colégio de Aplicação davam aula no Andrews.

 

GS: Tudo quanto era professor bom que tinha no Brasil dava aula lá.

 

Vamos falar um pouco como foi a época da direção do doutor Carlos no Andrews?

 

GS: Ele era muito bom. Ele foi meu professor, eu adorava. Era muito bom nosso relacionamento. 

 

O doutor Carlos mantinha um bom relacionamento com os professores?

 

GS: Ele tinha um bom relacionamento porque foi aluno de vários professores.

 

Como era o trabalho de vocês na orientação educacional, no SOE?

 

GS: Era bom, havia muita harmonia, trabalhávamos sempre de comum acordo.

 

Quando a senhora estava cursando a faculdade de Direito continuava a trabalhar no Andrews?

 

GS: Continuei. Até levei para o colégio professores da faculdade que eu achava bons. O Pena foi um deles.  

 

O Serviço de Orientação Educacional cresceu muito, não?

 

GS: Cresceu, foi o primeiro do Brasil. Depois os outros colégios foram tendo também. Nós continuamos como pioneiras.

 

Você tinha várias pessoas sob a sua orientação?

 

GS: Tinha. A Gilda foi minha aluna, depois foi trabalhar comigo. A Dauni, era minha secretária. A irmã dela era nossa professora de Inglês, Alda. Elas eram irmãs do professor Morais, de Português.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.


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