Iber Reis

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Iber Reis

Rio de Janeiro, 16 de julho de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

IR: Nasci no Rio de Janeiro no ano de 1937, por acaso, porque a minha família é goiana.

 

Quem foram seus pais?

 

IR: Meu pai era médico, atuou inclusive da Organização Mundial de Saúde. E minha mãe era do lar, como era costume naquela geração.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

IR: Como muitos goianos, eu era interno em um dos melhores colégios do país daquela época, o Instituto Lafayete. É o único colégio que conheço que possuía salas especiais para todas as matérias, não só de Física, Química e Desenho, mas também de História e Geografia.

 

Onde funcionava esse colégio?

 

IR: Na rua Hadock Lobo, onde hoje é a Fundação Bradesco. No Lafayete os professores não se retiravam das suas salas, os alunos é que mudavam de sala.

 

Você cursou lá até que série?

 

IR: Até o segundo ano Cientifico. No último ano fui trabalhar. Concluí o curso no Colégio Juruema, na Praia de Botafogo, que foi uma escola tradicional no Rio de Janeiro.

 

Você fez vestibular para qual faculdade?

 

IR: Naquele tempo ainda não era UERJ, era UDF, que depois se transformou em UEG e depois UERJ. Fiz meus dois cursos lá, o de História e o de Ciências Sociais.

 

Como foi sua época de faculdade?

 

IR: Meus professores eram positivistas, mas como meu pai era comunista, com a orientação dele eu conseguia aparar um pouco os exageros positivistas e fazer uma análise dialética das coisas. Tive ótimos professores, particularmente o Luis Carlos de Lima, de Contemporânea; Nei Cidade Palmeira, de Sociologia; J. B. de Melo e Souza, de História da América.

 

Quando você se formou em História?

 

IR: Em 1961, e Ciências Sociais em 1967.

 

Qual foi seu primeiro emprego como professor de História?

 

IR: Foi no Colégio Brasil, que funcionava na rua São Clemente, e depois tornou-se uma unidade do Colégio Princesa Isabel. Eu ainda estava na faculdade.

 

E depois?

 

IR: Depois eu fui para a Universidade Federal Fluminense, onde fiquei menos de dois anos porque veio o golpe militar de 1964. Como eu sempre fui do Partido Comunista, como meu pai, deram um jeito de me demitir.

 

Como você passou esse período do golpe, estava trabalhando em algum colégio?

 

IR: Foi muito mal porque nunca se tinha certeza das coisas. Por orientação do meu pai, fiz dois concursos para o estado, em 1964 e 1965. O que foi ótimo, porque as empresas particulares não iam tão bem.

 

Você foi ser professor da rede estadual?

 

IR: Fui. Tinha que responder inquérito, mas fui absolvido, até porque o partido não se metia com guerrilhas. Conservei meus empregos, hoje sou aposentado do estado.

 

Em que colégios você dava aula?

 

IR: No Colégio André Maurois, no tempo da Henriete Amado, foi uma experiência educacional maravilhosa, era uma elite cultural que frequentava aquele colégio. Mas o meu primeiro colégio do estado foi a escola Mendes de Morais, na Ilha do Governador. Era um tempo em que o ensino do estado funcionava bem.

 

Qual foi o seu primeiro contato com o Colégio Andrews?

 

IR: Foi quando um amigo meu retirou-se, Nilson de Morais, que hoje é professor visitante da Universidade de Varsóvia, e outro amigo me indicou, o João Paulo Câmara Chaves. Entrei com muito entusiasmo porque o Andrews era um viés que eu andava procurando. Um colégio laico capaz de competir com os colégios católicos.

 

Em que ano você entrou no Andrews?

 

IR: Em 1993.

 

RH: O que você fez de 1964 a 1993?

 

IR: Tive uma vida muita agitada. Trabalhei na Universidade Gama Filho até o AI-5, quando praticamente todo o departamento de história foi dispensado. Fui para a Fundação Getúlio Vargas, na EBAP, e lá também ocorreram momentos ruins, era a época do general Médici. Interrompi minha carreira universitária e ajudei a dirigir o Planetário da Gávea. Depois, terminei minha carreira universitária na faculdade de uma unidade do Pedro II, onde passei mais de 10 anos. No ensino secundário, o estado me traz boas recordações. Eu tive uma carreira muito bonita.

 

Você entrou no Andrews em 1993 para dar aula em que turmas?

 

IR: Sempre no terceiro ano, pré-vestibular. Por conta das dificuldades da época, muitos de nós da minha geração, por exemplo, Manuel Maurício de Albuquerque, José Luís Werneck, íamos nos refugiar nos cursos. Até porque os cursos pagavam muito melhor do que as faculdades particulares. Eu, então, acabei me especializando em pré-vestibular. Nos últimos anos dei cursos de extensão cultural. Foi uma grande oportunidade porque eram as minhas primeiras turmas de pós-graduação, todos eles eram pós-graduados. Em 2007 aconteceu algo maravilhoso, eu dei uma aula no CA, para alunos de seis anos, porque um professor foi na minha sala querendo passar um vídeo que não funcionou, então eu o ajudei a dar aula, toquei uma gaita.

 

Você chegou a dar aula na Praia de Botafogo?

 

IR: Eu dei aula na Praia de Botafogo e na Visconde Silva. Gostava muito do coordenador, Edgar Cabral de Menezes.

 

Você trabalhou também com o Arthur Sette?

 

IR: Sim. Ele era uma pessoa adorável. Nós, os professores, sempre saíamos do colégio para tomar uma cerveja. Havia um grande entrosamento entre os professores enquanto o Edgar era o coordenador e Arthur estava lá.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

IR: É um colégio laico, misto, de tradição, ele está situado num nicho.  Quais são os outros colégios laicos e de tradição que você tem no Rio de Janeiro? Atualmente eu não me lembro de nenhum.

 

Fale um pouco sobre esses cursos de extensão.

 

IR: Eu tive total autonomia da Direção do colégio. Dei uns 20 cursos. Meus últimos anos foram maravilhosos.

 

Quais foram esses cursos?

 

IR: Em 2007, o curso foi “os grandes compositores no contexto histórico”. No ano passado nós demos um curso em cima do século XXI, se bem que sempre começasse um pouco mais atrás, por exemplo, a atual questão do Oriente Médio nós examinamos várias vezes, eu tinha que começar lá atrás, Israel é filha do holocausto. Esse curso botava raízes atrás, no século XX, mas vinha até hoje na questão do Oriente Médio, na questão da América latina, o título dele era “Da Guerra Fria à globalização”. Tivemos cursos sobre a construção da civilização ocidental, onde nós estudávamos desde o final da Idade Média.

 

Qual era a média de alunos?

 

IR: Certamente, todos esses cursos tinham mais de 20 alunos, alguns alcançaram os 35. Teve um que passou dos 40 alunos, era um curso sobre as guerras mundiais. Foram 20 e poucos cursos, percorremos toda a história europeia, a história da América Latina, a história do Brasil, sempre de uma forma analítica, sempre com documentários, e com a memória sonora, eu sempre gostei muito disso. Foi esse fato de sempre usar a memória sonora dos diversos estágios da história que, esse ano, nos levou ao curso dos grandes compositores.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

IR: Estava dentro de um determinado nicho que eu estava de olho, que era um colégio laico, misto, uma empresa familiar, e com muita liberdade de transmissão de conteúdo. Isso não mudou no Andrews. Eu nunca vi nenhum tipo de restrição política e ideológica à transmissão de conteúdo. Foi um colégio bom para mim. Já tinha passado a época da repressão quando eu cheguei lá em 1993, mas mesmo assim eu gostei muito dessa característica do colégio.

 

Que mais você se lembra de fatos curiosos e engraçados da sua época de professor no Andrews?

 

IR: Eu me lembro que na Praia de Botafogo, de vez em quando o pessoal batia uma bola naquela quadra. Era muito gostoso, às vezes eram professores versus alunos. Havia um bom entrosamento.

 

Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar?

 

IR: Vou terminar dizendo que gosto muito do Andrews, tive anos muito felizes lá, principalmente esses últimos. Foi uma rara oportunidade para um velho mestre de escola como eu. Gostaria de acrescentar que, uma das grandes qualidades do Andrews é que, eu entrei em 1993, mas eu tinha notícias de colegas que tiveram lá na época mais braba, e o Andrews sempre protegeu os professores perseguidos pela ditadura.

 

Muito obrigada, professor, pelo seu depoimento.

 


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