João Geraldo Piquet Carneiro

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com João Geraldo Piquet Carneiro

Rio de Janeiro, 22 de junho de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Quando e onde você nasceu?

 

JGPC: Nasci no Rio de Janeiro, em Vila Isabel, no dia 2 de maio de 1942.

 

E quem foram seus pais?

 

JGPC: Meu pai era cearense, mas vivia no Rio desde os 20 anos de idade. Minha mãe, carioca, era de família de imigrantes espanhóis e austríacos.

 

Onde fez seus primeiros estudos?

 

JGPC: Fiz o primário na Escola Argentina, escola pública em Vila Isabel. Depois fui estudar no Colégio São Bento, onde fiquei só dois anos. Fui depois para o Colégio São José, externato, e dali fui para o Andrews.

 

Quando você entrou para o Andrews?

 

JGPC: Em 1955.

 

Em que série?

 

JGPC: No primeiro ano do curso Clássico, fiz o curso todo lá.

 

Por que você foi para o Andrews?

 

JGPC: Meus pais acharam que eu devia ter uma experiência num colégio misto. Foi assim que eu saí de Vila Isabel para estudar em Botafogo. O que acabou determinando, dois anos depois, que a família se mudasse para a Zona Sul.

 

Como se sentiu nos primeiros dias no Andrews?

 

JGPC: Eu nunca tinha frequentado a Zona Sul, era longe. O colégio era misto, e a primeira providência que tomei foi me apaixonar perdidamente pela minha companheira de banco. Foi uma mudança drástica na minha vida. De início, eu me sentia um pouco deslocado, porque era da Zona Norte. Levei um ano ou dois para me integrar, para me sentir à vontade.

O Colégio Andrews era uma escola moderna, mista, para quem vinha da Zona Norte era uma abertura. A família se mudou para acompanhar o filho que foi estudar num colégio da Zona Sul.

 

Quais foram os professores que mais se destacaram para você no curso Clássico?

 

JGPC: O professor mais impressionante que tive foi o de Português, que era o Matoso Câmara, um dos grandes filólogos da língua portuguesa. A outra que me impressionou muitíssimo, estupenda professora, era a Madame Jacobina; ela tinha um especial carinho por mim. Ela me ensinou a pronúncia correta de meu nome na França. Ela me chamava de monsieur Piquet. Teve o Omar, muito bom professor de Latim, que morava na Tijuca e me dava carona.

 

Você acha que o colégio influenciou a escolha de sua profissão?

 

JGPC: Quando fui para o Andrews, já estava querendo fazer o Clássico justamente porque pretendia ser advogado. Claro que meu pai, que era advogado, sempre colaborou para que eu fizesse isso.

 

Você tem contato com seus colegas do Andrews?

 

JGPC: Pouquíssimo, à exceção de um que casou com minha irmã, Celso Vinhas, que é advogado e hoje mora em São Paulo. Eu perdi quase todo o contato com aquela turma. É também verdade que desde 1983 estou morando em Brasília.

 

Teve algum fato que ficou marcado para você daquela época de colégio?

 

JGPC: Na verdade, ali foi a primeira e única experiência que tive de política estudantil. Era uma época quente da política, governo Juscelino, a UNE era na Praia do Flamengo, e eu acabei representante do Colégio Andrews, com mais dois colegas, no congresso da AMES – Associação Metropolitana do Ensino Secundário. O Andrews, os colégios de freiras e outros se uniram para derrotar o candidato situacionista da época. O universo era tão pequeno no Rio que isso saía no jornal, eu dei entrevista.

 

Quando você fez vestibular?

 

JGPC: Em 1958. Fiquei no Andrews nos anos de 1955, 1956 e 1957. Passei no vestibular tanto para a Faculdade Nacional de Direito quanto para a UERJ, e acabei ficando na Nacional.

 

Você destacaria alguma diferença da orientação pedagógica ou educacional do Andrews?

 

JGPC: Para mim, a maior diferença foi no padrão de relacionamento entre professor e aluno, 90% dos meus professores anteriores eram padres. O Andrews foi para mim a possibilidade de um mundo novo, fora daquela coisa estrita, muito limitada de ensino. O padrão de relação era totalmente diferente, não que não houvesse disciplina, mas havia mais possibilidade de falar, de conversar, a turma era pequena.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam. O que você acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

JGPC: Muitos desses colégios tiveram problemas de sucessão. No caso do Andrews, a família Flexa Ribeiro teve a sapiência de fazer a transição. O Carlos Flexa abriu um espaço, o Edgar ocupou, agora já estamos na terceira geração Flexa. Isso assegura a continuidade. São pessoas vocacionadas, vejo o que a Ana Carolina faz pelo colégio e o Pedro Augusto também. São pessoas que se prepararam, que desde o início orientaram sua formação profissional e acadêmica para servir ao colégio. Isso que assegurou chegar aos 90 anos.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

JGPC: Foi decisiva, porque foi uma mudança tão radical de vida que implicou a minha mudança e da minha família. O colégio foi uma inflexão, não só pessoal, mas familiar, a família mudar de uma coisa bem provinciana que era Vila Isabel para o Flamengo.

 

Seus filhos estudaram no Andrews?

 

JGPC: O Ricardo e a Carolina começaram a estudar no Andrews, e quando um tinha 11 e a outra oito, foram para Brasília. A Joana nunca estudou.

 

Queria que fizesse um resumo de sua carreira. Qual foi seu primeiro emprego depois da faculdade?

 

JGPC: Logo depois da faculdade, eu fui fazer mestrado no exterior, estimulado por meu pai. Fiquei dois anos fora, um ano na New York University, no curso de mestrado, depois um ano fazendo estágio num escritório de advocacia. Quando voltei, fui convidado para ser sócio de um escritório muito grande.


Quanto tempo você ficou na PUC?

 

JGPC: Três ou quatro anos. Dei aula na PUC e depois na Fundação Getúlio Vargas. Participei do movimento da reforma do ensino jurídico. Isso foi até 1979, quando o Hélio Beltrão me convidou para ajudá-lo na criação no Ministério da Desburocratização. Isso provocou minha outra inflexão. Minha primeira inflexão foi mudar de Vila Isabel para o Flamengo, a segunda foi sair do Rio para morar dois anos em Nova York, e a terceira foi morar em Brasília.

 

Onde você está trabalhando hoje?

 

JGPC: Hoje tenho um escritório de advocacia. Tive seis anos de governo, na desburocratização, depois cinco anos como presidente da Comissão de Ética Pública da presidência da República. Sempre vesti duas camisas, uma de advogado e outra de funcionário público. Foi uma experiência fantástica. No fundo, o que eu faço hoje é um somatório de tudo isso.

 

Muito obrigado pelo seu depoimento.



 


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