Jorge Eduardo Alves de Souza

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Jorge Eduardo Alves de Souza

Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Vamos começar falando um pouco sobre o seu pai.

 

JEAS: Meu pai nasceu no Pará. O meu avô era muito ligado à família da dona Alice Flexa Ribeiro. Dona Alice era madrinha de meu pai. As famílias Flexa Ribeiro e Alves de Souza eram quase irmãs. Desde criança eu me lembro que nós chamávamos a dona Alice de vovó Alicinha. Ela era realmente uma pessoa fantástica, maravilhosa, tinha uma personalidade sólida.

 

Quando e onde você nasceu?

 

JEAS: Nasci no Rio de Janeiro no dia 8 de agosto de 1936. Em 1941 eu já estava no Jardim de Infância do Colégio Andrews. Morávamos no Leblon e pegávamos o bonde na porta do colégio. Depois passamos a ir de ônibus.

 

O que você se lembra desses primeiros tempos no colégio?

 

JEAS: O colégio era bem dividido entre o Primário, o Ginásio e o Científico, ao qual almejávamos um dia chegar. Do Primário para o Ginásio a grande promoção era passar da calça curta, que era o uniforme, para a calça comprida.

 

E de seus professores, você se lembra?

 

JEAS: Lembro-me bem da Mrs. Edna, professora do Primário ou do Jardim de Infância. Ela tinha um filho chamado Sidney que estudava na minha turma. O Carlos Hebert, filho do professor Hebert, foi meu colega desde o primeiro ano primário até a faculdade de Arquitetura Tinha uma professora que era brava, a dona Beatriz, do segundo ou terceiro ano primário. A professora do quinto ano primário era a dona Juraci. Tenho uma boa recordação dela. Quando cheguei ao terceiro ano ginasial, fiquei em segunda época. Passei em Matemática e fui reprovado em História. Lá em casa havia uma determinação de que quem fosse reprovado ia para o colégio interno, isso era motivo de grande pavor. Eu entrei em pânico. Anos depois, soube que o Carlos Flexa, que era padrinho de meu irmão, tinha conversado com meus pais e dito que o melhor castigo para mim era repetir o ano no mesmo colégio, vendo os colegas um ano à frente. E assim foi, eu repeti o terceiro ano no Andrews, e fiz toda a minha educação lá.

Terminei o Ginásio, fiz o Científico e de lá fui para a faculdade de Arquitetura.

 

Fale um pouco dos seus professores do Ginásio, você foi aluno do Maia?

 

JEAS: Sim. Fui aluno do Ataíde, que era professor de Geografia; do professor Ciro, que era irmão da Maria Helena. No Ginásio tinha o professor Assis, de Matemática; o Gouveia, que dava aula de Português e Latim. No Ginásio também me lembro de ter tido um professor de Latim que se chamava Leodegário Amarante de Azevedo Filho. Fui aluno do professor Lister, de Desenho, eu gostava muito, desenhava aviões e automóveis.

 

E de seus colegas, você se lembra?

 

JEAS: O tempo faz com que a gente se afaste de uma forma ou de outra. Outro dia encontrei um colega de primário, Sergio Pelicione. O Márcio Tomasini foi meu colega desde o primário até a faculdade de arquitetura. O Mário Silva, filho de Enéias Silva, arquiteto sócio de meu pai. Tinha as namoradas, outro dia fui ao aniversário da Neli Azevedo que tinha sido minha namorada lá pelos idos de 1954. Tinha os amigos de unha e carne, um deles era o Carlos Herbert; ele foi atropelado e morto há uns anos atrás, mas o irmão, o Roberto, que era dois anos mais novo, continua meu amigo até hoje.

 

Você se lembra de algum fato engraçado ou curioso daquela época?

 

JEAS: As salas de aula em cima do prédio tinham toldos, por causa do sol. O toldo ficava fechado, mas acumulava água da chuva, e a brincadeira era abrir o toldo para a água cair no pessoal que estava em baixo. No meu tempo de Ginásio, a turma fazia muita bagunça e houve uma época que a turma toda foi punida com um castigo de ficar uma semana sem tirar o paletó do uniforme (o uniforme era uma calça, uma camisa branca e um detestável paletó). Durante a aula era um calor infernal porque não tinha ventilador. Ao longo da semana tinha aula de Educação Física, nós combinamos de não tirar o paletó. O Edgar Azevedo, que era o Diretor, passou para a turma outro castigo que era fazer conta de subtrair. Essa conta de subtrair era um dos castigos tradicionais que fazíamos na sala 11. Era o seguinte, eles nos davam um número, por exemplo, 32500 para subtrair 325; se você for subtraindo sucessivamente de 325, ao cabo de 100 operações se chega ao número zero. Ninguém chegava, aí tínhamos que fazer de novo. Alguns gênios da matemática descobriram fórmulas de calcular os números intermediários, de 10 em 10, e em vez de subtrair, a gente somava. Mas esse dia foi uma conta de 500, e ninguém conseguiu fazer.

Tinha umas molecagens assim, uma delas era na hora da formatura antes de subir para as salas, ficávamos fazendo um zumbido. O Mota Paes, que ficava olhando as turmas, não conseguia ver quem fazia isso ou não. Era uma coisa irritante.

 

E de seus professores do Científico, quem ficou marcado para você?

 

JEAS: O Hebert, de Física. O Gildásio Amado, de Química, no primeiro ano. Um dia fiz a caricatura dele na mesa com giz, ele olhou e perguntou quem fez. Levantei o dedo, timidamente, e ele disse: “parabéns, está muito bom”. Foi um alívio.

 

Você acha que o colégio teve alguma influência na escolha de sua profissão?

 

JEAS: Não. Eu fui influenciado pelo meu pai.

 

Você fez arquitetura em que faculdade?

 

JEAS: Na Nacional.

 

Em que época?

 

JEAS: Foi de 1956 a 1961. Em 1958, meu pai conseguiu um pequeno auxílio da Capes e fui fazer uma pesquisa sobre o ministério da reconstrução francês. Na ocasião, os franceses tinham desenvolvido técnicas de pré-fabricação na construção civil para habitações. Mas eu gostava mesmo era do Louvre, dos museus, de fazer as minhas aquarelas, eu ia meio a contragosto visitar esses canteiros de obras e os arquitetos envolvidos.

 

Você chegou a trabalhar como arquiteto?

 

JEAS: Eu me formei e trabalhei um tempo com meu pai. Um belo dia resolvi parar e trabalhar em publicidade desenhando. 

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

JEAS: Foi importante, isso é indiscutível. Não só no sentido da liberdade, era um colégio liberal, com toda necessidade de disciplina e de métodos. E com excelentes professores. Eu não posso me queixar de quase nenhum, tinha um leque muito grande de personalidades. Mas sempre um colégio muito atualizado. Eu me sentia um pouco por dentro do colégio por conta de toda essa aproximação da minha família com a família Flexa.

 

Seus filhos estudaram no Andrews?

 

JEAS: Os três estudaram lá. A Adriana, mais velha, fez todo o curso no Andrews.

 

Você sentiu alguma diferença da época que você estudou para a época dos seus filhos?

 

JEAS: Não. Talvez possa ter havido uma diferença no sentido do progresso do ponto de vista pedagógico.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam. O que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

JEAS: Acho que é a família Flexa Ribeiro. É uma empresa de ensino, familiar, muito bem-sucedida.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

JEAS: Eu me lembro até do hino do colégio:

“Alunos do Andrews avante, avante, avante,

Alunos do Andrews avante, perlustremos com louvor.”

A única coisa que eu me queixava era que o colégio não tinha uma piscina. Eu me lembro de uma festa, acho que dos 70 anos, na Praia de Botafogo, foi uma das coisas mais sensacionais que eu vivi. Vamos ver como vai ser a comemoração dos 90.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.


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