Luzia Trompieri

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Luzia Trompieri

Rio de Janeiro, 4 de setembro de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

LT: Nasci no Rio de Janeiro em 1932.

 

Quem eram seus pais?

 

LT: Temístocles Roberto da Silva, militar, e Olga Fonseca Roberto da Silva, dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

LT: No colégio particular Curso São José e na escola pública Evangelina Duarte Batista, em Marechal Hermes, onde depois fui trabalhar. Eu passei para o Colégio Pedro II, mas meu pai era muito rígido e como era colégio misto ele não me deixou ir para lá. Eu fui para o Instituto de Educação porque só tinha mulher. Mas, ele não sabia que tinham também seis rapazes. Eu namorei um deles e me casei com ele.

 

Em que ano você foi para o Instituto de Educação?

 

LT: Em 1945 e me formei em 1951. Depois que me formei fui trabalhar em escola pública. Eu adorava crianças. Para mim era um sonho dourado trabalhar com crianças. Eu me casei logo depois. Quando nós fomos morar com meus pais, eu resolvi fazer faculdade. Fiz Biologia e fui convidada para trabalhar no Instituto de Educação, como assistente do professor de Biologia.

 

Você fez a Faculdade Nacional de Filosofia?

 

LT: Fiz. Foi bom por um ponto porque eu ia trabalhar menos que professora primária e tinha mais tempo para ficar com as crianças.

 

Em que época era isso?

 

LT: Em 1956/57. Eu trabalhei em escola primária durante pouco tempo, apesar de adorar crianças. Mas essa oferta que tive atendia melhor a minha vida particular. Para mim foi uma surpresa muito grande porque fui trabalhar com adolescente e me adaptei muito bem, gostei. De biologia eu fui me especializar em puericultura. Depois surgiu o curso de orientação educacional na Fundação Getúlio Vargas.

 

Em que setor da fundação funcionava esse curso?

 

LT: Na cidade, no edifício do INEP. Era um curso muito interessante, muito bom. Eu engravidei da minha terceira filha nessa época. Eu gostei demais do curso porque atendia tudo o que eu queria, via a orientação com um enfoque novo e diferente.

 

Como foi o seu primeiro contato com o Colégio Andrews?

 

LT: Quando me formei, alguém me indicou e fui fazer uma entrevista com o Edgar Azevedo. Eu fui aceita e fui trabalhar com uma equipe, que é o tipo de equipe com a qual você sonha.

 

Você foi trabalhar com a Guilhermina?

 

LT: A equipe era: Guilhermina, Jorge Oliveira, Jorge Miguel, Osmar, Ari Sette. Todos me receberam de braços abertos. É lógico que alguns me olhavam com uma interrogação. Eles tinham alguma razão, porque não éramos professoras mas íamos às turmas, não dávamos nota mas participávamos dos conselhos de classe; era uma novidade. Os próprios alunos sentiam isso. O mais importante era que eu acreditava muito no que estava fazendo. Acho que isso faz com que os outros acabem acreditando. Alguns professores e coordenadores que estavam recebendo orientação, mas que ficavam meio na dúvida, acabaram mesmo apostando naquele serviço do Andrews.

 

Quais turmas você pegou?

 

LT: Logo que cheguei eu peguei a oitava série. Era uma oitava experimental, com alunos bem mais crescidos. Depois peguei a sétima, e fiquei com esse rodízio: quinta, sexta, sétima e oitava. O meu trabalho no Andrews foi muito gratificante. Eu me realizei profissionalmente.

 

Como era o seu relacionamento com seus colegas do Andrews?

 

LT: Excelente. Cabia à orientação educacional, pelo que nós estudamos, visitar as salas e participar das aulas. Mas não se pode fazer isso sem o consentimento do professor. Eu procurava me aproximar querendo conquistar, e falava com eles: “um dia quero que você me convide”. Começaram então a me convidar. Quando um convida, os outros também convidam. Até a madame Jacobina, que era uma pessoa muito criteriosa e muito à moda antiga, um dia me convidou. Eu que fiquei nervosa nesse dia. A minha função ao assistir a aula era exclusivamente observar a atitude dos alunos. Era um trabalho difícil porque eu não dava aula, mas tinha que observar o aluno em sala de aula, no recreio, com os colegas. Com isso, eu colhia muita coisa para ajudar os professores no conselho de classe.

 

Quais professores dessa época que você se lembra?

 

LT: Lisete, madame Jacobina, professor Arditti, professor Maia. No conselho de classe, às vezes, acontecia algo muito interessante. Eu opinava e o professor tinha outra opinião. Por exemplo, eu me lembro de uma vez que eu achei que um aluno deveria ser reprovado pelas atitudes dele, pela dificuldade que ele tinha de continuar. Mas o pessoal achou que não. Eles aprovaram o aluno e eu fui voto vencido. No ano seguinte, no primeiro bimestre, esse aluno deu um fracasso porque ele não estava com base. Já outras vezes eu dizia: “esse eu acho que vale a pena passar”. No final, os professores entendiam muito bem a minha orientação.

 

Quem era a equipe do SOE?

 

LT: Aluísio, que chefiava, Guilhermina e eu. Depois chegou a Talita para a parte pedagógica. Ela lidava mais com os professores, quase não ficava com os alunos. Eu ficava muito com os alunos e os professores. O Jorge Oliveira era o coordenador. Primeiro era o Osmar que saiu. Tinha o Jorge Miguel nas outras séries. A Chulamis trabalhou depois em outras séries. Nós ficávamos cada uma com duas séries. Vanilda também trabalhou comigo. Foi muito bom trabalho.

 

E Marion Penna, você trabalhou com ela?

 

LT: Marion trabalhava com o segundo grau. Mas ela ajudou com um trabalho de psicologia com o pessoal do primeiro grau, aplicando testes vocacionais. Ela aplicava alguns e eu aplicava outros. Havia uma integração. Era muito bom porque não havia rivalidade, havia uma colaboração muito grande. Acho que tudo isso faz parte da direção. Quando a direção atua nesse sentido, todo mundo segue.

 

Quanto tempo você trabalhou no Andrews?

 

LT: 26 anos.

 

Você pegou diferentes direções no colégio, você viu alguma mudança nos rumos do colégio?

 

LT: Não. A equipe de trabalho do dia a dia continuava a mesma.

 

E fases diferentes no colégio você percebeu?

 

LT: No primeiro período a rigidez da disciplina era muito grande. Apesar de ser disciplinada, eu não sou muito exigente. Parte da disciplina rígida me contrariava um pouco, mas acabava às vezes cedendo. E às vezes o professor Aluísio cedia também. Aos poucos a escola foi mudando. Eu me lembro que cabelo comprido para menino não podia, meia que não fosse cinza não podia. Depois as coisas foram mudando. Até o modo de me chamar que, no início, era professora Luzia, no fim era só Luzia. Isso era mais próximo de nós. Aos poucos, começou a não se fazer a exigência com as meias, não fazer a exigência com o uso do uniforme super arrumado, foi maleando um bocado, foi ficando uma fase bem moderna. Hoje está uma beleza.

 

Você achava que existiam duas escolas diferentes, a Praia e a Visconde?

 

LT: Acho que alguns professores da Visconde de Silva tinham uma maneira disciplinar talvez já mais moderna e o nosso trabalho na Praia era um pouco mais antigo. Eu me dava muito com eles. Eu me dava muito com o Rogério da Visconde de Silva.

 

Você tinha relacionamento com o pessoal da Visconde de Silva?

 

LT: Tinha particular e profissionalmente quando eles iam lá.

 

Em que ano você saiu do Andrews?

 

LT: Em 1989. Saí porque ia começar com o consultório e a minha neta ia nascer. Eu queria ser avó exclusivamente.

 

E você continua trabalhando?

 

LT: Eu faço palestras e atendimento a pais.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

LT: Acho que ele tem algo muito superior. Ele tem uma capacidade de atender os jovens e os mais velhos, como os professores mais antigos. E a capacidade que tem de atender aos jovens sem alterá-los e sem eliminar o professor antigo. Por exemplo, o professor Aluísio, de 92 anos, ainda trabalha lá e é bem aceito, porque o colégio tem uma maneira especial de receber. Os colégios que fecharam não têm esse carisma. Qual é o colégio que aceitaria ter uma pessoa dessa idade com essa abertura que o Andrews dá?

 

Com a nova geração que assumindo a direção, com a reunião de toda a escola na Visconde de Silva, você acha que houve mudanças nos rumos do colégio?

 

LT: Pelo que conheci do Pedro Augusto, que foi meu aluno na orientação, acho que ele é capaz de fazer um bom trabalho. Ele me parecia ser uma pessoa muito segura.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

LT: Foi uma importância tão grande. Eu me senti tão realizada profissionalmente. Eu acabei de me formar em orientação e logo fui chamada para trabalhar num colégio como o Andrews. O Andrews para mim era o impensável. Quando fui convidada e aceitei eu me realizei profissionalmente. Foi muito bonito. Eu só fui fazer fonoaudiologia depois porque achei que isso ia me ajudar na orientação.

 

Você estudou fonoaudiologia onde?

 

LT: Na Estácio de Sá. Depois fiz pós-graduação em neurofisiologia ligada a fonoaudiologia, mas não pude trabalhar muito tempo com isso. Tive uma queda, fiquei surda e tive que colocar aparelho de ouvido. Com isso, não dá, mas para trabalhar com criança. Fiquei só com as palestras e fechei o consultório.

 

Você gostaria de acrescentar alguma coisa?

 

LT: Eu gostaria que o Andrews chegasse aos 100, aos 150 anos, porque do jeito que ele foi para mim, ele vai ser para muita gente.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 


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