Marion Penna

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Marion Penna

Rio de Janeiro, 28 de agosto de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

MP: Nasci no Rio de Janeiro, em 1932, na casa dos meus avós, no meio de uma festa junina. Chamaram a parteira e foi tudo bem. Fui uma filha muito desejada porque minha mãe teve uma doença e o obstetra disse para ela que se ela engravidasse estaria curada. Então, eu ia ser o sinal da saúde da minha mãe.

 

Quem eram seus pais?

 

MP: Meu pai foi aluno da Escola de Belas Artes. Era de uma família numerosa, tinha oito irmãos. Ele ganhou o prêmio de viagem da Escola de Belas Artes. Ele se dedicou à gravura. Foi gravador da Casa da Moeda. Ele fazia a matriz em aço para o nosso papel moeda que ia ser impresso em Londres. Ele era um homem muito rígido eticamente, muito conservador e dava lições para nós, de moral e ética.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

MP: Em casa, com meu pai. Eu não fiz colégio primário porque me alfabetizei muito cedo, com cinco anos. Com 10 anos fui para o Colégio Paes e Souza fazer um cursinho de preparação para prestar o concurso de admissão no Instituto de Educação. Passei no concurso, mas não tinha idade. Meu pai teve que impetrar um mandato de segurança para eu poder entrar para a escola. Eu fiz lá o ginásio e o curso normal.

 

Quando você se formou?

 

MP: Em 1950. Naquela época o diploma do curso normal não dava direito de prestar concurso para medicina, que era o que eu queria. Eu resolvi fazer quatro anos de pedagogia na UDF para ter um título universitário. Enquanto isso eu me prepararia para o vestibular de medicina. Mas nesse intervalo, eu me casei com meu primeiro marido. Depois me separei, anulei o casamento no civil e no religioso. Eu conheci o Penna na faculdade UDF. Ele foi meu professor lá. Depois ele me convidou para trabalhar no Colégio Andrews, onde ele já trabalhava. Isso foi em 1958.

 

Você foi contratada para dar aula de que?

 

MP: Fui para dar aula de Filosofia no curso Clássico. Na primeira turma que peguei, fui professora do Sebastião Lacerda, do Ari Coslov, do Renato Machado. Era uma turma brilhante, muito questionadora. Em 1959, coincidiu de eu e o Penna termos os mesmos horários no Colégio Andrews. O Colégio Andrews tem um significado muito especial para mim. Foi lá que o Penna me pediu em casamento. Nós trabalhávamos simultaneamente no Andrews e no Instituto de Educação. O Doutor Carlos era muito ligado em arte. Ele era professor de História da Arte. Isso me fascinava porque eu fui educada em um ambiente de arte. Meu pai me levava para ver exposições. Isso criou uma sintonia muito grande entre eu e o Doutor Carlos e com o ambiente do colégio. Eu casei com o Penna nesse ano de 1959. A Guilhermina e os professores do Andrews participaram dessa nossa história de amor.

 

Como foi seu relacionamento com os professores no Andrews?

 

MP: Muito bom.

 

Você se lembra dos colegas?

 

MP: Lembro-me da Áurea, que dava aula de Inglês, era uma simpatia. Me lembro de um professor de Matemática que tinha o apelido de caverinha, era esquelético. Lembro muito da madame Jacobina. Como eu sou de descendência francesa, falava francês muito bem. Ela gostava muito de mim porque nós ficávamos conversando em francês no intervalo das aulas.

 

Você chegou a conhecer o professor Maia de Ciências?

 

MP: Conheci. Tinha o Hebert, de Física, que foi um precursor do motoqueiro. Ele ia de óculos e motocicleta para o colégio. Quase todos os professores do colégio eram professores universitários.

 

Você pegou as classes experimentais no Andrews?

 

MP: Sim. Foi quando fui professora da filha do Lacerda, a Maria Cristina. Essas classes experimentais foram uma grande mudança, um currículo revolucionário, porque o Dr. Carlos introduziu aulas de História da Arte. Os colégios, de uma maneira geral, com essa nova regulamentação ficaram com muito mais liberdade de montar seu próprio currículo. Então, o Dr. Carlos teve uma ação muito eficaz, deu um enfoque muito humanista no curso Clássico e um caráter mais científico no curso Científico. Acho que as classes experimentais tiveram um papel muito importante. Foi um grupo experimental. Nessa época, eu tinha ido à França e, a convite do Doutor Carlos, fui fazer uma visita e fiquei cursando um estágio no instituto de Ségres. Quando voltei, eu deixei de dar aulas e montei um laboratório de psicologia escolar no Andrews com a Guilhermina.

 

Quando foi isso?

 

MP: Em 1962 ou 1963. Tinha o SOE e o Laboratório de Psicologia Escolar – LPE. A Guilhermina, como sempre, foi uma pessoa muito inteligente, muito inovadora. Ela fazia uma aplicação de testes vocacionais para os alunos que estavam terminando o ginásio. Mas ela não tinha habilitação para fazer aquilo, já que ela era formada em Direito. Exatamente por isso o Doutor Carlos teve a ideia de montar o laboratório de psicologia escolar. Eu trabalhava no laboratório e como eu já era professora da UFRJ, assistente do Penna, eu levava estagiárias do curso de Psicologia que tinha sido montado em 1964 para estagiar em psicologia escolar. No Andrews, nós fazíamos uma avaliação com os alunos que tinham dificuldades de aprendizagem, maus resultados escolares e dificuldades de comportamento. Fazíamos testes de personalidade e depois fazíamos uma orientação dentro do próprio colégio. Foi uma experiência muito boa, inovadora do Doutor Carlos. Mas ele se afastou do Andrews e eu também passei a me dedicar mais à minha vida acadêmica e acabei pedindo para sair do colégio. O LPE existiu de 1963/64 até 1970. Quando saí, em 1970, deixei uma moça fazendo o trabalho. Mas não teve continuidade. A partir daí eu desenvolvi mais a minha vida acadêmica e passei a trabalhar mais como psicóloga clínica. Fiz formação em Psicologia clínica e em Psicanálise e comecei trabalhar em consultório. Não trabalhei mais em colégio. Mas foi uma experiência muito enriquecedora para mim.

 

Você viu fases diferentes no colégio nesse período em que trabalhou?

 

MP: Acho que quando o Doutor Carlos saiu mudou um pouco. O que marcava o Colégio Andrews como diferencial era sua filosofia de educação. Era uma escola que tinha uma proposta de realmente dar aos adolescentes uma formação humanista. Quando o Edgard Azevedo entrou, o colégio mudou um pouco de orientação, perdeu um pouco esse lado humanista; continuou sendo uma escola com fins, com uma boa filosofia de educação. Quando o Doutor Carlos introduziu a cadeira de História da Arte, ele trouxe também a cadeira de Artes Plásticas. Havia uma professora de Artes Plásticas fantástica. Ela dava aula de xilogravura, cerâmica. Tinha também uma ênfase muito grande em línguas. Os alunos saiam muito bem preparados em Francês e Inglês. Isso dava um diferencial ao colégio na época. Não era algo complementar, era essencial. Tinha um teatro, o TACA.

 

Quem era do TACA na sua época?

 

MP: Eu participei do TACA. Eu orientava um pouco o aluno que ia interpretar. Alguns eram meio tímidos e eu tentava fazê-los se sentirem mais seguros na hora de apresentar. Nós introduzimos umas palestras sobre sexualidade e relação entre jovens feitas pelo professor Cataldo, de biologia, que era médico endocrinologista. Era uma época de revolução cultural, da pílula, da mini saia etc. Foi muito interessante. Os alunos faziam perguntas livremente, tais como: “o tamanho do pênis tem alguma coisa com o prazer?” Ele era narigudo e respondia: “eu não tenho um olfato melhor porque eu tenho um nariz maior”.

         Foi uma época de muita mudança. Havia também um cine clube no colégio, mas acho que não vingou.

 

Era da sua época os sábados culturais nos quais o Jacques Klein tocava piano lá?

 

MP: Não me lembro disso. Eu me lembro das festas do dia do mestre, que eram muito gostosas. Essa tradição foi mantida pelos filhos. E há uma associação de ex-alunos que sempre me convidava.

 

Você mantém ainda contato com seus colegas do Andrews?

 

MP: Com a Guilhermina, com a Luzia, que foi orientadora educacional e minha colega de turma do Instituto de Educação. Com o Garcia Roza, que é como se fosse filho do Penna.

 

Você deu aula de Filosofia no Andrews?

 

MP:  Comecei dando aula de Filosofia. Eu só passei a dar Psicologia depois das classes experimentais. Eu tive uma vivência muito boa e a imagem do Colégio Andrews que ficou para mim é de uma instituição maravilhosa.

 

Qual foi a importância do Andrews em sua vida?

 

MP: O mais importante foi o Penna ter me levado para lá, ter me pedido em casamento no colégio, e o Andrews ter nos dado uma cobertura muito grande. Naquela época, uma mulher desquitada era marginal para a sociedade. E o colégio me deu uma acolhida muito grande, que marcou muito a minha vida.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

MP: Acho que é exatamente o fato de ter uma filosofia de educação determinada com fins que não mudaram. O fim era formar jovens para se inserirem na sociedade, quer nos anos 60, 70, 80, 90 ou 2000. Eles mantiveram uma filosofia de educação. Não só o fato de o colégio ter uma filosofia de educação, mas ter se mantido com uma família em que se preservou o colégio. O Edgar, Carlos Roberto, a Verinha, eles mantiveram aquela filosofia do colégio. O colégio até cresceu. O ensino primário e pré-primário se desenvolveu muito depois. Acho que é muito em função do espírito do colégio, desde os tempos da Dona Alice, Doutor Carlos, seus filhos mantiveram aquela chama acesa. Eu tenho muito cliente ex-aluno ou aluno do Andrews. E todos têm uma fascinação pelo colégio. Todos os ex-alunos do Andrews que eu recebo como paciente no meu consultório têm um apego muito grande ao colégio.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 


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