Regina Alves de Braga

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Regina Alves de Braga/Professora

Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

RB: No dia 16 de novembro de 1929 no Rio de Janeiro. Há um fato muito interessante no meu nascimento. Nós somos cinco irmãos, sendo que três nasceram no mesmo dia.

 

Quem foram seus pais?

 

RB: Antônio Alves Braga, vendedor, e Adelaide Alves Braga, dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

RB: Fiz o primário na Escola José de Alencar hoje Amaro Cavalcanti. Não fiz o primeiro ano, fui direto para o segundo. Fiz o ginásio no Educandário Rui Barbosa, que era um colégio espetacular e me deu uma base muito boa. Depois fui para o Colégio Juruena, na Praia de Botafogo, fazer o curso Clássico. Nós éramos só duas moças fazendo o curso. Quando a outra saiu, meu pai me tirou de lá e fui para o Colégio Resende. Daí fui para a PUC, que funcionava ao lado do Colégio Santo Inácio.

 

Em que ano você entrou na faculdade?

 

RB: Em 1948 para fazer Letras Neolatinas. Me formei em 1951.

 

Qual foi seu primeiro emprego?

 

RB: Desde o Clássico eu dava aula no Colégio São Marcelo, como professora primária. Assim que entrei para a faculdade, passei a dar aula de Latim como professora assistente.

 

Qual foi seu primeiro contato com o Colégio Andrews?

 

RB: Um professor meu me apresentou ao Edgard Azevedo em uma festa de casamento. Fui depois ao colégio conversar com ele. Eu era uma garota. O porteiro Zuza queria me barrar na entrada porque eu não tinha caderneta.

 

Em que ano foi isso?

 

RB: Foi em 1952, mas o professor que eu ia substituir, o Paulo Ronai, acabou ficando até o final do ano. Eu entrei no ano seguinte e fiquei até 1976.

 

Quais turmas você pegou?

 

RB: Dei aula de Latim nas turmas do primeiro e segundo ano ginasial. Quando o doutor Carlos tirou Latim do currículo do colégio, eu passei a dar aula de Português.

 

Você deu aula nas classes experimentais?

 

RB: O colégio formou uma classe experimental no primeiro ano ginasial. Ela era constituída de alunos de diferentes níveis. Nós formamos uma equipe e todos trabalhavam em conjunto. Era um ensino meio tradicional, mas a maneira de ensinar e as atividades eram diferentes. Eles faziam teatro, assistiam a muitas palestras. Fazíamos muitas excursões.

 

Em que ano começou essa turma?

 

RB: Deve ter sido em 1958.

 

Tinha disciplinas diferentes ou era a carga horária que era maior?

 

RB: Talvez a carga horária fosse maior, mas a maneira de se transmitir as atividades era bem diferente. A integração entre os professores era muito boa. Nós dávamos muita atenção aos alunos. Nessa turma entraram alunos de níveis diferentes e terminaram todos num nível muito alto. Essa turma brilhou por aí. A Regina Andrews fez parte dela. Tinha o geniozinho do colégio, o Dani, o Antônio de Biase, a Berta, o Antônio Carlos, o filho do Edgard Azevedo etc.

 

Quem eram os professores que faziam parte dessa equipe da classe experimental?

 

RB: Eu dava Português, o Leo dava Matemática, o Clóvis Geografia, Francês do Mrs. Arditi, Inglês era a Perla ou a Áurea, História era o José Luís Werneck, Ciência era o Lourenço, a Maria Thereza de Arte.

 

E depois, como foi seu trajeto no colégio?

 

RB: Eu pegava a turma na primeira série e levava até a quarta. Às vezes, pegava no meio do caminho. Ou então pegava dois anos seguidos.

 

Você sempre deu aula na Praia de Botafogo?

 

RB: Sim. Nunca dei aula na Visconde de Silva.

 

Você pegou diferentes direções no Andrews?

 

RB: Eu peguei o Edgard Azevedo, o doutor Carlos e depois o Edgar.

 

Você viu alguma diferença entre eles na direção?

 

RB: O colégio era muito organizado era um ambiente de responsabilidade. Eu não senti diferença entre eles, senti novidades.  Mudava o Diretor, mas a administração era a mesma. Surgiam novidades, orientação educacional diferente. Houve uma fase que puseram uma chefe de sala de classe. Cada uma era responsável por uma turma. Era um tipo mestra de classe.

 

Você tinha total liberdade na montagem do currículo?

 

RB: Sim, mas tinha muito cuidado. Me esquivava muito de questões políticas. Eu peguei 1964. Nós tínhamos muita liberdade, ninguém cerceava. Na questão de aprovação, o colégio nunca me disse para passar fulano ou sicrano. A nota que chegava, ficava. Reprovava aluno por um décimo. No início, a disciplina foi um pouco difícil porque eu era muito nova. Mas depois fui muito bem, quase não mandava aluno sair de sala. Eu procurava dar aula de Latim como se fosse língua viva. Eu ditava em português e eles escreviam em latim. Eu não queria nada decorado. Latim era difícil para eles. Eu gostava muito de dar aula de Latim, mas a minha criatividade começou a surgir na classe experimental, quando eu dava aula de Português. Eu puxava a parte criativa do aluno e soltava a minha.

 

Quais alunos que ficaram marcados para você?

 

RB: Tem muitos, em todas as áreas. Na política teve o Alfredo Sirkis, na artística teve a Beth Carvalho, o Danilo Caymmi, o Assis Brasil, o Jean Lui, na área médica teve muitos. Quando ligo a televisão vejo sempre um ex-aluno.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

RB: Eu acho que é o ensino tradicional, a correção, a honestidade.

 

 

 

 

 

 

Você saiu do Andrews em 1976 e se aposentou?

 

RB: Eu me aposentei porque comecei a trabalhar em casa e tinha muitos alunos. Quando eu saí do Andrews, os alunos se reuniram e fizeram uma despedida para mim.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

RB: Foi importante primeiro porque eu gostava muito de trabalhar e encontrei o que eu queria lá. Segundo eu, recém-formada, ganhei uma tarimba muito grande numa sala de aula e também de didática, de conselho de classe, de distribuição de notas. O Andrews me deu muita confiança e organização. Eu devo muito ao colégio. Eu já dava aulas antes, mas não tinha didática nenhuma.

 

E de seus colegas professores, quem você se lembra?

 

RB: Eu me dou com todo mundo. A Maria Thereza, a Luzia Trompieri, a Guilhermina e o Loureiro frequentaram a minha casa e eu sempre recebi muito carinho de todos eles. Da diretoria do colégio, eu me lembro muito da Verinha e do Carlos Roberto que foram meus alunos de Português e Latim. Eu me lembro de muitos professores que já morreram. Tinha um coordenador, o Osmar, que era muito calmo na hora de repreender os alunos.

 

Você se lembra de fatos curiosos ou engraçados da sua época no Andrews?

 

RB: Vários. Uma vez eu pedi uma redação e recebi uma folha de papel em branco cheia de travessão. Eu perguntei ao aluno: “o que houve, não tem nada escrito?”. E ele me respondeu: “é um diálogo do surdo com o mudo”. Eu usava franjinha e sempre roupa com gola alta e uma vez quando entrei na sala 19, em uma turma só de meninos, estavam todos de franjinha e fizeram da camisa do colégio uma gola alta. Eu não tive dúvida, saí da sala dizendo que tinha entrado em turma errada. Eu adorava fazer em sala uma atividade que chamava “saladinha”. Tanto eu como o aluno podíamos fazer a pergunta. Uma vez chegou um aluno e disse para não fazer a pergunta para ele e que eu podia dar um zero. Eu peguei a pauta e dei zero. Ele ficou todo sem graça. No dia das crianças eu levava sempre uma lembrancinha para os alunos, mas uma aluna se ofendeu dizendo que não era mais criança, era da turma da quinta série. Eu respondi: “minha filha não se incomode, no ano que vem se eu for professora de vocês, no dia da criança eu não vou trazer nada”. Houve um protesto geral da turma. Uma aluna, no dia de São Cosme e Damião, levou uma bacia cheia de pipoca para fazer bagunça na sala. Eu e o professor Osmar vimos, e o Osmar chamou a aluna e perguntou por que a pipoca. Ela respondeu: “eu trouxe para comer na merenda”. Ele disse: “está bem, pode ficar aqui comendo”. A menina quase passou mal de tanto comer pipoca. O João Jorge Amado (filho do Jorge Amado) era da turma do Danilo Caymmi e do Roberto Medina. Teve um dia que eles estavam muito agitados e eu, então, pedi ao João Jorge para fazer um poema para a turma. Ele fez: “a disciplina da turma está ficando legal, o professor quando sai tem que tomar melhoral”. A primeira vez que peguei uma redação dele para corrigir estava sem nome. Eu li e pensei que esse aluno devia ter lido Jorge Amado. O estilo era muito parecido. Só depois soube que era do João Jorge. Ele só escrevia em verso, dava muito trabalho em redação oficial. Numa ocasião teve um concurso chamado Escritores de Amanhã e ele tirou o primeiro lugar. Ele ganhou 40 de um dinheiro da época e eu ganhei a Enciclopédia Larousse. Eu disse para ele: “João Jorge, você não diz que é comunista, você deveria dividir esse prêmio com seus colegas de turma”. Ele respondeu: “eu não, e você vai dividir?” Eu disse: “vou, eu vou adquirir cultura lendo a Larousse e transmitir para vocês”. Na classe experimental, fizemos uma visita à Casa de Rui Barbosa e todos os professores trabalharam com esse tema. O João Jorge fez a redação dele em verso em francês. No dia que o Medina saiu do colégio, ele chorava muito dizendo que não queria ir embora. Eu não brigava com os alunos, deixava-os livres. Eu dizia que não dava aula para museu. Naquela época eles tinham muita criatividade. E eu não brigava com eles, eu conversava.

 

Muito obrigado pelo seu depoimento.


 


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