Tema do Ano faz reflexão sobre a importância do “lugar” que ocupamos.

A cada ano, escolhemos um tema a ser desenvolvido ao longo do próximo período letivo. Cuidamos para que ele seja uma oportunidade de reavivar e dar concretude a alguns dos pressupostos e das intencionalidades do nosso Projeto Educativo. Por isso, cada assunto/tema sempre deriva e gira em torno da Condição Humana e da vida em sociedade. Geralmente expresso sob a forma de uma pergunta, ele nos convoca a todos que participam desse Projeto - alunos, famílias, professores e demais educadores, incluídas equipe pedagógica e direção - a refletir sobre as múltiplas dimensões que constituem nossa subjetividade e a essência do Humano.

Naturalmente, certos temas revelam - ou até sugerem - atravessamentos decircunstâncias mais amplas. Como toda ação educativa, o Tema sempre pressupõe um projetode Ser Humano e de sociedade. Portanto não é neutro: toda ação educativa traz em seu bojoum viés político.

Instigados pelo título recebido no ano passado pela nossa cidade - RIO Capital Mundial da Arquitetura, designado pela Unesco e pela União Internacional de Arquitetos (UIA) - e por ser a sede do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA 2020 RIO, escolhemos como tema para 2020 “Como construímos nosso(s) lugar(es)?”, a ser abordado a partir de múltiplas e diversificadas perspectivas.

Essa reflexão pode ir da concretude do espaço físico e de suas representações técnicas, espaciais e cartográficas até as mais sutis atribuições de carga emocional e afetiva, formas pelas quais constituímos identidades, articulamos narrativas, sonhos e projetos. Assim, do concreto ao simbólico, do real ao imaginário e do macro ao micro, investimos de maneiras muito específicas e diferentes em cada lugar que construímos. Nossas trajetórias de vida, tanto no aspecto individual como no coletivo, têm sua identidade marcada pela forma através da qual criamos, nos dedicamos e cuidamos do(s) nosso(s) lugar(es). A forma pela qual produzimos, narramos e nos apropriamos desse(s) lugar(es) não deixa de ser, portanto, reflexo e manifestação de nossa capacidade de autoria e de autonomia. Nesse sentido, é uma construção a ser feita por cada pessoa, que depende e remete a investimentos de ordem subjetiva que compõem a identidade que vai sendo assumida por cada um.

Psicanalistas e linguistas entendem que nascemos narrados pelo outro, que somos antecedidos pelo discurso do outro, determinados pelo “lugar que ocupamos no desejo do outro”. Há quem diga que o grande desafio do sujeito é “ter sido desejado.” Mas ainda assim, esse determinismo não é absoluto: há um posicionamento a ser buscado pelo sujeito dentro de cada grupo. Apesar das circunstâncias que nos pré-determinam, há sempre uma margem de liberdade possível, um espaço “entre” no qual o sujeito pode produzir a identidade que elege e assumir o “lugar” que ocupa diante do outro e da vida.

Um aspecto a ser considerado refere-se, também, a uma das intencionalidades do Colégio Andrews que remete à transmissão de um determinado legado cultural que, em larga medida, constitui a identidade e a especificidade do grupo social que, desde sempre, procurou e elegeu, dentre tantas outras possibilidades disponíveis, esse Projeto Educativo para a formação escolar de seus filhos.

Dentre outras vertentes, isso pode ser traduzido, no cotidiano do Colégio, pelo cuidado em levar os pequenos brasileiros a se fazerem brasileiros e os pequenos cariocas a se fazerem cariocas, o que significa levar essa nova geração de cariocas a conhecer a cidade em que vive. Importa assegurar que aprendam a valorizar e a usufruir do patrimônio cultural da cidade, de seu acervo artístico, de sua cultura local, e compreendam de em que medida ela dialogou e dialoga com outros lugares, com outras culturas.

Essa antiga intencionalidade e cuidado do nosso Projeto encontra uma oportunidade preciosa de ser vivenciada esse ano pelo prêmio recebido pela nossa cidade e por ocasião do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA 2020 RIO (https://www.uia2020rio.archi). Trata-se não só de um reconhecimento pelo passado arquitetônico, histórico e cultural do Rio como também, e principalmente, uma oportunidade de reflexão e proposição de futuro da cultura arquitetônica, do paisagismo e do urbanismo e, consequentemente, das cidades, a partir da avaliação e dos debates que terão como base a cidade sede do Congresso. Tudo isso faz com que, ao longo de todo o ano, o Rio de Janeiro receba e promova uma série de eventos nos quais a história de sua arquitetura e desenvolvimento urbano terão seus sentidos e pressupostos revisitados e explanados por grandes profissionais e especialistas do mundo todo.

Esse evento ganha particular importância diante do contexto e da circunstância que a cidade atravessa, assolada pelo alinhamento e sobreposição de três crises que a vitimaram no contexto federal, estadual e municipal. Como temos todos nós sentido e vivenciado, esse contexto de crise atinge nossas vidas em suas muitas dimensões de forma tão profunda que não deixa de trazer impacto também para as circunstâncias de vida de nossos filhos e de nossos alunos.

Ao vermos a nossa cidade – uma cidade como o Rio de Janeiro - decaída à condição de “zona de abandono”, cabe tornarmos pensável em que medida essa circunstância se criou e de como permitimos que a cidade em que vivemos - nosso ‘lugar’ - fosse ocupado - e usado - deforma tão predatória. Como construções históricas que amadurecem ao longo do tempo, convém conhecermos como esses processos se desenvolveram para evitar que eles se repitam.

O Tema oferecerá boa oportunidade para reflexões que poderão contribuir para o desenvolvimento da capacidade de leitura ampla e crítica de mundo de nossos alunos. O Projeto Educativo pretende, além da capacidade de autoria, o desenvolvimento também da autonomia: tanto intelectual quanto moral. E, como Piaget propõe, a possibilidade de autonomia moral do sujeito é algo a ser estimulado e desenvolvido desde a mais tenra infância. Um cuidado e um propósito educacional que contribui para o desenvolvimento da capacidadede discernimento, diferenciando claramente o moralmente certo do erro, e do inaceitável.

Aproximamo-nos da terceira década do século XXI, mas cariocas padecem e morrem em filas de hospitais, faltam vagas em creches oficiais e agora, mais recentemente, a crise da água... São situações inaceitáveis, a não serem naturalizadas. Na gestão do bem comum e do patrimônio público, há satisfações a serem dadas e contas a serem prestadas. Há discernimentos e avaliações a serem feitas, convocação que não permite o refúgio em posturas de relativismo moral. Assim como a autonomia, a capacidade de indignação é conteúdo que se ensina e que se aprende. Convém refletirmos sobre os caminhos e descaminhos que nos levaram a esse estado de coisas. Cabe não só conhecer, identificar e compreender os processos que levaram nossa cidade a esse “lugar”, como também a importância do “lugar” que se escolhe - escolhemos - ficar/ocupar diante do que vivenciamos na nossa cidade, na nossa casa, no nosso mundo, na nossa vida.

Como costuma ocorrer no Tema de cada ano, fica feito o convite para que cada um dos que integram a comunidade escolar se faça atravessar por esse tipo de questionamento: como eu construo o “lugar” que ocupo – como professor(a) perante os meus alunos, como pai/mãe perante meu/minha filho(a), como referencial de adulto perante o jovem, como figura ensinante perante o aprendente, como inspetor, coordenador ou diretor perante a comunidade escolar... São produções de “lugares”, de sentidos e de narrativas.

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