Os alunos que iniciaram o Ensino Médio em 2022 inauguraram um novo currículo, de acordo com a lei em vigor. Estão hoje na terceira série e, ao final deste ano, farão o Enem, principal porta de entrada para o ensino superior. A eles devemos transparência e antecedência na divulgação dos critérios pelos quais serão avaliados.
A polarização em torno da Reforma do Ensino Médio acarretou negociações agora endereçadas ao Poder Legislativo. Como contribuição, segue uma sugestão de modelo para o Enem que acredito atender, sobretudo, ao interesse dos estudantes e das próximas gerações.
Parece ser consenso que a prova do primeiro dia do exame deveria se basear na Formação Geral Básica. Essa parte da avaliação investigaria o domínio dos direitos básicos de aprendizagem, aquilo que todo e qualquer jovem brasileiro tem o direito de saber.
Duas grandes competências se impõem: capacidade de compreensão, de inferir e de leitura ampla de mundo; além de fluência textual. O domínio do inglês e da linguagem matemática básica para o cotidiano seriam outras duas. Um possível modelo para essa primeira fase pode ser encontrado na primeira versão do próprio Enem, que vigorou até 2009, ou nos itens do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Além da redação, uma combinação entre esses exames que articulasse competências em áreas de conhecimento já garantiria uma prova adequada. Esse núcleo comum asseguraria os direitos básicos também daqueles que buscam o Ensino Técnico Profissionalizante.
Para os que almejam a graduação, a prova do segundo investigaria os Itinerários Formativos. Essa parte do exame deveria dialogar com o Projeto de Vida do aluno, portanto com seu campo de atuação futura.
A prova do primeiro dia atenderia ao enquadre das áreas do conhecimento e, na segunda fase, o exame apresentaria ao candidato uma escolha entre blocos que tenham como contorno as diferentes áreas de atuação profissional. O modelo pode ser encontrado na Unicamp, como sugere o professor Eduardo Deschamps: Humanas-Sociais, Exatas-Engenharias e Biomédicas.
A possibilidade de escolha entre um desses três blocos atenderia ao espírito da reforma e, sobretudo, ao interesse dos estudantes: ao grupo concluinte no ano em curso e a todos os que vierem pelos próximos anos.
Discussões sobre currículos são construções coletivas, para as quais concorrem várias vozes e perspectivas. Conflitos de interesse são naturais em democracias e diferenças enriquecem o debate. Mas reformas curriculares remetem, sobretudo, à articulação entre gerações. E ao cuidado com que os atuais educadores concebem a escolaridade que atenderá aos alunos. Trata-se de um ponto de virada do passado, quando fomos formados.
Do ponto de vista pedagógico, acadêmico e formativo, uma organização como essa seria a mais correta e eficaz forma para garantir às juventudes brasileiras o direito de escolha e a mais concreta manifestação do nosso cuidado com as próximas gerações.