Aluísio Machado

Projeto Andrews 90 anos

Rio de Janeiro, 24 de maio de 2007

Entrevista com o Professor Aluísio Machado/Diretor

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando o senhor nasceu?

 

AM: Eu nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais em 21 de julho de 1914.

 

Como é o nome de seus pais?

 

AM: Meu pai se chamava Ricardo Machado e minha mãe era Eunice Pinheiro Canário Machado.

 

Onde o senhor fez seus primeiros estudos?

 

AM: No atual Liceu Franco-Brasileiro no Rio de Janeiro, que naquela época se chamava Licée Français, dirigido por diretores franceses. Fiz todo o meu curso lá.

 

Qual foi o primeiro contato que o senhor teve com o Colégio Andrews?

 

AM: Eu fiz o curso de Educação Física. Fundei uma unidade na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e indiquei para o Andrews um amigo meu, que já faleceu. Quando ele foi para a Paraíba, fiquei em seu lugar, isso por volta de 1945. Um tempo depois, o Carlos Flexa Ribeiro me convidou para ir para a diretoria, e desde essa época sou vice-diretor do colégio.

 

O senhor pegou várias direções no colégio, fale um pouco sobre elas e como foi a sua época como vice-diretor.

 

AM: Quando comecei, quem estava aqui era o dono do colégio, Carlos Flexa Ribeiro, que se estivesse vivo estaria com a minha idade. Depois veio o Edgar Azevedo, que era seu parente, e essa nova diretoria com o Edgar Flexa Ribeiro e os dois irmãos.

 

Como foi seu tempo como professor de Educação Física no Colégio Andrews?

 

AM: Foi uma experiência muito boa, ótima. Sempre tive uma relação muito boa com os alunos, e posso dizer que mantenho isso até hoje. Hoje tenho um neto que estuda aqui, os colegas dele vêm sempre na minha sala. Na minha época, havia a Divisão de Educação Física, ligada ao Ministério da Educação, que organizava os jogos metropolitanos, nos quais os colégios participavam, o Andrews inclusive e com sucesso; alguns recordes eram de alunos do colégio. Tivemos até um professor de Química do Andrews, Edgar Cabral de Menezes, que quando mais jovem foi atleta e detinha um recorde de uma prova.

 

A aula de Educação Física era obrigatória?

 

AM: Era obrigatória, hoje também é. Hoje em dia, a Educação Física tomou outro rumo, não é mais ginástica, agora são atividades esportivas. O Andrews participa de algumas delas com sucesso.

 

Quem chamou o senhor para o colégio, o doutor Carlos?

 

AM: Alguém que trabalhava no Andrews, na minha área, disse que o colégio estava precisando de professor, então fui indicado, fiz uma entrevista e fui aceito. Mas na ocasião eu não pude ir, então indiquei um colega, Irineu, que era da Paraíba, o pai dele tinha sido desembargador, tinha trabalhado no gabinete do ministro da Justiça; depois ele foi para a Paraíba organizar escolas de Educação Física, e eu vim para o colégio.

 

Seu trabalho na direção, o senhor era responsável por todas as turmas ou tinha alguma restrição?

 

AM: Eu pegava todas as turmas da Praia de Botafogo; o curso primário não estava muito afeto a mim, pegava mais o ginásio e o secundário.

 

O Andrews sempre foi pioneiro em várias experiências, ele criou o ginásio experimental, fale um pouco sobre isso.

 

AM: Durante muito tempo o colégio ofereceu os cursos experimentais. A lei permitiu e o Andrews implantou com sucesso.

 

Por que terminou, foi uma determinação legal?

 

AM: Acho que foi uma iniciativa do próprio governo, porque havia muita coisa que não cabia bem na sociedade que se vivia, de modo que aquilo foi se desgastando naturalmente.

 

O senhor identifica fases diferentes do colégio nesse tempo que tem passado na instituição?

 

AM: Estou no colégio há quase 62 anos. O Colégio Andrews era mais rigoroso porque a sociedade era mais severa, hoje a sociedade é mais liberal e o colégio tem que acompanhar isso; os pais eram mais autoritários, conviviam com mais força na família, hoje não está havendo mais isso. O colégio tem que acompanhar, em certos aspectos tem que ser mais flexível.

 

O senhor destacaria alguns aspectos da orientação educacional ou pedagógica do Andrews que seria diferente de outros colégios do Rio de Janeiro?

 

AM: O Andrews está sempre inovando, em várias áreas, hoje em dia introduziram algumas disciplinas como Redação, Literatura, Filosofia.

 

Essas matérias hoje fazem parte do currículo normal?

 

AM: Sim, estão dentro da carga horária, os alunos têm aulas, têm provas. Um destaque para os professores do colégio, são muito solicitados para o trabalho. Tenho uma admiração profunda por eles, são muito exigidos. A sorte que o Andrews tem uma equipe muito boa, desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio.

 

Como foi a mudança da Praia de Botafogo para a Visconde de Silva?

 

AM: Foi dono daqui uma pessoa conhecida minha, morou na casa que existia na Visconde de Silva. Tivemos uma equipe muito boa trabalhando, secretários, coordenadores, uma delas foi Eunice Campos que foi secretária, Guilhermina Sette, que foi orientadora. O irmão dela, Artur Sette, que foi professor de desenho do colégio, tem uma sala com seu nome. Quando o colégio fez obras no prédio dos fundos da Praia de Botafogo, havia uma passagem por cima de um prédio para o outro que os alunos passaram a chamar viaduto Flexa Ribeiro. Minha vida foi muito ligada ao colégio.

 

Em 2001, com a reunião da toda a escola na Visconde de Silva, como foi para o senhor deixar a Praia de Botafogo e passar a trabalhar nesse no local?

 

AM: Foi tudo muito bem porque muita gente que estava na Praia já tinha passado a trabalhar na Visconde Silva de modo que não houve grandes mudanças nesse sentido.

 

Houve alguma mudança nos rumos do colégio quando essa nova geração assumiu a direção?

 

AM: Não. A filosofia do colégio é muito forte e isso ficou muito incorporado em todas as pessoas, não só a mim como nos donos do colégio. Hoje em dia o Edgar está mais afastado, é mais um mentor a distância. Mas está indo tudo muito bem, ótimo.

 

De uns tempos para cá muitos colégios fecharam devido à crise econômica, o que o senhor acha que o Andrews tem que resistido ao tempo e vai fazer 90 anos o ano que vem?

 

AM: Porque o Andrews é um bom colégio, tanto a equipe docente quanto a direção é muito boa, sem nenhuma vaidade, não estou me incluindo nisso. O corpo docente é muito bom. Houve uma época, na Praia de Botafogo, que praticamente todos os professores eram professores universitários. O Colégio é muito cuidadoso, zeloso, há o empenho de todos. Eu fui honrado com uma placa com meu nome na minha sala, que é a sala dos professores, onde todos os dias temos uma conversa informal sobre assuntos os mais variados. Temos reuniões frequentes com o corpo docente e com os alunos.

 

Professor, o ambiente do trabalho, no fundo, é parte fundamental de nossas vidas. Qual a importância do Andrews em sua vida?

AM: Enorme. Dediquei uma grande parte da minha vida ao colégio. Foi muito bom, pude aprender muita coisa. Meu crescimento intelectual devo muito ao Andrews, porque eu lidava com uma camada de professores e diretores como o Gildásio Amado. Eu me dava com todos e tinha que me manter no nível deles. Foi muito bom para mim. Confesso que meu nível de conhecidos aumentou muito quando vim para o Andrews, isso eu devo ao Andrews. E o Andrews deve muito a mim.

 

O senhor quer acrescentar alguma coisa sobre esse período todo que trabalhou no colégio?

 

AM: Eu conheci Mrs. Andrews.

 

Quando o senhor começou a trabalhar ela ainda estava no colégio?

 

AM: Estava na Praia de Botafogo com a Alice Flexa Ribeiro, mãe de Carlos Flexa Ribeiro. Mrs Andrews era interessadíssima, o Colégio Andrews sempre dispensou a ela um respeito muito grande. As duas viveram muito, morreram com 94 anos.

 

O senhor chegou a trabalhar com a dona Alice?

 

AM: Trabalhei, era uma pessoa muito interessada, firme, batalhadora, ela fez o Colégio Andrews. Depois a Mrs. Andrews saiu, voltou para a Inglaterra. Houve um fato curioso: em uma ocasião, houve uma festa na Praia de Botafogo e foram convidadas as duas, dona Alice e Mrs. Andrews. Quando eu e Mrs. Andrews tínhamos acabado de atravessar o viaduto Flexa Ribeiro e chegamos ao outro prédio, havia uma escada de madeira grande que dava acesso ao andar de cima. Mrs. Andrews parou, ficou pensativa, e contou que no dia em que foi pedida em casamento, seu pai chegou embaixo daquela escada com seu noivo, e ela estava aqui em cima, nesse mesmo lugar. Depois a família dele estudou no colégio.

 

Professor, apesar dessa flexibilidade, o colégio ainda mantém uma disciplina?

 

AM: Mantém, não tenha dúvida. Hoje em dia a sociedade ficou mais elástica, os alunos têm mais liberdade.

 

Como é a relação dos pais hoje aqui no colégio?

 

AM: Geralmente é uma relação muito boa. O Colégio Andrews zela muito por isso, de manter contato. Como exemplo, vemos que muitos que foram alunos do colégio trazem seus filhos para serem alunos.

 

Muito obrigada, professor, pelo seu depoimento.


« voltar

COLÉGIO ANDREWS

(21) 2266-8010

Endereço:
Rua Visconde de Silva, 161
Humaitá CEP 22271-043
Rio de Janeiro - RJ

Colégio Andrews
Todos os Direitos Reservados
@ 2017