Ari Coslov

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Ari Coslov

Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando nasceu?

 

AC: Nasci no Rio de janeiro em 10 de setembro de 1942.

 

Quem foram seus pais?

 

AC: Eva Coslov e Isaac Coslov. Ela está viva e ele morreu quando eu tinha 18 anos. Meu pai era industrial, tinha uma indústria de aparelhos eletrodomésticos, e minha mãe era dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

AC: Nasci na Tijuca e estudei no Instituto de Educação. Na época, o Curso Primário era misto. Em 1954, no Admissão, fui para o Andrews, pois minha família se mudou para o Flamengo.

 

Quanto tempo você ficou no Andrews?

 

AC: Foram oito anos. Fiz Admissão, Ginásio e Clássico.

 

Fale um pouco sobre essa sua época no colégio.

 

AC: Foi uma mudança total. Hoje em dia ninguém consegue avaliar o que teria sido a infância na Tijuca nas décadas de 1940 e 1950. Era um bairro totalmente residencial, com muitos terrenos baldios, era uma vida inteiramente livre. Ao mesmo tempo, meus pais eram muito exigentes em relação à educação. Quando viemos para o Flamengo e eu fui para o Andrews, foi uma mudança radical. Primeiro porque o Flamengo já era um bairro mais populoso, com muitos prédios residenciais. E o Andrews significou um pulo, no sentido de conhecer pessoas de outro tipo, de uma classe média mais alta do que aquela com a qual eu tinha contato na Tijuca. Meu pai estava melhorando de vida, e isso significou também uma mudança de padrão. Havia um estímulo de deixar que todo mundo fosse o que fosse, seja em termos de religião, comportamento, posição política. Isso foi decisivo na minha vida. A partir do momento em que entrei no Andrews, passei a conhecer pessoas muito interessantes, algumas foram de importância fundamental na minha vida.

 

Quem foram essas pessoas?

 

AC: Alguns colegas, amigos, e me lembro com muito carinho da madame Jacobina, que era a nossa professora de francês. Desde cedo manifestei uma tendência artística, sempre tive uma ligação muito forte com o teatro.

 

Você participava das peças montadas por madame Jacobina?

 

AC: Eu cheguei a participar de muitas leituras de peças, mas não de montagens. Ela tinha um grupo que chamava Cercle Molière. Desde criança eu tinha uma ligação muito forte com o teatro, através dos programas que meus pais traziam para casa depois dos espetáculos. No Andrews, se aguçou meu gosto pelo teatro. A madame Jacobina, mesmo depois que eu já tinha saído do colégio, ia assistir as peças que fiz como ator, e depois ia no camarim me cumprimentar. Era sempre uma emoção muito forte para mim. Ao mesmo tempo, tive vários colegas no Clássico, como o Renato Machado, o Sebastião Lacerda, pessoas muito ligadas à cultura, e nós formamos um grupo de teatro fora do colégio, mas que teve seu embrião formado no Andrews. Isso foi o início de minha carreira como ator.

 

O Zózimo fazia parte desse grupo?

 

AC: Sim, junto com outras pessoas que não estou me lembrando, mas basicamente éramos nós quatro, o Zózimo, o Renato, o Sebastião e eu. Sebastião não participou muito dessas atividades teatrais, mas nos dava apoio. Eu e o Renato, que somos amigos até hoje, éramos muito ligados, nós que seguimos mais ou menos a carreira.  

 

Como foi a experiência da cinemateca?

 

AC: A cinemateca teve uma vida curta, porque havia certa dificuldade financeira para conseguirmos os filmes, mas durante algum tempo chegamos a promover sessões de cinema no Andrews. Havia, também, um jornal mimeografado com notícias sobre cinema e os filmes que iríamos passar.

 

Quais outros professores foram importantes para você?

 

AC: Tínhamos um professor de Matemática chamado Assis, que era muito magro, uma figura fantástica, se vestia de maneira extremamente formal; na segunda metade dos anos 1950 ninguém mais se vestia daquela maneira. Lembro-me também do professor de Química, Vitor Nótrica, muito ligado aos alunos, se dedicava muito à matéria, que era árdua, especialmente porque grande parte da turma já estava pensando em fazer o Clássico.

 

Quando você se formou no Andrews?

 

AC: Em 1961.

 

Você foi aluno do Antônio Penna?

 

AC: Foi meu professor de Filosofia, assim como a professora Marion, a quem eu fui mais ligado. Mantivemos uma relação fora do Andrews. Outros professores marcantes foram a Guilhermina Sette, o professor Aluísio, uma professora de Francês que era irmã da Guilhermina, e a professora Perla, de Inglês.

 

Você acha que o Andrews teve influência na escolha de sua profissão?

 

AC: Sem dúvida. Acho que esse aspecto que o Andrews tinha, de ser um colégio liberal, favorecia esse trânsito de ideias, especialmente na área cultural. Era bastante estimulante. A gente percebia que havia uma preocupação da direção do colégio para que houvesse troca de ideias entre professores e alunos, e mesmo em várias atividades paralelas. Naquela época, as famílias encaminhavam os filhos para serem advogados, engenheiros, médicos, e o Andrews, de certa maneira, deixava isso mais aberto. Era uma coisa subjetiva, mas você sentia isso em todas as atividades e nos relacionamentos com os professores e com os outros alunos. Havia uma liberdade muito grande, até um estímulo a esse trânsito de ideias.

 

Você se lembra de algum fato engraçado ou curioso dessa época?

 

AC: Eu sempre fui muito bagunceiro. Uma vez fiquei em uma segunda época, porque faltei  algumas provas no final do ano, mas nunca fui reprovado. 

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

AC: O Andrews foi fundamental para me direcionar para um instinto que eu tinha em relação às artes, mais especificamente em relação ao Teatro. A televisão, onde trabalho há alguns anos, veio como uma consequência disso.

Talvez se tivesse estudado em outro colégio eu não tivesse a permissão dentro de mim de fazer com que isso se tornasse realidade. É claro que minha família, nesse sentido, foi muito importante, principalmente minha mãe.

 

Depois do Andrews você fez que faculdade?

 

AC: Quando saí do Andrews, eu já sabia que queria fazer teatro. Ainda assim, naquela época havia certa exigência para que você tivesse um diploma. Eu não sabia muito bem o que queria fazer. Fiz vários vestibulares: Direito, Arquitetura, Economia. Meu pai faleceu e a família achava que eu deveria seguir com sua indústria. Foi uma época péssima da minha vida, eu trabalhei na fábrica durante um tempo, mas me senti muito mal. Paralelamente a isso, eu já tinha uma atividade artística. Acabei fazendo faculdade na ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial. Lá me formei em Comunicação Visual.

 

Quando você se formou?

 

AC: Em 1966. Apesar de já estar no teatro, trabalhei durante dez anos como comunicador visual, na Enciclopédia Britânica, em dois projetos do Antônio Houaiss.

 

Como você voltou ao teatro?

 

AC: Teve um momento que tive que fazer uma opção. Recebi um convite para ir a São Paulo, para continuar esse trabalho de iconografia na Editora Abril, em meados dos anos 1970. Ao mesmo tempo, recebi um convite da TV Globo para trabalhar como ator. Eu resolvi ficar no Rio, queria fazer direção de cinema, achei que a televisão poderia ser um caminho. Estou até hoje na TV Globo. Primeiro trabalhei como ator, mas já querendo ser diretor, e estou como diretor até hoje.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam. O que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

AC: Primeiro a qualidade de ensino. Desde a época em que eu morava na Tijuca, meus pais falavam que o Andrews era um dos melhores colégios do Rio. Sempre fiquei com essa informação na minha cabeça, e pude confirmá-la a partir do momento que fui para lá. Segundo, essa preocupação com a liberdade também é fundamental. Isso deve ser uma das causas dessa manutenção do Andrews como um colégio de primeira linha. A associação dessas duas coisas talvez seja o mais importante.

 

Você mantém contato com alguns colegas do Andrews?

 

AC: Eu tenho uma turma, uma mistura do ginásio com o Clássico. Mantenho contato com o Renato Machado, com meu grande amigo Alberto Flaksman, com o Sebastião Lacerda.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

AC: Digo sempre com muito orgulho que fui aluno do Andrews. O Andrews foi fundamental na minha formação como pessoa, como formador de ideias, articulador de ideias. Eu credito ao Andrews o fato de ter me dado a possibilidade de escolher com mais clareza, mais segurança, o caminho que segui ao longo da minha vida, do qual não me arrependo. A minha passagem pelo Andrews foi fundamental para isso. Acho que a função de um colégio deveria ser essa, não só ensinar matérias, mas ser um articulador de ideias. Não sei se em outro colégio eu teria tido essa chance.

 

Muito obrigada, Ari, pelo seu depoimento.

 


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