Carlos Roberto Flexa Ribeiro

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Carlos Roberto Flexa Ribeiro

Rio de Janeiro, 4 de outubro de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

CRFR: Eu nasci no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde São Sebastião, em 14 de maio de 1942.

 

Quem foram seus pais?

 

CRFR: Carlos Otávio Flexa Ribeiro e Maria Helena Pinto Flexa Ribeiro. Meu pai era de Belém do Pará e em 1914 veio para o Rio. Minha mãe era do Rio, filha de pais advogados mineiros.Passei a minha vida inteira em Botafogo. Quando nasci fui morar na rua Marques de Olinda e, aos oito ou nove anos de idade, fui para a rua Dona Mariana, onde fiquei até casar.

 

Você fez seus primeiros estudos no Andrews?

 

CRFR: Foi. Naquela época ia-se para o colégio mais tarde. Eu fui com uns quatro ou cinco anos. Como morava na Marques de Olinda, eu ia a pé para o colégio.

 

Fale um pouco sobre esses primeiros anos no colégio.

 

CR: Ao lado da minha casa morava o José Mário Pimentel Duarte, cuja família era dona de vários imóveis na rua, inclusive o da esquina, edifício Pimentel Duarte, onde morava minha avó, dona Alice, já aposentada. E ao lado morava o Luís Fernando Monteiro Gonçalves, meu colega de turma. Íamos nós três para o colégio. Provavelmente devia ter uma babá indo junto. Nós éramos amigos no colégio, e de tarde nós brincávamos no quintal de uma das casas. Foi um começo de infância muito divertido, muito bom.

 

E as professoras dessa época, você se lembra?

 

CRFR: Dona Antônia é a primeira professora que me lembro, eu gostava muito dela. No terceiro ano tive a dona Geni. Depois a Olga de Assis. Minha professora do Admissão ao Ginásio foi a dona Juraci. Tive também a dona Margarida, de Português, e o Carlos Shankrow Maia, de Matemática, no segundo ano ginasial. Houve outros, como os professores Ataíde, de Geografia, o Albor Artese, de Desenho, o Osmar, que era coordenador e dava aula de Geografia, o Mário Pires, de Português, e o Omar Teles da Silveira, de Latim.

 

E de seus amigos do ginásio quem você se lembra?

 

CRFR: Lembro-me do Manuel Portinari Leão, Aluísio Machado – filho do professor Aluísio, excelente aluno –, João Luís Ribeiro, da Maria Luísa Proença de Guimarães e da Márcia Guerra.

 

Você cursou o Clássico ou o Científico?

 

CRFR: Eu fiz o Clássico.

 

Você foi das turmas experimentais? Fale um pouco sobre elas.

 

CRFR: Fui, tive oito matérias no primeiro ano Clássico.

Antes o Ministério de Educação ditava o currículo e todas as escolas deviam seguir. Com a lei de diretrizes e bases, cada escola poderia dar um currículo que achasse interessante para seus alunos.Como era Clássico, não tinha Matemática, e sim Latim, Português, História da Arte, Filosofia e Sociologia.

 

Quem eram seus professores do Clássico?

 

CRFR: Marion Penna, Clóvis Dottori, Maurício Silva Santos. Eles me deram uma base muito boa, dá saudades.

 

E seus colegas do Clássico, você se lembra?

 

CRFR: Lembro-me bem deles: Lúcia Gonzaga Nei, Maria Lúcia Araripe – que veio do ginásio comigo –, Sueli Gomes Freire, Ruth Jacob, Constan Heiner. Esse pessoal eu encontro até hoje.

 

Tinha algum problema pelo fato de você ser filho do diretor do colégio?

 

CRFR: Até o terceiro ano do ginásio foi tudo bem. Mas naquele momento, aos 14 anos, começou a adolescência e o estudo ficou por último. Eu queria sair do colégio, mas meu pai não deixava. Fui então relaxando nos estudos, e no terceiro ano fui reprovado. A Verinha, que era minha colega de turma, passou, então me cobravam dizendo que minha irmã tinha passado e eu não. Fui assim até o segundo ano Clássico. Nesse ano eu consegui sair do Andrews para outro colégio, onde concluí o curso.

 

Qual colégio era esse?

 

CRFR: Colégio Rui Barbosa, que funcionava no Largo do Machado. Fiz lá o terceiro ano. Não fiz faculdade, e fui trabalhar.

 

Qual foi seu primeiro emprego?

 

CRFr: Fui trabalhar no Banco de Minas Gerais, onde fiquei cinco anos. Foi uma faculdade na prática. Foi ótimo.

 

Quando você veio trabalhar no Andrews?

 

CRFr: Em 1965 ou 1966 vim trabalhar na parte de administração do colégio, na Praia de Botafogo, onde exerci até me aposentar.

 

Quando você se aposentou?

 

CRFR: Há uns três anos. Mas ainda vou ao colégio, não deixo de ir por causa disso.

 

Durante todo esse tempo que você trabalhou no colégio, você viu fases diferentes no Andrews?

 

CRFR: Vi a primeira fase, a das classes experimentais e algumas outras.

 

Por que isso a Classe experimental terminou?

 

CRFR: Não sei, porque estava afastado do colégio. Nós tínhamos matérias ótimas, professores excelentes. Era uma época muito alegre do Andrews. Eu e meus colegas éramos muito unidos em nossas brincadeiras. Depois das aulas nós íamos a um bar que ficava perto do cinema Ópera, chamado Role, e ficávamos conversando, inclusive com alguns professores. O Clóvis Dottori era um que se unia a nós para conversar.

 

A Maria Lúcia Dahl comentou que tinha uma praça em frente ao colégio que vocês se encontravam...

 

CRFr: Tinha essa praça com a estátua do Miguel Couto. Todos se reuniam lá: a Maria Lúcia, a Maria Marta, o Horácio, eles eram um pouco mais velhos que eu, acho que eram da turma do Edgar. A Maria Lúcia escreveu um artigo quando o Andrews fez 50 ou 60 anos, publicado no Jornal do Brasil, no qual ela fala dessa estátua. Em 1964, eu estava fora do colégio. Meu pai também saiu da escola, já era secretário de estado, depois foi para a UNESCO, se afastou do Andrews durante muitos anos, tendo voltado anos depois para concluir a carreira. E eu e o Edgar estávamos trabalhando lá e assumindo a direção do colégio.

 

Como foi a direção do Edgar Azevedo?

 

CRFR: Ele foi meu diretor, mas eu já estava concluindo o curso. Ele foi diretor cerca de 12 anos. Foi ótimo.

 

Você acha que houve uma diferença entre a direção de seu pai e a do Edgar Azevedo?

 

CRFR: O Edgar foi pós 1964. Meu pai saiu em 1961/1962.

 

 

Como foi sua relação com o teatro do Andrews, o TACA?

 

CRFR: Como eu estava na administração, ajudei muito o TACA. Primeiro tivemos o Demétrio Nicolau, ótimo diretor; depois vieram o Miguel Falabella, o Felipe Martins, Marisa Monte, João Uchoa. Na administração, dei um jeito de autorizar o uso do teatro, e eles começaram a fazer os ensaios. Eles montaram Cabaré, Rocky Horror Show e outras peças. A Marisa Monte começou a cantar no palco do colégio. A Teresa Pifer, o Miguel Falabella, o Felipe Martins, a Maria Padilha, todos começaram no palco do colégio. Conseguimos montar uma carpintaria que antes não existia. Eu me gabo que os ajudei nessa parte, liberava o espaço para eles. Antes sempre existia uma burocracia escolar, por medo de deixar os alunos depois da hora.

 

Como você avalia a reunião de toda a escola na Visconde Silva?

 

CRFR: Aconteceu há cerca de cinco anos. Foi um ganho, na medida em que concentrou a administração em um só lugar. Afetivamente, é melhor nem falar. O gasto estava muito grande, a Praia de Botafogo, de certa maneira, se deteriorou. Então pensamos que se mudássemos toda a administração para a Visconde de Silva sobraria espaço. Fomos aconselhados por pessoas amigas, ligadas a negócios, a nos desfazer da Praia. Faz parte, mas eu sinto saudades.

 

Tem gente que identifica o Andrews como a Praia de Botafogo, não?

 

CRFR: É, a minha geração faz isso. Mas isso mudou com uma rapidez impressionante. A turma hoje não sabe o que foi a Praia de Botafogo. Nesses cinco que estamos aqui, isso acabou.

 

Você acha que houve algum problema para o pessoal da Visconde receber a equipe da Praia?

 

CRFR: Não, acho que eles gostaram porque se sentiram mais apoiados.

 

Você achava que eram dois colégios distintos?

 

CRFR: Eram, porque na Praia ficava a direção, os mais altos na hierarquia. Na Visconde tivemos ótimas diretoras, a Marisa Fiúza de Castro, a Adélia Carregal. A Visconde tem um espaço espetacular. Não à toa é um dos colégios que mais está se desenvolvendo na educação infantil, porque a área é ótima, e as crianças hoje moram em apartamento. A Visconde de Silva tem uma área de ensino e de lazer muito boa, tem natação, campo de futebol. Temos ex-alunos que vão completar 10 anos de formados e querem confraternizar num jogo de futebol no colégio, com o professor deles que até hoje está na escola.

 

De uns tempos para cá muitos colégios fecharam. O que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

CRFR: O Andrews é um bom colégio, muito transparente, tem um jeito muito democrático de receber aluno. O Andrews continua sendo muito procurado. O Andrews sempre foi um colégio democrático, não tem por que deixar de receber qualquer aluno. Além disso, um levantamento do IBGE mostra uma migração interna na cidade do Rio de Janeiro, com a população indo para Ipanema, Leblon e Barra, deixando Botafogo e Flamengo vazios. Hoje Botafogo está retomando, estão verificando que é um bairro geograficamente espetacular, porque todo mundo continua trabalhando no Centro. Acho que os pais estão procurando colocar seus filhos nos melhores colégios que estão no bairro onde moram.

 

Qual é a importância do Colégio Andrews na sua vida?

 

CRFR: É apenas a minha vida. Meus interesses, meus amigos, tudo passa pelo Andrews. Poucas coisas não têm relação com o Andrews. Quando menos espero, encontro um ex-colega, um ex-funcionário. Tudo é Andrews. Pessoas como Dona Guilhermina, Eunice – que era secretária e de certo modo eu vim a substituir como diretor –, sr. Guimarães, que era do departamento pessoal.

 

Dizem que ele tocava flauta, é verdade?

 

CRFR: Ele era seminarista e tocava flauta. Tinha também o Vitor do almoxarifado, que já faleceu. Daquela época só resta o professor Aluísio.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.


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