Francisco Moraes

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Francisco Moraes

Teresópolis/RJ, 26 de julho de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando nasceu?

 

FM: Nasci em Nova Iguaçu/RJ, em 1929. Sou de uma família muito tradicional da cidade. Meu pai era dentista e minha mãe era dona de casa. Meu pai era espírita kardecista e fundou o único centro espírita kardecista de nossa cidade, o Fé, Esperança e Caridade, que existe até hoje no mesmo local.

 

Onde o senhor fez seus primeiros estudos?

 

FM: Fiz até o terceiro ano primário em Nova Iguaçu. De lá nós viemos morar no Méier, quando eu tinha 10 anos. Fui estudar até a Admissão no Colégio Metropolitano, que existe até hoje. Desde essa época eu já dava aula para as crianças menores. Eu não sei na minha vida o que é fazer outra coisa a não ser dar aula. Trabalhei 40 anos com alunos.Meu pai tinha veneração pelo Colégio Pedro II, porque no tempo dele, os estudantes prestavam exame lá para validar os estudos. Naquele tempo, o Pedro II formava bacharéis em Ciências e Letras. Eu tinha uma irmã, Áurea, que se formou em Inglês na Faculdade Nacional de Filosofia e foi professora muitos anos do Andrews. Em 1944, fui um dos primeiros colocados no concurso para fazer o Ginásio no Pedro II. Era um exame muito rigoroso e havia muitos candidatos para poucas vagas. Fiz o Ginásio e o Clássico no Pedro II. Não pude fazer vestibular para a Faculdade Nacional de Filosofia porque precisava trabalhar e as aulas eram de manhã e à tarde. Fiz vestibular para a Universidade do Distrito Federal – UDF no ano de 1951 e tirei terceiro lugar. Fui cursar Letras Clássicas, Português, Latim e Grego. Conheci minha esposa na faculdade. Terminei a faculdade em dezembro de 1954 e me casei no ano seguinte.

 

Qual foi seu primeiro emprego já formado?

 

FM: O primeiro lugar em que trabalhei foi no Colégio Paiva e Souza que ficava na Tijuca. No segundo semestre de 1954, o Niel Aquino Kas, que era professor de Português no Andrews, me telefonou e disse que ia deixar o Andrews porque tinha sido convidado para ser secretário de Educação da prefeitura, e me perguntou se eu queria substituí-lo. Na época, minha irmã trabalhava com a Guilhermina Sette na orientação educacional do Andrews, e quando soube que o Niel tinha me telefonado, ela e Guilhermina fizeram a maior força para eu ir para o Andrews.

 

Que turma o senhor pegou no Andrews?

 

FM: A terceira série ginasial. Eu me dei tão bem com as turmas que ganhei nesse ano uma placa dos alunos. Isso eu guardei como meu primeiro troféu. O Niel tinha um sistema de trabalho diferente do meu, eu sempre gostei de dar aula, eu era muito alegre, brincava muito nas aulas, e os alunos riam comigo; eu me sentia muito um ator. Eu fiz sucesso com esse meu sistema. Fiquei no Andrews até o final do ano porque o Niel voltou em 1955. Em 1956 o Andrews me chamou para trabalhar e lá fiquei 24 anos.

 

Em que turmas o senhor foi dar aula?

 

FM: Fui para o segundo grau, dei aulas no Científico e no Clássico, e algumas no Ginásio. O Andrews confiou muito em mim. Depois de uns anos de trabalho, fui crescendo, fui professor universitário, fiz mestrado.

 

Quando e onde o senhor fez o mestrado?

 

FM: Na UFRJ, na Escola de Comunicação, em 1977.

 

Como era o seu relacionamento com os colegas do Andrews?

 

FM: Eu era muito tímido no ambiente em que trabalhava, mas não tinha dificuldade. Em geral, me dei sempre bem, eles sempre me respeitaram e eu a eles.

 

E seus alunos, o senhor se lembra de algum fato marcante?

 

FM: Eu era muito severo com meus alunos, porque aquele era o modelo de professor dar aula. Era um contraste, ao mesmo tempo em que eu dava uma aula muito alegre, brincava com eles, eu era muito severo quando o aluno fazia qualquer coisa que eu não gostava. Mas mesmo assim eu era muito querido pelos alunos.

 

Em que ano o senhor deixou o Andrews?

 

FM: Em 1977. Eu nunca pensei que fosse sair do Andrews, porque meu contrato era regido pela lei antiga, que efetivava com 10 anos de serviço, no tempo em que o diretor era o Edgar Azevedo.

 

O senhor pegou diferente direções no colégio, sente alguma diferença entre elas?

 

FM: Peguei o doutor Carlos, depois o Edgar Azevedo e o Edgar Flexa. Eu tinha muita cerimônia com o doutor Carlos e tive pouco contato com ele, até porque, como os diretores daquele tempo, ele era um homem de gabinete, nos recebia muito bem, com muita cortesia, mas não era um homem popular no colégio. Já o Edgar Azevedo foi um amigo, um irmão, tenho muita saudade, ele faz parte de muitas páginas da minha vida. O colégio sempre foi muito bom para mim, sou muito grato ao colégio, e ao Edgar Flexa também.

O Edgar Flexa brincava muito comigo, ele já era um diretor mais moderno, percorria o colégio, conversava com todos nós, ia à sala dos professores. Era outra época.

 

Que matérias o senhor dava no Andrews?

 

FM: Eu dava Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Portuguesa, Teoria de Literatura e Língua Latina. A maior parte do tempo que passei no Andrews foi dando aula no curso Clássico. Em 1977, o professor Walmiro Macedo, que era o chefe do departamento de Letras da Santa Úrsula me chamou, porque eu era o único da equipe que dava Filologia Românica, e me ofereceu mais horas de trabalho. Para mim era vantajoso. Eu já tinha dado o meu quinhão ao Ensino Médio. Quando me fizeram o convite, pedi uns dias para pensar. Eu tinha um grande amor ao Andrews, o colégio foi muito importante na minha vida. Meus filhos me aconselharam, dizendo que era uma oportunidade para eu ficar definitivamente no ensino superior. Eu resolvi conversar com o pessoal do Andrews. Fui recebido pelo doutor Carlos, ele me recebeu muito bem. Eu falei: “doutor Carlos, apareceu uma oportunidade na Santa Úrsula. Sei que a hora é um pouco imprópria, mas vou ficar até que o senhor consiga um novo professor”. Ele ficou meio pasmo, e então disse: “lamento profundamente, mas é uma decisão sua e tenho que respeitar”. Fui embora. No dia seguinte, o Edgar me chamou para conversar e disse: O que te deu na cabeça?” Eu respondi: “vou embora”. Ele falou: “pensa mais um pouco Moraes”. Mas continuei firme na decisão de sair. No dia 17 de agosto, chegou um professor mais moço que eu. Eu o coloquei a par de tudo que tinha feito com as turmas. Conversei com os alunos, eles ficaram muito agitados, depois levei o Sena e o apresentei.

 

Seus filhos estudaram todos no Andrews?

 

FM: Todos os quatro. Dois terminaram a terceira série do segundo grau. Minha filha terminou o ginásio e saiu para fazer o curso normal.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam. O que o senhor acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

FM: Tem uma tradição de bom ensino e de seriedade. Ele não vai acabar nunca. As gerações vão passando, as diretorias vão se substituindo, mas o Andrews vai ficar porque ele começou sério, viveu sério, pregou sempre o que havia de mais moderno em filosofia de ensino, procurou sempre selecionar o que havia de melhor. O Andrews teve grandes professores. Ele tem tradição, bom nome, ensino eficiente, corpo docente bom, renovações, atualizações. É por isso que ele vai adiante.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

FM: O Andrews passou a ser como uma pessoa, ele acompanhou a minha vida como um ser humano. Eu vivi lá grande parte da minha vida, sempre cercado de amigos. Eu fazia teatro com os alunos, fazia a Semana de Atividades Artísticas. Uma época eu incuti na cabeça do Edgar Azevedo a ideia que nós precisávamos fazer uma feira de caridade, como a Feira da Providência. Eu fazia isso sozinho com os alunos, uns poucos professores me ajudavam, eu queria que fosse coisa de alunos. Era em outubro. Eu fiz durante dois anos. A dona Eunice tratava de arranjar as casas de caridade e distribuía o dinheiro arrecadado. Fiz também exposições lá. A última exposição dos trabalhos de literatura foi muito bonita. Nesse ano eu dava Literatura Brasileira, do romantismo ao modernismo, então a cada livro que eu trabalhava, eu levava as turmas para a sala de artes plásticas e orientava os alunos a transformar em artes plásticas o livro lido, passando do código linguístico para o plástico. Eu me lembro de um grupo que fez um trabalho sobre tupinismo na obra de José de Alencar, porque eles leram o livro O indianista. Eles transformaram palavras em formas. A exposição ficou linda, quase não tinha nada escrito. Foi uma inovação.

 

O senhor quer acrescentar alguma coisa?

 

FM: Eu queria deixar consignado nesse depoimento que, se por um lado eu tenho esse amor ao Andrews, eles nunca deixaram de ter por mim também. Depois que me afastei do colégio, recebi convites para todas as festas do dia do mestre. Quando eventualmente encontrava com alguns deles, pediam para eu ir visitar o colégio. Eu tenho esse amor por eles, mas deixei um pouquinho dentro deles também. Eunice era tesoureira do colégio, era muito minha amiga. Eu gosto muito da Guilhermina, ela foi muito amiga da minha irmã. O professor Aluísio era outro amigão meu. Edgar, sempre amigo, eu sei que qualquer hora que precisar de uma palavra dele, ele vai me dar.

 

Muito obrigada, professor, pelo seu depoimento.

 

 


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