Gabriel Lacerda

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Gabriel Lacerda

Rio de Janeiro, 8 de abril de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Quando e onde você nasceu?

 

GL: Nasci no Rio em 1939, no dia exato em que começou a II Guerra Mundial.

 

Quem foram seus pais?

 

GL: Maurício de Lacerda Filho, médico, e Gilda Araújo de Lacerda, dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

GL: Estudei num colégio que era perto de casa, chamado Ginásio Laranjeiras. Eu era filho único, bom aluno, primeiro da classe, tirava sempre as melhores notas. Terminado o Ginásio, eu fui para o Andrews, em 1955, fazer o curso Clássico.

 

Qual foi a sua primeira impressão do Colégio Andrews?

 

GL: Passei a infância e o início da adolescência em uma única escola, ir para um colégio novo era uma coisa muito assustadora. Mas junto comigo entrou no Andrews o Sérgio Lacerda, meu primo, que já conhecia o Edgar, filho do dono. O Sérgio veio do Colégio São Bento, de onde vieram também dois amigos seus, o Luís Buarque de Holanda e o Mauricio Magnavita. Formou-se desde o primeiro dia uma patota, que durou até o final do curso. Era uma turma privilegiada.

 

Quais os professores que ficaram mais marcados para você?

 

GL: Tinha professores fantásticos, como o Antônio Penna, professor de Filosofia, um talento. O Omar da Silveira, professor de Latim. Eu adorava Latim. O Matoso Câmara, o Sérgio Delamare. Naquele tempo você tinha que começar a escolher a profissão aos 15 anos, pois havia a divisão entre os cursos Clássico e Científico. Como eu queria ser advogado, fui para o Clássico, onde a matéria mais importante era Latim, e tive um professor extraordinário. Nas disciplinas científicas os professores não eram tão marcantes.Havia também a imortal madame Jacobina. Todo mundo tem tremendas recordações dela. Eu era muito bom em Francês, e ela, ao mesmo tempo em que me adorava, não gostava que eu fosse exibido. Ela me disciplinava muito. Eu tinha uma relação de amor e ódio com ela muito forte.

 

Você participou das peças de teatro da madame Jacobina?

 

GL: Não. Foi muito marcante para mim, porque as pessoas têm temas existenciais, e o meu era ser filho único, solitário. Toda a minha infância eu morei em um prédio que não tinha vizinhos. No Colégio Andrews eu imediatamente fiz amigos, e comecei a ter uma vida social no início da adolescência. A turma que se formou era muito peculiar, que tinha a participação do filho do dono, do filho e do sobrinho do Carlos Lacerda, do cara que tocava violino, do Buarque de Holanda. Formamos uma turma original dentro do colégio, e uma amizade que dura até hoje.

 

Você se lembra de algum fato engraçado ou curioso dessa época de colégio?

 

GL: Teve A Pedra, que nós fizemos de brincadeira, era um jornal de oposição. Tinha um jornal feito por um colega nosso, que era aquele jovem absolutamente careta, convencional. Tinha uma noiva, que ia apanhá-lo no colégio; o nome dele era Fernando Albale. De brincadeira resolvemos fazer um jornal de oposição. Oposição a que? A nada. O Fernando Albale se aborreceu. Mas depois ficamos amigos. De episódios engraçados tinha também uma professora de Filosofia que era cantora de ópera e nós fazíamos serestas para ela (eu e o Maurício que gostava de ópera), ela se chamava Leonor. Nas aulas que ela dava sobre Descartes, ela falava como se ele fosse um gênio maligno.  Para mim, os quatro amigos foram tudo. Era uma patota notável. O Luís Buarque de Holanda ia de blazer, cachecol e anel de brazão da família. O Maurício tinha aquela esnobação de falar de música clássica, tocava violino. Era um pedantismo só. Não sei como éramos vistos pelo resto da turma.

 

Você acha que o colégio teve alguma influência na sua escolha profissional?

 

GL: Não. Quando eu entrei para o colégio, fui fazer o curso Clássico exatamente porque eu estava decido a fazer Direito para não ser político.

 

Quando você saiu do Andrews você foi fazer vestibular para a PUC?

 

GL: Fiz vestibular na PUC. Entrei em 1958 e me formei em 1962.

 

Fale um pouco sobre a sua carreira como advogado.

 

GL: A minha carreira foi presidida pela capacidade de trabalho, com certa fosforescência verbal, e o medo do risco. Comecei a trabalhar em escritório de um amigo da família, eu era o menino comportado. A dona Maria do Carmo Nabuco uma vez disse que sou um sujeito de má fama e bom comportamento. E a minha carreira foi sempre assim: um pouco de má fama e muito bom comportamento.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

GL: Enquanto colégio foi fundamental na minha vida, mas principalmente porque foi lá que eu conheci e formei as primeiras e eternas amizades.

Os gostos intelectuais que tenho foram um pouco formados no Andrews. O Maurício Magnavita nos educou a todos, ao Edgar inclusive, no gosto da música clássica e da ópera. A presença da madame Jacobina me fez curtir muito o fato de falar Francês.

 

De uns tempos para cá muitos colégios fecharam. O que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

GL: Um pouco, talvez, a pluralidade, era um colégio aberto, misto, tinha muito judeus. Eles eram recebidos no Andrews de igual para igual, na nossa turma tinha as flores de Israel.

 

Você viu alguma diferença do ensino da sua época para a época de seus filhos?

 

GL: Eu não acompanhei muito os meus filhos. Sempre curti aquela ideia de que a minha turma foi a turma de luxo, que teve os melhores professores do Andrews. E isso deve ser verdade.

 

Muito obrigada, Gabriel, pelo seu depoimento.

 


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