José Loureiro

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com José Loureiro

Rio de Janeiro, 6 de junho de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

JL: Eu nasci em Portugal e vim para o Brasil com três anos de idade. Estudei na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Me casei com uma brasileira. Meus filhos são brasileiros. Me sinto totalmente brasileiro.

 

 

E quem foram seus pais?

 

JL: O meu pai se chamava João Rodrigues e a minha mãe Maria Aurora Antunes Loureiro. Eles eram camponeses. O meu pai, além de camponês, era pedreiro também. Minha mãe era totalmente analfabeta. Meu pai sabia desenhar o nome. Vieram para o Brasil em busca de melhores oportunidades e efetivamente conseguiram.

 

 

Seus primeiros estudos foram aqui no Brasil?

 

JL: Foram. Era o antigo Distrito Federal. Estudei na escola pública Joaquim Nabuco, onde fiz da primeira até a quinta série do antigo primário. Depois fiquei um ano sem estudar, porque em 1958 fui com meus pais para Portugal, onde ficamos dez meses. Quando voltei, em 1959, fui fazer novamente a quinta série. Depois fiz o ginásio no Instituto Copacabana. Quando terminei o ginásio, fui para o Colégio Juruena, estudar à noite, já que comecei a trabalhar num banco, com 16 anos de idade. Fiz o pré-vestibular no curso Hélio Alonso e passei para História no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Fui da primeira turma do IFCS. Me formei em dezembro de 1971.

 

Qual foi o seu primeiro emprego já formado em História?

 

JL: Em 2008 vão fazer 40 anos que estou em sala de aula. Eu não tinha ainda começado as aulas na faculdade e já estava dando aula em um curso que na época se chamava Artigo 99 (Madureza) e que hoje seria o Supletivo. Durante toda a minha vida universitária, eu dei aula, inclusive já em cursos de vestibular. Mas, posso dizer que o meu primeiro emprego de peso foi no Colégio Andrews.

 

Quando você entrou? Quem te contatou?

 

JL: Fui contratado pelo Andrews em fevereiro de 1972. É uma história interessante. Meu pai, que nessa época era motorista de táxi, me contou que transportou uma professora até o Colégio Andrews e que ela tinha dito que eles precisavam de professores de História. Eu falei: “Como é que eu vou chegar assim na cara-de-pau no Colégio Andrews?” Então, de repente me lembrei que na faculdade eu tinha sido aluno do professor Antônio Carlos, que era proeminente dentro do Colégio, uma espécie de secretário-geral, algo assim. Então eu fui procurá-lo e ele me recebeu muito bem. E naquela hora ele me contratou.

 

Quais turmas você pegou?

 

JL: Fui dar aula no primeiro ano Científico. Numa época em que, se não me engano, o Andrews tinha 11 turmas de primeiro ano. E realmente foi uma experiência fantástica. Enquanto professor, enquanto profissional, eu aprendi muito no Colégio Andrews. Eu conheci o professor Carlos Flexa Ribeiro e tive algumas reuniões com ele. Ele sempre foi muito simpático com a equipe de História, especificamente comigo. Teve também o Edgar, que começou a ser diretor da escola no ano que eu comecei a ser professor. Quando fiz 30 anos na escola, até comentei com ele: “Nós estamos fazendo 30 anos de Colégio Andrews, você como diretor e eu como professor”. Outra pessoa que também foi importante foi a Lúcia Hippolito. Em um determinado momento ela ficou como coordenadora de História e percebeu que a equipe queria fazer algo mais avançado, diferente daquilo que estava sendo feito. E ela apoiou integralmente a equipe. Nós demos uma prova de interpretação de texto com consulta. Os alunos recebiam os textos uma semana antes da prova e no dia chegavam com o livro. Foi uma experiência muito interessante. A professora Penha Jacobina, de Química, que era um ícone do Colégio, também foi uma pessoa que me deu muita força quando eu estava recém-chegado.

 

Como foi seu percurso no colégio?

 

JL: Acho que uns dois anos depois que eu cheguei fui chamado para dar aula na oitava série. Mais ou menos uns seis anos depois, a Lúcia Hippolito, que dava aula para o terceiro ano, decidiu se afastar do colégio e me indicou para o lugar dela. Então, eu fiquei com a oitava, o primeiro e o terceiro. Foi muito interessante. Eram três experiências diferentes, mas muito enriquecedoras, que contribuíram muito para o meu crescimento profissional.

 

Você dava aula de História Geral ou História do Brasil?

 

JL: Na terceira série, eu dava aula de História Geral. Na primeira série, nós dávamos História Antiga. E na oitava série, juntava história Geral e História do Brasil.

 

Como era o seu relacionamento com os seus colegas?

 

JL: Muito bom, muito bom. A Praia de Botafogo era fantástica. O relacionamento dos professores com a direção, dos professores entre si e com os coordenadores era muito bom. Aquilo funcionava como se fosse uma verdadeira família, na qual efetivamente havia as cobranças, em termos de rendimento, não só como professor, mas com relação ao aluno. Algo que chamava muita atenção era a manutenção da equipe. O Andrews, na Praia de Botafogo, tinha muito essa característica da longevidade da equipe. Mas era uma equipe que se reestruturava. As pessoas estavam constantemente estudando, entrando em contato com as literaturas mais atuais. Tanto que durante muitos e muitos anos, o Andrews teve sempre os primeiros alunos em termos de vestibular.

 

Você se lembra dos seus alunos?

 

JL: Eu me lembro de alguns. Eu guardo fisionomia, mas nome de aluno, eu sempre tive problema de guardar. Eu me lembro de algumas figuras importantes. O Bernardinho era um excelente aluno. Eu vi uma entrevista dele para a TV Globo e para a TV Futura em que ele dizia que ele é hoje o que ele era quando garoto, jogava o vôlei dele, inclusive no colégio. O Frejat foi um aluno muito interessante, estudioso, inteligente.

 

Você viu alguma diferença entre as direções que você pegou do colégio?

 

JL: Na realidade, como direção eu tive o Edgar e depois o Pedro. Na mudança da Praia de Botafogo para a Visconde Silva começamos a ter a direção do Pedro. O Edgar é uma pessoa muito carismática, além de ser uma pessoa extremamente competente.

 

Você identifica fases diferentes no Andrews?

 

JL: Sim. Eu entrei no início dos anos 70 e o colégio sofreu um pouco da crise da sociedade brasileira do final dos anos 80. Aquela passagem da ditadura militar para um regime mais aberto, mais democrático. Não sei por que parece que o colégio não conseguiu encontrar soluções para superar a crise mantendo o numerário de alunos, porque a qualidade, de alguma forma, foi mantida.

 

Como funcionava o sistema de créditos criado nos anos 90?

 

JL: Era o antigo supletivo. Geralmente, o que acontecia era o seguinte: um aluno reprovado no segundo ano ia para o sistema de crédito do Andrews e em seis meses completava o Ensino Médio. Muitos deles, embora reprovados no segundo ano, tinham sido aprovados no vestibular da PUC. As famílias entravam na justiça com um mandato de segurança e a PUC dava seis meses para que eles apresentassem o diploma. Era o tempo suficiente para eles completarem o curso.

 

Você destacaria algum elemento na orientação pedagógica do Andrews diferente de outros colégios?

 

JL: Na Praia de Botafogo eu tive orientadores mais educacionais e não pedagógicos. Quando eu entrei no colégio, a pedagogia, embora se inovasse de acordo com o que acontecia no campo pedagógico, procurava manter certa tradição de um colégio que tinha uma grande exigência acadêmica. Muitos alunos saíam no meio do ano e iam para outros colégios porque não aguentavam o ensino do Andrews. Foi sempre uma pedagogia bastante livre, bastante liberal. Mas era um liberal que ainda tinha aqueles traços de tradição. Não a tradição tradicional, antiga, a tradição de ser, sob o ponto de vista acadêmico, um colégio de ponta. E efetivamente era um colégio de ponta sob o ponto de vista acadêmico.

 

Quando você assumiu a coordenação?

 

JL: Entre 1996 e 1997. A princípio, assumi a coordenação da segunda série. Com isso, eu tive que sair do terceiro ano, que funcionava na Visconde de Silva, enquanto o primeiro e segundo funcionavam na Praia de Botafogo.

 

Você continuava dando aula?

 

JL: Continuei tendo uma turma de primeiro ano.

 

Você ficou como coordenador até quando?

 

JL: Até 2006.

 

Sempre do segundo ano?

 

JL: Em determinado momento passei a ser coordenador de primeiro e segundo ano. E depois, o terceiro ano foi para a Praia de Botafogo e eu fazia a coordenação.

 

Quando você parou de dar aula no Andrews?

 

JL: Eu só parei totalmente de dar aula no Andrews quando o coordenador geral foi demitido no meio do ano. Eu era coordenador e professor do terceiro ano, já na Visconde de Silva. O Edgar me pediu que saísse de sala de aula e ficasse exclusivamente na coordenação porque era um momento importante dentro da escola e ele me queria presente totalmente na coordenação. Em 2006, o Marco Antônio, professor de História, teve problemas cardíacos e teve que ficar uns 20 dias fora do colégio, e eu o substituí. Quando havia algum problema na parte de História, eu entrava e solucionava.

 

Com uma nova geração na direção do Andrews, com a reunião de toda a escola na Visconde de Silva, você viu mudanças significativas nos rumos do colégio?

 

JL: Acho que alterou sim. A parte pedagógica, enquanto teoria, passou a ter uma importância muito grande dentro da escola.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que resistiu ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

JL: O Andrews vive da tradição. Embora eu tenha saído, particularmente tenho um carinho muito especial pelo colégio, porque uma grande parte do meu sucesso como profissional devo ao Andrews. Eu ficaria muito triste, não só como ex-professor, mas como professor, se por acaso um dia o Andrews resolvesse fechar as suas portas. A importância que o Andrews teve e tem no ensino dentro da cidade, inclusive como exemplo, é grande.

 

Qual foi a importância do Andrews na sua vida?

 

JL: Uma característica que a minha geração teve de bom e que acabou sendo extremamente importante no Andrews foi estudar. Então, eu ia para as bibliotecas, eu abria crediários para comprar livros, estudava muito, preparava muitos textos. Com isso, consegui uma bagagem de leitura e cultural, não só de História, muito boa. E quando eu entrei no Andrews, eu sabia que, além de ser um colégio de ponta em termos de professores, era um colégio de elite socioeconômica do país, e essa elite tinha um conhecimento cultural muito grande. E isso era cobrado pelos alunos, além do conhecimento específico. Acho que o Andrews me deu uma disciplina profissional. Nós tínhamos que fazer um planejamento anual e entregar para a direção, as orientadoras olhavam nosso diário de classe para ver o que estava sendo dado, as provas eram analisadas. Acho que o Andrews contribuiu, sob o ponto de vista acadêmico, para solidificar aquele conhecimento que eu tinha adquirido na universidade e nos anos de chumbo. Durante muitos anos eu achava que era apenas um professor. Com o passar do tempo, e até com esse cargo que passei a ter de coordenador, eu comecei a perceber que não era apenas um professor e era também um educador. Eu me tornei um profissional reconhecido na cidade do Rio de Janeiro e em grande parte eu devo isso ao Andrews. Colocar de um lado o político e de outro a amizade, eu também consegui no Andrews. O Andrews é muito importante na minha vida como pessoa e como profissional.

 

Você mantém ainda contato com seus colegas do Andrews?

 

JL: Mantenho. No meu aniversário sempre chamo alguns colegas.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

JL: Eu quero mais uma vez agradecer pelos 34 anos que passei lá. O Andrews contribuiu muito para a minha formação. Eu não fui aluno, mas ter sido profissional do Colégio foi muito importante para mim. Foi muito bom.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 


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