Luís Alfredo Garcia Roza

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Luís Alfredo Garcia Roza

Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

LAGR: Nasci no Rio de Janeiro, em 16 de setembro de 1936.

 

Quem foram seus pais?

 

LAGR: Almir Garcia Roza e Diva Mota Garcia Roza. Meu pai era advogado e minha mãe era o que se chama prendas do lar.

 

Onde foram seus primeiros estudos?

 

LAGR: Estudei em Copacabana, no Colégio Melo e Souza e no Colégio Mallet Soares, alternadamente. Eu fiz o Primário e o Científico no Colégio Mallet Soares e o Ginásio fiz no Colégio Melo e Souza.

 

Que faculdade você cursou?

 

LAGR: Fiz faculdades de Filosofia e de Psicologia. Eu comecei o curso na Faculdade Nacional de Filosofia e tive que passar para a UEG, depois UERJ.

 

Você cursou as duas faculdades concomitantemente?

 

LAGR: Primeiro eu fiz Filosofia, com pós-graduações em Psicologia.

 

Qual foi seu primeiro emprego como professor de Filosofia?

 

LAGR: Foi uma passagem muito rápida por um colégio que existia em Ipanema chamado Ginásio Orlando Roças que, não sei por que razão, chamavam de Melo e Souza feminino. Em seguida, fui para o Andrews.

 

Como foi seu primeiro contato com o Colégio Andrews?

 

LAGR: Eu fui a convite do professor Antônio Gomes Pena, que tinha sido meu professor na Faculdade Nacional de Filosofia e depois no Instituto de Psicologia, de quem fui assistente por muitos anos.

 

 Que turmas você pegou no Andrews?

 

LAGR: Fui dar aula no curso Clássico. Gostaria de dizer, antes de qualquer coisa, que foi uma das melhores experiências que tive na vida como profissional, porque, muito jovem, caí em um colégio que era o que de melhor havia no Rio de Janeiro, com os filhos da elite intelectual. Os meus alunos eram de nível altíssimo, e eles eram pouco mais jovens do que eu. Durante 13 anos fui professor do Andrews e me dei muitíssimo bem. Foi uma experiência fantástica, peguei turmas do curso Clássico. Para os primeiros anos eu dava Psicologia, e no segundo e terceiro anos eu dava Filosofia.

 

Você também dava aula de Psicologia?

 

LAGR: Sim, pois nessa época não havia separação entre as disciplinas. Era uma carga pesada, três dias de aula dupla por semana.

 

Quando você trabalhou no colégio já existiam as classes experimentais?

 

LAGR: Já, mas para mim não fazia diferença. Eu peguei tanto turmas experimentais como tradicionais. Eu não sentia muita diferença em termos do aluno.

 

Como foi seu relacionamento com seus colegas do Andrews?

 

LAGR: Meus colegas eram bem mais velhos do que eu. Eu tinha uma carga horária muito pesada, quando terminava eu ia embora, só encontrava com os professores na hora do cafezinho. Eu me dava com o Maurício Silva Santos, mas era muito voltado para os alunos. O colégio tinha grandes figuras, professores da Faculdade Nacional de Filosofia, o Eremildo Vianna, o assistente dele, Antônio Carlos.

 

Você pegou diferentes direções no Andrews?

 

LAGR: Quando eu entrei o diretor era o doutor Carlos. Peguei o Edgar como diretor quando eu já estava quase saindo.

 

Você tinha contato com o doutor Carlos?

 

LAGR: Ocasionalmente. Acontecia de chegarmos à mesma hora e encontrávamos no pátio, lá conversávamos um pouco. Eu gostava muito dele, sentia que tinha um diretor que respondia por aquilo que estava fazendo com excelência, ele tinha uma excelência no fazer dele, que o Edgar também tinha. Eu me sentia seguro como professor.

 

Você viu fases diferentes no colégio durante esse período que trabalhou lá?

 

LAGR: Não uma fase diferente no colégio, mas no país, a partir de 1964. Mas essa mudança não repercutiu negativamente lá dentro, eu continuei trabalhando, coisa que não aconteceu nas outras faculdades, onde havia uma interferência mesmo.   

 

Você destacaria algum elemento na orientação pedagógica do Andrews diferente de outros colégios?

 

LAGR: Não posso responder, porque não tive experiência em outro colégio, só no Andrews dei aula no ensino secundário. Quando saí do Andrews é porque eu não conseguia mais conciliar minha vida de professor universitário com professor de colégio.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam. O que você acha que o Andrews tem que resiste ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

LAGR: Sem dúvida alguma a qualidade de ensino, qualidade dos professores, uma direção segura. Sempre que as pessoas me perguntavam em que colégio colocar os filhos eu sugeria o Andrews. Apesar de saber que certos colégios religiosos tinham também um padrão de ensino muitíssimo bom, sempre tive preferência por um colégio laico.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

LAGR: O Andrews significou o meu ingresso na vida profissional. Estou minimizando a minha experiência no Orlando Roças porque foi muito rápida. Foi através do Andrews que isso se fez de uma maneira mais forte. Quando entrei para o colégio, vários professores de lá eram catedráticos de universidades federais. Aquilo que poderia me intimidar me encorajou, vi que tinha que me confrontar com um padrão muito alto. Então, trabalhei muito duro, com afinco e com uma dedicação quase integral no Andrews durante 12 anos.

 

Quando começou a dar aula na UFRJ?

 

LAGR: Em 1966, ainda na Universidade do Brasil no curso de Filosofia. Algum tempo depois comecei a fazer mestrado e doutorado, sem bolsa de estudos. De modo que os seis primeiros anos de trabalho no Andrews foram aqueles em que ganhei força, ganhei confiança.

 

Após sua saída do Andrews, como foi sua carreira?

 

LAGR: Eu saí do Andrews para assumir plenamente a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dois anos depois, fui chamado pelo professor Carlos Paes de Barros para montarmos a pós-graduação de psicologia na PUC. A partir de 1972 fiquei só com a federal, tempo integral, dedicação exclusiva, professor de graduação, de mestrado e doutorado.

 

Você ainda dá aula?

 

LAGR: Não, eu saí da universidade em 2000.

 

Você sente falta da sala de aula?

 

LAGR: Não, eu dei aula quase 40 anos, só na federal foram 36 anos, e era todo dia em tempo integral. Quando eu saí, eu tinha feito o que queria ter feito lá, montei uma pós-graduação, mestrado e doutorado em teoria psicanalítica, coisa que não existia em lugar nenhum. Quando decidi escrever ficção, em 1995, fiz uma experiência para ver se dava certo, e deu certíssimo. Assim, saí da universidade e cortei inteiramente a atividade acadêmica, passando a me dedicar inteiramente à ficção. Não há porque ter saudade.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

LAGR: Ser professor do Andrews foi uma grande alegria da minha vida. Minha vida como professor universitário não seria a mesma se não fosse essa experiência prévia no Andrews. Quando comecei a dar aula na universidade eu já tinha seis ou sete anos de experiência de Andrews, que não é a mesma coisa que uma experiência em um curso secundário qualquer. Quando fui falar com o Edgar que tinha que sair, ele tentou de todas as maneiras me segurar. Foi uma decisão muito difícil.

 

Você tinha total liberdade de montar o conteúdo das suas aulas?

 

LAGR: Absolutamente, eu montava as minhas aulas da maneira que queria, nunca fui coagido. Eu suponho, inclusive, que isso passasse por uma coordenação de ensino. O curso era Filosofia, sendo que no primeiro ano era Psicologia para Adolescentes, no segundo e terceiro anos eu dividia: Filosofia Antiga e Medieval em um ano e Moderna e Contemporânea no outro. Cansei de encontrar alunos meus saindo de lá e entrando direto para a Faculdade de Filosofia, sem cursinho pré-vestibular. E eles diziam: “professor, eu tinha mais aulas de Filosofia no Andrews que na faculdade”.

 

Dos seus ex-alunos, quem você se lembra?

 

LAGR: John Neschling, Eduardo Álvares, o filho do embaixador Azeredo do Silveira, etc.

 

Muito obrigado, professor, pelo seu depoimento.

 


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