Luis Erlanger

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Luis Erlanger

Rio de Janeiro, 8 de abril de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Quando e onde você nasceu?

 

LE: Nasci no Rio de Janeiro em 11 de maio de 1955.

 

Quem eram seus pais?

 

LE: Meu pai era Ernest Erlanger, filho de alemães, e minha mãe, que é viva, ativa, sensacional, é Clotilde Virgínia Horta Barbosa, descendente de português e espanhol.

 

Qual era a profissão dos seus pais?

 

LE: Meu pai era economista e minha mãe era funcionária pública. Pelo fato de ela ser funcionária pública, eu tive o privilégio de estudar em um dos melhores colégios do Rio de Janeiro, cujo nome é Colégio da Associação dos Servidores Civis do Brasil.

 

Até que ano você ficou na Associação?

 

LE: Como eu era bom aluno, a ASCB me ofereceu bolsa de estudos para eu continuar, e eu fiquei lá até o final do Ginásio. Fui para o Andrews cursar o Clássico.

 

Como foi a sua primeira impressão do Colégio Andrews?

 

LE: Primeiro foi um susto no meu pai quando eu manifestei o desejo de fazer o curso Clássico. Na minha época não era uma escolha clássica. Para se ter uma ideia, das três turmas do Clássico, não dava para fazer um time de futebol pela pouca quantidade de homens ali espalhados. Uma das grandes recordações minhas do Andrews era estudar no universo feminino, que era muito mais interessante. Eu fui para o Andrews porque meu pai tinha estudado no Colégio Aldrich. Na nossa visão, o Andrews tinha a dosagem certa. Ele era duro, mas desenvolvia as qualidades libertárias que um jovem deve ter. Ele era aberto à discussão, precursor de cursos de teatros. Eu tinha expectativas, algumas ruins, como todo novato, em relação ao Andrews, mas quando cheguei ao pátio, acabou tudo.

 

Quais professores ficaram marcados para você?

 

LE:  De alguns professores eu lembro bem e gostei muito. Um por uma questão mais folclórica, que era o Mrs. Arditti, um professor de Francês apaixonado pela França. Outro era o Moraes, professor de Literatura. Ele era um maestro, regia a turma. Na verdade, acho que ele foi precursor do professor performance. Era algo muito atraente. Eu me lembro que a turma se dividia, alguns o achavam histriônico demais, outros adoravam. Outra professora que me lembro muito é da Lúcia Hippolito. E também do Chico Alencar. O Chico, a meu ver, era o fio terra do Andrews com o Brasil real e social. Ninguém falava na época em periferia, mas para nós, da turma do Chico, era comum sairmos para estudar na Tijuca, na casa dele, e depois subir o Morro do São Carlos para assistir a um pagode. Outro mérito do Andrews era essa história do arco da sociedade. Tinha desde um professor culto francês, a uma aguerrida professora de história contemporânea, a um militante de esquerda, que era o Chico, com uma visão extremamente humanista. Assim como o Moraes era o mis en scène, o Chico era a música popular brasileira, a história brasileira. Há uns três anos eu reencontrei o Demétrio Nicolau. Para mim é a experiência mais excitante e traumática no mundo da cultura e das artes. Eu fui do TACA. Eu participei de duas peças: A moratória, na qual eu trabalhei como contra regra, e por isso sabia todo o texto de cor, e uma peça chamada O Natal na praça, de um escritor francês. Décadas depois eu estava trabalhando na Globo e fui procurado pela Diocese de São Paulo para promover um evento natalino. Eu, por coincidência, tinha reencontrado o Demétrio e tive a ideia de montar um auto de Natal. Montamos O Natal na praça. Isso já está no calendário da Diocese de São Paulo e esse ano estaremos indo para o quarto ano consecutivo. Essa minha experiência teatral foi definitiva para eu saber que não era um homem de teatro.

 

O Andrews teve alguma influência na escolha da sua profissão?

 

LE: Foi importantíssimo eu ter escolhido fazer o Clássico no Andrews. Para mim, o divisor de águas foi o Clássico. Quando falei em casa que ia fazer o clássico, teve um mini-trauma paterno, porque eu ainda sou da geração que os pais queriam que os filhos fossem engenheiros, médicos ou advogados. O Clássico era opção de mulher. Eu tinha muitos interesses, seria incapaz de me dedicar a uma pesquisa laboratorial. O que me atraiu para o Clássico foi a questão da diversidade. O mérito do Andrews foi ter um curso Clássico extraordinário. Todas as cadeiras eram ministradas por excelentes professores, com abertura. E por ser um colégio de elite do Rio de janeiro, a convivência se dava em um ambiente instigante. É bem provável que pessoas que estudaram ali tenham ido trabalhar juntas, porque é um ambiente efervescente em termos de educação. Curiosamente, eu mantenho contato até hoje com uns três ex-colegas.

         Também na formação pessoal, foi maravilhoso estudar entre mulheres. As primeiras grandes paixões que tive na minha vida foram todas originadas no pátio do Andrews. Vale registrar que nenhuma delas foi bem sucedida, porque era aquela fase que uma moça não tinha o menor interesse em um rapaz da mesma faixa etária. É nessa época que começo a escrever poesia. O Andrews da minha época faz parte de uma estirpe de escolas decisivas para a formação do ponto de vista humanista e profissional, sem dúvida.

 

Você foi fazer vestibular de que?

 

LE: Na época tinha o Cesgranrio e o vestibular era uma batalha ferrenha. Era unificado. E isso significava que eu, que queria fazer Jornalismo, estava disputando com alunos que queriam fazer Química, Física ou Medicina. O critério era seletivo. Ficavam os melhores resultados e cada um escolhia o seu. Era muito comum naquela época em vez de fazer o terceiro ano no colégio, ir para os cursinhos. E algo de que o Andrews se orgulhava era o seguinte: “não precisa fazer cursinho, fica estudando aqui com a gente”. Nós saímos da Praia de Botafogo porque as turmas do terceiro ano funcionavam em Copacabana. Eu não fiz cursinho, fiz o terceiro ano Clássico no Andrews e fui o 18° colocado geral do Cesgranrio. Poderia ter escolhido o curso que quisesse. Isso a meu ver é fruto do Andrews.

 

Você foi cursar jornalismo em que faculdade?

 

LE: Optei por fazer a ECO, Escola de Comunicação da UFRJ. A partir de determinado período passei a acumular com estágio e depois com um trabalho de meio expediente na Zahar Editores, na área de divulgação. Isso foi excelente porque me obrigou a ler. Por ocasião da minha formatura, o jornal O Globo estava contratando estagiários para ajudar na apuração das eleições de 1974. Eu tive sorte. Caí numa Zona Eleitoral onde a votação era muito rápida. Fui o primeiro estagiário a chegar com os dados da votação na Redação. O editor na época era o Iran Frejat. Ele me convidou para ficar lá estagiando. Eu, corajosamente, disse que primeiro queria me formar. Fui embora. Quando me formei fui procurar o Frejat para aceitar aquela vaga. Para sorte minha, tinha aberto uma vaga e eu comecei a trabalhar lá. Eu fiz no Globo uma carreira inusitada. Em 1982 teve a primeira eleição para governador. Como era ditadura, não tinha nem editoria de política. Fui designado para cobrir a Sandra Cavalcanti. Em um determinado momento, ela chegou a ter 60% das intenções de voto e eu, por ser muito jovem, fui deslocado para cobrir o Brizola, que só tinha 3%.  O resto da vida quando eu encontrava com o Brizola ele dizia: “começamos os dois de baixo”. Eu tive a sorte de pegar o candidato que se elegeu governador. Quando veio a campanha presidencial, o Globo me convidou para ir a Brasília. Acompanhei a eleição, a morte do Tancredo, a posse do Sarney e fui designado para o Palácio do Planalto. Foi um período de grande efervescência. Algo muito excitante. Acaba a Constituinte e fui convidado para vir para o Rio como editor de política. Fiquei aqui um tempo e depois fui convidado para voltar a Brasília como diretor de sucursal. Era época do governo Collor, de novo estive lá no olho do furacão. Posteriormente, me chamam para ser sub-editor chefe do Globo. Voltei para o Rio. Fiquei um bom tempo até que assumi como editor chefe, cargo que tive até 1996. Depois tive outra sorte. Vim para a TV Globo no período fundamental de virada do jornalismo. Depois de cinco ou seis anos na TV, fui convidado para assumir essa área de comunicação que estou hoje. Fiquei interessado porque estaria agregando às minhas funções atividades que jamais pensei que faria como criação; e passei a desenvolver projetos sociais que são muito legais – na área de educação, da cultura, de inclusão social. Eu sou conselheiro da Fundação Roberto marinho e da TV Cultura. Temos lá um programa chamado Minha escola. Um dos depoimentos mais emotivos que vi foi o  do Bernardinho falando do Colégio Andrews. Ele diz que o colégio foi fundamental nas escolhas e na personalidade dele.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

LE: O Andrews foi a ferramenta que me preparou para a vida. Eu tenho do Andrews uma visão muito mais pragmática do que lúdica. O que para mim não perde ponto em nada. É eficiência. É o que se busca de uma escola.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

LE: Nome. Uma marca. O Andrews da minha geração tinha a dosagem certa de escola que preparava para a vida. Porque a vida é dura, mas também é divertida. Então vamos ser lúdicos. Tinha teatro, cinema, literatura. Eu torço pelo Andrews.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.


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