Luiz Leonardo Cantidiano

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Luiz Leonardo Cantidiano

Rio de Janeiro, 6 de março de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

LLC: Eu nasci em Aracaju, Sergipe, em 13 de março de 1949.

 

Quem foram seus pais?

 

LLC: Meu pai é Renato, advogado; e minha mãe se chama Taís, é dona de casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

LLC: Em Aracaju, no Colégio Brasília. Vim para o Rio em 1956 e estudei um ano no Instituto Santo Antônio, em Laranjeiras. Depois no terceiro ano Primário fui para o Andrews, onde fiquei até o final do terceiro Clássico.

 

Como foram seus primeiros anos no Colégio Andrews?

 

LLC: Meu pai foi colega de turma da Guilhermina Sette e do Edgard Azevedo na Faculdade de Direito. Então, ele resolveu nos matricular no Andrews. Nós somos nove filhos, seis homens, todos estudaram no Andrews, e as três meninas no Colégio Jacobina. Do começo do Andrews eu tenho lembrança de alguns colegas que foram marcantes, mas muitos deles eu perdi de vista: Ronald Berger, que morava perto de mim em Laranjeiras; Virgílio Távora, que foi comigo até o último ano da faculdade de Direito (hoje ele é diplomata); Jacques Barsan; Roberto Felício Coimbra, também fez a faculdade de Direito comigo e eu ainda mantenho contato com ele. Ao longo dos vários anos fiz amizades mais chegadas: a Lúcia Hippolito, que foi minha colega no Ginásio e no Clássico; o Merval Pereira, que foi meu colega no Clássico. Um grupo com o qual eu não mantenho mais contato, mas foi muito marcante, fazia cinema novo, era o Gilberto Santeiro, a Violeta Santiago Dantas, o Quental, a Maria Clara Pelegrino. Era um grupo ligado mais à cultura. Fizemos um jornal chamado Agora. Eu me lembro que fiz uma entrevista com o Iberê Camargo para o jornal. Tinha o TACA.

 

Você chegou a participar do TACA?

 

LLC: Não, só assistia às peças.

 

E de seus professores, você se lembra?

 

LLC: Eu me lembro de muitos. O professor Maia, o professor Osmar, que era um durão, professor Aluísio, um doce de pessoa, a madame Jacobina, o seu Zuza, o Paulinho. Tivemos algo interessante, na reforma da educação nós fizemos o Ginásio experimental, que tinha Artes Plásticas, Filosofia, Sociologia. O Luiz Alfredo Garcia Roza nos deu aula de Filosofia, o Pascoal Segala de Português. A Julietta Strutt, que dava canto orfeônico, me botava no último lugar da sala. Eu não podia abrir a boca, pois tinha uma entonação péssima e nada musical. Tinha um professor de Artes Plásticas, que não me lembro o nome, ele era muito camarada, nos levava muito para o Jardim Botânico para ter aula. Os que me marcaram foram esses.

 

Depois do Ginásio, você foi para o curso Clássico?

 

LLC: Fui. Eu queria ser diplomata. Como, na época, para entrar para o Itamaraty o candidato tinha que estar cursando uma faculdade, eu pensei em fazer Direito para depois prestar o exame para o Instituto Rio Branco. Mas comecei a gostar do Direito e abandonei a ideia do Itamaraty. Eu me lembro de um colega do Ginásio e Clássico, o Sérgio Moreira Lima, que seguiu a carreira diplomata e hoje é nosso embaixador na Noruega. No Clássico, eu tinha também como colega a Teresa Pantoja, que fez  Direito e hoje é advogada.

 

Você acha que o Andrews teve alguma influência na sua escolha de profissão?

 

LLC: Não. No fundo, eu queria era fazer o Itamaraty. Como eu era mais chegado à parte de letras, dentro daquilo que eu via que poderia me ajudar a fazer o Itamaraty, o Direito era o melhor. Meu pai era advogado, mas acho que não teve uma influência maior. Depois sim. Quando comecei a faculdade, fui trabalhar com ele, comecei a gostar e larguei a ideia de ser diplomata.

 

Quando você entrou para a faculdade e qual delas você cursou?

 

LLC: Entrei em 1968 para a Universidade do Estado da Guanabara, UEG. E me formei em 1972.

 

Tem algum fato engraçado ou curioso que você se lembre dessa época no Andrews?

 

LLC: Tiveram vários. Todos nós éramos um pouco irrequietos. Nós íamos fumar escondido no banheiro. Eu me lembro muito da sala 11. Muitas noites eu fiquei lá de castigo. Eu fui suspenso três vezes. Um fato curioso foi que, no segundo ano Clássico, nós fomos para uma sala que era ao lado do auditório. A nossa turma tinha muita gente antiga, nos sentíamos até um pouco donos da escola, por conta disso. Nós não tínhamos um inspetor e nós abusamos. Então, nos transferiram para o prédio de trás, na sala onde tinha aula de Química. Nós fizemos uma greve, depois do recreio não fomos para a sala, a turma toda ficou no pátio. A turma inteira foi suspensa. Foi a única vez que eu fui suspenso e pude justificar em casa.

O terceiro ano Clássico nós fizemos em um cursinho com o qual o Andrews tinha convênio, que era o Ivan Alves. Esse ano nós cursamos em Copacabana, perto da rua Bolívar. O cursinho tinha um professor de Francês que, com um mês ou dois, nos abandonou. Eu fui conversar com o Ivan Alves, professor de Português no curso, e disse que entre nós tinha uma pessoa que podia substituí-lo. Era a Teresa Pantoja, que era extremamente conhecedora da língua francesa. Então, ela era nossa colega e durante a aula de Francês era nossa professora.

 

Qual foi a importância que o Colégio Andrews teve em sua vida?

 

LLC: Teve uma importância muito grande. O colégio tinha três ou quatro aspectos que eu achava relevantes. O primeiro é que não era um colégio religioso. Eu aprendi a conviver com pessoas de várias religiões, com posições diferenciadas. Eu tinha muitos amigos judeus. Não tinha aquela imposição da religiosidade. Eu fiz primeira comunhão na Igreja Imaculada da Conceição, mas não era algo que fosse exigido, ao contrário de outros colégios. O Andrews também tinha essa ideia da inovação, caso do próprio Ginásio experimental. Fizemos História da Arte, Artes Plásticas, Filosofia, Sociologia, Psicologia, matérias que não eram do currículo padrão. Outro aspecto era que o colégio dava certa liberdade, não era um lugar que massacrava o aluno. Nós sempre tivemos muita condição de discutir, debater, apesar da sala 11 e dos castigos. Era uma escola mais liberal. Não sei se isso também não ajudou a formar uma posição mais de convivência com os contrários, o colégio tinha essa característica. Eu me lembro bem que o professor Flexa Ribeiro era político, foi deputado, mas nada foi imposto a nós, as pessoas tinham a liberdade de pensar e falar o que queriam. O colégio tinha um grupo bastante representativo da sociedade. Lá estudavam o filho do Jorge Amado, os filhos do Roberto Marinho, os filhos do Caymmi e outros.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

LLC: Quando o colégio fez 70 anos, nós fomos à festa e demos uma placa para o colégio em nosso nome e no nome de um dos meus irmãos. Ele era o segundo dos nove. Ele estudou Física, estava fazendo PHD nos Estados Unidos, em 1975, e morreu num incêndio. Eu me lembro de uma conversa com o Edgar, na qual ele disse que o colégio precisava estar se renovando. Ele tinha que procurar manter a qualidade do ensino e se adaptar ao mundo moderno. Era um ensino extremamente bem feito, com bons professores. Eu fiz vestibular para a Nacional, para a PUC e para a UEG e passei nos três. Das pessoas que estudavam comigo, eu não me lembro de ninguém ter sido reprovado no vestibular. Eram pessoas bem preparadas. Acho que isso fez com que o colégio se diferenciasse e pudesse continuar existindo. Foi a percepção de que era necessário, sem romper muito com a tradição, ir avançando. E isso o Andrews fez. De vez em quando eu recebo o jornal do colégio e vejo que as discussões são muito interessantes. Acho que o colégio continua na mesma linha, tem sabido acompanhar o mundo.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

LLC: Não. Muita saudade. Muito jogo de futebol. Muita bagunça. Foi muito bom.

 

Muito obrigado pelo seu depoimento.

 

 

 

 

 

 


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