Luiz Paulo Marinho Nunes

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Luiz Paulo Marinho Nunes

Rio de Janeiro, 11 de março de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Quando e onde você nasceu?

 

LPMN: Nasci no Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1956.

 

Quem eram seus pais?

 

LPMN: Meu pai, Antônio Carlos de Marinho Nunes, falecido em outubro de 2007, aos 83 anos, sempre foi um entusiasta da educação. Estimulou os nove filhos a buscarem formação, mestrado e doutorado. Minha mãe está viva e se chama Germana Laje de Marinho Nunes.

 

Qual a profissão deles?

 

LPMN: Meu pai era engenheiro químico, formado no MIT na década de 40, aluno brilhante do Colégio Santo Inácio. Minha mãe, de família Laje, teve uma educação muito formal, toda ela em casa.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

LPMN: Fiz o Primário todo no Colégio São Patrício, na Visconde de Silva. Depois fiz o exame de Admissão para o Andrews, e entrei no colégio em 1967.

 

Na Visconde de Silva?

 

LPMN: Não. Eu fui da primeira turma em que o Admissão foi para a Praia de Botafogo. Eu tive duas primeiras transferências. A outra foi em 1974, no meu ano de pré-vestibular. Foi o ano em que o Andrews deixou os convênios e formou a sua primeira turma de terceiro colegial. As instalações da Visconde de Silva foram adaptadas para receber essas turmas.

 

Fale um pouco desse início no Colégio Andrews.

 

LPMN: A dona Rosa era a única professora, com exceção da aula de Inglês. O que mais me marcou era o tamanho da turma. Eu vinha de um colégio com turmas menores, e entrei para uma de uns trinta e tantos alunos, mista. Era desafiador. Mas o ambiente era muito relaxado, extremamente estimulante. Quando eu me lembro da Praia de Botafogo, tenho a sensação de que era uma multidão ali dentro. Era um ambiente sempre muito para cima. Como todo garoto, eu sempre queria correr e como não tinha espaço para jogar bola, o jogo clássico era com uma bola feita de uns quatro copos de papel prensados. A diversão no recreio era essa.

 

Você se lembra dos seus colegas e dos seus professores?

 

LPMN: Eu tenho colegas do Admissão que me acompanharam, inclusive, depois na faculdade: o Marcos Cícero, o Fernando Leão, o Arnaldo Spaier. Amizade forjada no Colégio Andrews. Eu vivi duas fases no Andrews: de 1967 a 1969, Admissão, primeiro e segundo Ginásio, e nos mudamos para os Estados Unidos; voltamos em 1972 e ingressei no primeiro ano Científico e fiquei lá até o final. Em 1974, desisti de fazer engenharia e resolvi estudar economia ou administração e me juntei à turma  que vinha do Clássico. O ano de 1968, do meu primeiro Ginásio, foi muito marcante. Foi o ano do cinquentenário do colégio e a Mrs. Andrews faleceu. Não tivemos aula no dia por causa do luto. Eu me lembro do professor Léo de Matemática, do Talvane. Era um ano de ebulição, de eventos importantes marcando gerações. E nós éramos garotos e vivíamos no Andrews, um ambiente tão livre e solto, percebendo fatos que estavam ali mexendo com os nossos costumes, com a nossa maneira de ver o mundo. São flashes de memórias muito bacanas. As aulas de Arte naquela sala da frente. Eu lamento não ter guardado a caderneta do Colégio Andrews, que é um collector’s item. Tinha capa dura e era separada por cores: Admissão era verde claro, primeiro Ginásio era verde escuro, segundo Ginásio era preta, terceiro Ginásio era vermelha e quarto Ginásio era laranja. Isso demarcava totalmente a área. Como a caderneta ficava à mostra no bolso da camisa, era fácil saber onde você estava na hierarquia da escola. A chegada no Andrews era muito legal, tinha o porteiro seu Zuza. E tinha aquele rigor, a meia cinza, por exemplo, é um detalhe inesquecível. Mas não havia nada de retrógado, era uma regra com a qual convivíamos. Eu me lembro de ver a turma de manhã sem uniforme, mas se eu chegasse com uma meia diferente o seu Zuza mandava voltar. Ou se o cabelo estivesse comprido tinha que cortar. São fatos que marcam. Na época você se revoltava contra aquilo, mas estabelecia um ambiente muito harmonioso, onde tudo era muito claro.

 

Fale um pouco sobre o Científico.

 

LPMN: Voltei para o Andrews em 1972 no primeiro ano Científico. Eu me lembro bem que na primeira semana fazíamos testes vocacionais aplicados pelo SOE. Uma vez, estava um dia lindo e eu faltei ao teste para ir à praia. Depois fui chamado para uma conversa séria, mas fiquei quieto, não tive coragem de dizer a verdade. A Maria da Penha dava o curso que exigia muita dedicação. Eu comecei a desenvolver um lado muito competitivo ali, naquele ambiente, nas histórias da Penha. Fui muito bem. No final do ano passei direto em tudo. E fui ao SOE e revelei que tinha preferido ir à praia no dia do teste vocacional. Começaram a surgir outras amizades: o Daniel Glat, o Léo Gandelman.

 

E professores, além da Penha, quais que ficaram marcados para você?

 

LPMN: O professor Hebert, de Física, era uma pessoa ao mesmo tempo difícil, mas deliciosa, de um humor incrível. Nas provas dele, as opções de resposta não eram A, B, C, D e E, eram letras aleatórias como C, H, E, X. E ele dizia: “o gabarito da prova forma uma palavra que tem um sentido fonético, embora não queira dizer nada. Então, uma vez eu fiz o gabarito de uma prova que era enxovemblar. Isso marcou. E no ano do vestibular se formou uma turma muito especial. Era predominantemente constituída pelo pessoal do Clássico com alguns agregados do Científico.Naquele ano um fato me marcou muito. O colégio estava deixando de ter convênios, assumindo uma identidade própria na relação da escola com o vestibular e havia uma preocupação das turmas se saírem bem. Um dia, nós decidimos assistir à estreia do filme O exorcista no cinema Veneza. Abandonamos o colégio e fomos à sessão das 11 horas da manhã. A turma era forte, mas muito indisciplinada. Então, mais ou menos em outubro, teve um discurso da direção, preocupadíssima com a nossa performance; não foi um discurso, foi uma bronca pesada na turma. Qual não foi a surpresa quando dois meses depois essa turma foi excepcionalmente bem no vestibular, com alguns primeiros lugares em Direito, em Letras, em Geografia. No meu caso e do Marcos Cícero, nós fizemos vestibular para a Fundação Getúlio Vargas e passamos muito bem. Foi um ano maravilhoso. Miguel Falabella era da turma. Nós temos histórias fantásticas. Ele fazia uns esquetes e nós virávamos os personagens. A Cristiana Lara Rezende, a Vera Damásio, que eu namorei muito tempo, o Marquinhos Falcão, o Ulisses. Ele nos atribuía nomes artísticos. Eu, por exemplo, era Luigi Marini. Ficávamos criando peças das mais variadas possíveis. Foi muito divertido. Foi uma turma que se uniu muito. Há dois anos fizemos uma festa de 31 anos de formados e o comparecimento foi maciço.

 

Você foi aluno da Lúcia Hippolito?

 

LPMN: Fui. Era uma professora enérgica, eu gostava muito das aulas dela. Por causa das apostilas, ela me permitia estar sempre uma ou duas aulas na frente. Ela encarava a turma e perguntava muito. Era jovem e informal, mas tinha muita autoridade.

 

E o Chico Alencar?

 

LPMN: Sim. Eram os dois professores de História. O Chico dava aulas de História do Brasil e a Lúcia de História geral. O Chico também era um excelente professor. Com a cabeça política formada, nunca foi dogmático. Sempre respeitou muito os outros. Nós explorávamos fatos interessantíssimos de História do Brasil. A bibliografia que ele usava não era a trivial. Ele abriu muito a nossa cabeça. O Maurício Silva Santos, de Geografia, também era fantástico. Quando ele explicava o que era savana, dizia: “reparem o que é a minha cabeça de costas, um pouco de cabelo em cada lugar”. São fatos assim que marcam. O Maurício era brilhante. Ele dizia: “vocês querem um conselho, escutem a Hora do Brasil, tem sempre algo interessante ali”. São dicas assim que ficam na lembrança. Eu tenho uma memória fantástica dessa turma. O corpo docente era muito bom. O Arthur Sette dando aula era de uma serenidade incrível. Eram professores nos quais a autoridade estava clara, não havia dúvida sobre isso. E se aprendia muito. Eu me formei na Fundação Getúlio Vargas e fiz doutorado em Economia na Universidade de Chicago. Fiquei um tempo trabalhando em Nova Iorque. Quando voltei para o Brasil, em meados de 1985, minha filha mais velha já tinha nascido. Optei por matriculá-la na Escola Americana, mas eu percebo que falta algo. O ambiente do Andrews era muito agradável, as amizades que eu tenho do colégio duram até hoje, o Toca Delamare, o Roberto Rozenberg, o Lulu Sales.

 

Você acha que o colégio teve alguma influência na escolha da sua profissão?

 

LPMN: Não diria na escolha da profissão. Mas o colégio me ajudou a ver, por exemplo, que eu não queria estudar engenharia. E com isso meu campo ficou menor. No ano do vestibular, meu pai me ofereceu um incentivo dizendo que se eu passasse para a EBAP, da Fundação Getúlio Vargas, poderia passar uns sete meses estudando na Inglaterra. Aquilo para mim foi tudo. A minha educação do Científico do Andrews foi excepcional, me deu uma ótima base nas ciências exatas, me ajudou a eliminar o que eu não queria. Isso foi importante. Olhando desde o Andrews, onde existia uma liberdade muito grande de se expressar, havia um rigor dentro de um ambiente extremamente convidativo a abrir a sua cabeça. Eu consegui ter uma vida profissional que começou em uma área acadêmica, passou pela área de finança e comércio internacional, e terminou, como opção minha, numa indústria pesada. Trabalhei nos setores primário, secundário e terciário. Pude aceitar esse desafio pelo conjunto da minha formação.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews na sua vida?

 

LPMN: Enorme. Fui influenciado pelo ambiente do Colégio, que era absolutamente agradável, desafiador, estimulante. Havia competição, havia camaradagem, havia solidariedade. Enfim, um desafio. Quando me vejo nos anos de adolescente, foi do Andrews que eu saí. Eu forjei ali amizades que estão aí a vida inteira. Era um ambiente maravilhoso para se crescer.

 

 De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

LPMN: Acho que está no sangue da turma. O Edgar, o irmão dele, hoje a filha dele, a Ana. Há esse compromisso de fazer o colégio continuar acontecendo. Educação e escola privada continuam existindo enquanto houver interesse em se buscar excelência. O Andrews tem uma história, tem um currículo ótimo, uma biografia excepcional para continuar ativo e formando alunos e gerações. Não vejo uma razão para que o Andrews perca a sua estrela. A educação mudou.  Hoje se tem o lado mercantil muito forte. Você é preparado para correr um tipo de prova, a maratona, por exemplo. Já no Andrews, você tinha a chance de fazer um decatlo, com diversas maneiras interessantes de se desenvolver, de buscar um caminho, uma aptidão, uma vocação. Acho que tem muitos ingredientes que ajudam a diferenciá-lo dos colégios fábricas que tem surgido nos últimos 20 anos.

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

 

LPMN: Quero só agradecer ao Andrews por ter sido uma parte muito importante e extremamente alegre da minha vida. O que me ajudou muito a ser o que sou foi a educação, principalmente no Andrews, que me permitiu seguir caminhos que talvez não tivesse conseguido se aquela base não tivesse sido bem feita.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.


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