Marcos Libretti

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Marcos Libretti

Rio de Janeiro, 5 de dezembro de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

ML: Nasci em Niterói, em 1956.

 

Você passou sua infância em Niterói?

 

ML: A primeira infância. Nós viemos para o Rio em 1964. Eu tinha oito anos.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

ML: No Instituto Alzira Bittencourt. Depois nos mudamos para o Rio e completei o curso Primário no Santo André. Fiz o Admissão no Colégio Zacarias, onde fiquei um ano. Depois fui para o Andrews.

 

Em que ano você entrou para o Andrews?

 

ML: Em 1968, no segundo ano ginasial.

 

Como foram as suas primeiras impressões do colégio?

 

ML: O Andrews tinha duas vantagens: não era um colégio religioso e já era misto. Isso me fez simpatizar muito com o colégio. Era uma época em que eu estava entrando na adolescência. Na minha sala tinha muita gente bonita. Todo mundo naquela idade começando a querer se arrumar. Quando tinha aula sábado não precisava ir de uniforme. O colégio já tinha essa característica de ser mais aberto, apesar de estarmos em plena ditadura. Nós, com 14 anos, não tínhamos consciência disso. Mas, naquele espaço havia um ambiente extremamente agradável.

 

Você se lembra de seus colegas?

 

ML: Lembro-me muito bem. Alguns são meus amigos até hoje e frequentam a minha casa. Sou padrinho da filha mais nova de um deles.

 

Quem são?

 

ML: Hugo Carneiro, que hoje mora em Saquarema e sempre foi um desportista. Era goleiro do time do colégio. Ele é formado em geografia e foi ser professor lá, onde vive feliz da vida. Gerardo Carnevale, que hoje é juiz titular da 2ª Vara de Família. Ana Lúcia Daudt, que foi casada com o José Roberto Marinho. Eles se conheceram no colégio. Esses são os amigos mais próximos. Tem também o José Roberto Marinho, que eu tinha conhecido no Santo André e, por coincidência, quando eu fui para o Andrews fiquei na mesma sala que ele. Ele me ajudou muito no processo de integração no colégio, porque ele já estava lá há um ano; foi um facilitador de apresentação da turma. Além disso, a minha turma tinha uma característica: várias pessoas se tornaram artistas. Por exemplo, a Bia Nunes, o Miguel Falabella, a Marina Lima. Era uma turma muito eclética. Tinha o Bruno Weiner. Nós ficamos juntos até o final do Ginásio. Depois separou um pouco, mas a maioria foi para o clássico. Era uma turma muito unida. Saíamos no fim de semana, viajávamos para a casa de um, para casa de outro. Enfim, eu tenho recordações muito bonitas desse tempo do colégio.

 

E de seus professores, você se lembra?

 

ML: Um professor que me marcou foi o Léo, de Matemática. Ele era ótimo, mas era muito exigente com a disciplina dentro da sala. Às vezes nós exagerávamos e ele era implacável, nos mandava embora. Por outro lado, eu sempre fui bom aluno de Matemática, sempre passei direto. Ele gostava muito desse jeito indisciplinado, de forma sadia, mas aplicado na matéria dele. Quando terminamos o Ginásio, fizemos um jantar da turma e convidamos o professor Léo. Nesse dia ele falou que gostava muito da turma, apesar de dar muito trabalho, era uma turma muito interessante pela diversidade de personalidades na sala. Tinha a parte do esporte, que não era muito forte no colégio até pelo espaço pequeno, mas a minha turma tinha um grupo que era muito ligado em futebol. Montamos um time na sala, ganhávamos os campeonatos. Eu me lembro que o professor Arthur Sette, de Desenho, que também me marcou, brincava conosco dizendo que ganhávamos de uns caras pernas de pau, que ele queria ver nós ganharmos do Santo Inácio, no campo grande deles. Pedimos então para ele marcar um jogo com o time do Santo Inácio. Nós montamos um time do Andrews: eu, Hugo, Ulisses Lamarck, Simão, Arnaldo Spaier, e chamamos o Cartran e outras pessoas. Treinamos duas vezes e fomos jogar. Ganhamos de 4 a 2 e eles ficaram desesperados. No dia seguinte, durante a aula do professor Sette foi a maior gozação. O Andrews foi um colégio exigente, mas que também dava uma grande liberdade. Quando fui fazer o Clássico, nós podíamos sair da sala na hora que quiséssemos, mas o resultado dessa ausência tínhamos que administrar. Era permitido fumar no pátio. Isso foi algo que, na época, nós valorizamos muito.

 

Fale um pouco sobre o seu curso Clássico.

 

ML: Eu adorei fazer o Clássico. Inicialmente fui para o Científico, porque na família de classe média a opção era fazer Engenharia. Fiquei duas semanas, achei a aula de Química horrível. A maioria dos meus amigos estava no Clássico, então fui também. Eu li os principais autores nacionais - Machado de Assis, José de Alencar, Érico Veríssimo - e também a literatura inglesa, Charles Dickens. Foi um curso que nos deu um embasamento muito legal. Em Português, nós tínhamos aula de gramática e de literatura.

 

Quem foi seu professor de Português?

 

ML: Professor Moraes. Ele era rígido, mas muito preparado. Ele nos passou uma paixão pela literatura, principalmente a brasileira. De vez em quando nós encenávamos determinadas obras. Apesar de ele ser um professor muito exigente, a aula dele era muito interessante. Ele também despertou em nós o interesse pela escrita, porque líamos um livro por semana e fazíamos uma redação sobre cada livro. Ele nos ensinou a escrever, a construir as frases, a gramática. Literatura e História foram as duas matérias que marcaram para mim.

 

E seus professores de História quem foram?

 

ML: Tive primeiro uma professora (que não estou me lembrando o nome) e depois a Lúcia Hippolito, que foi espetacular. A outra professora dava mais História antiga. A Lúcia abordava tanto a História antiga e medieval, quanto a História contemporânea. A aula dela era muito interessante. Então, a Literatura e a História foram muito marcantes. E um desdobramento disso tudo foi despertar em nós a questão da cultura. Eu sempre fui muito ligado em música e o colégio estimulava muito isso. Eu participei de todos os festivais de música do Andrews. Eu tocava bateria amadoristicamente e tinha um colega, o Josias Cordeiro, que escrevia muito bem e fazia as letras das músicas; e o Ary Sperling, que virou músico profissional. Fizemos uma banda. O Andrews teve uma escola de teatro, o Miguel, a Bia Nunes. As peças de teatro do colégio ficavam cheias. Assim como o festival de música, o auditório ficava lotado, sempre tinha gente em pé. O colégio me deu, sem dúvida nenhuma, um embasamento grande na parte cultural. Eu acabei fazendo vestibular para economia, passei para a PUC e cursei só um semestre. Depois fui fazer comunicação e me formei.

 

Você acha que o colégio teve alguma influência na escolha da sua profissão?

 

ML: Não deixou de influenciar porque algo muito forte que o colégio me deixou foi meu relacionamento. 

 

Quando você fez vestibular?

 

ML: Em 1974. Mesmo na faculdade, o Andrews continuou me norteando. Assim que mudei de curso, fui estudar de noite na PUC porque já queria começar a trabalhar. E almoçando um dia na casa de um dos meus colegas do Andrews, o Hugo Carneiro, o cunhado dele me ofereceu um estágio na TVE. Comecei a trabalhar na TV Educativa como estagiário. Eu me dividia entre a música e o trabalho. Depois fui contratado na TVE. Trabalhava no departamento de esportes, num programa que existe até hoje chamado Estádio. Resolvi sair de lá porque a música estava começando a ficar mais profissional. Nós participamos juntos com dois ex-alunos do Andrews, o Ary Sperling e o João Rebouças, que hoje é o pianista titular do Chico Buarque, de ensaios, gravávamos jingles. Resolvi virar baterista. Fiquei um tempo assim, e depois resolvi voltar para a carreira normal. Nós participamos de um projeto muito interessante da FUNARTE chamado Projeto Vitrine. Eram artistas já conhecidos apresentando novos talentos. Nós participamos juntos com a Sueli Costa. E nesse evento estava o Osvaldo Montenegro. Nós tínhamos uma banda, eu na bateria, o Ary no violão, um rapaz que não era do colégio tocando contrabaixo, o João no piano. O Osvaldo Montenegro precisava de uma banda e nos chamou para tocar. Ele tinha participado do Projeto Vitrine com o Sivuca. Ele ia lançar um disco e nos chamou para tocar com ele. Quando ele começou a cantar Agonia, eu disse: não dá, essa eu não toco. Foi um divisor. Para tocar aquilo que eu não gosto, eu vou trabalhar com comunicação. Tentei voltar para a TV Educativa, mas não deu. Acabei conseguindo ir para a TV Globo. Mas uma vez eu fui ajudado por uma pessoa do Andrews. Consegui uma posição na TV e trabalhei lá por cinco anos. Abracei a comunicação e mídia até agora quando me demiti. Acho que consigo resumir o colégio assim: amizade, provocação, cultura e liberdade.

 

Qual foi a importância do Andrews em sua vida?

 

ML: Para começar, o Andrews me deu meus amigos. Os amigos da minha vida eu fiz no Andrews. Isso é o maior patrimônio que uma instituição pode dar. Os meus amigos mesmo, as pessoas com quem eu conto nos momentos mais delicados, como esse dessa decisão que eu tomei, são três dos meus amigos do Andrews. Foi importante também a questão da provocação, do interesse pela cultura. E a liberdade. Eu sempre tive liberdade no colégio. O Andrews sempre deu liberdade para os alunos, mesmo em um momento político muito ruim, muito perverso. Independente disso, o colégio me deu uma base de educação sólida. É o que todo mundo busca em um colégio, mas infelizmente hoje está mais difícil de se conseguir.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

ML: Meus sobrinhos estudaram no Andrews e também adoraram. Acho que o Andrews tem um jeito de ser. Não dá para comparar a minha época com a deles. Eles pegaram um colégio muito mais estruturado do que eu, com muito mais espaço. Aliás, nós inauguramos aquele espaço, a primeira turma do terceiro ano do segundo grau que foi para a Visconde de Silva foi a nossa. É a manutenção do estímulo aos jovens a se interessarem por qualidade. É sentir que se você tem qualidade, vai se beneficiar em algum momento de sua vida. O colégio desperta isso nas pessoas. É um colégio que procura estar alinhado com o tempo. Assim como na minha época, o colégio estava um pouco à frente do tempo. A concorrência reunia colégios muito cartesianos, muito tradicionalistas. A superposição que tinha com os outros colégios era só a exigência, mas a essência era diferente. Acho que eles estão conseguindo manter isso, porque uma empresa fazer 90 anos no Brasil é algo que temos que enaltecer.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 


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