Maurício Silva Santos

Projeto Andrews 90 anos

Rio de Janeiro, 21 de junho de 2007

Entrevista com Maurício Silva Santos

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

MSS: Nasci no dia 5 de abril de 1933, no hospital Souza Aguiar, pelas mãos do doutor Rocha Maia. Ele era casado com a professora Eliana Maia, que foi a minha primeira professora primária, na escola onde minha mãe, que era servente, trabalhava e morava.

 

Como foram seus primeiros estudos?

 

MSS: Fiz o Primário na escola onde eu morava. No fim de 1943, simultaneamente com a quinta série, eu comecei a fazer o Admissão no Instituto Rabelo. Eu tirei o décimo sétimo lugar e ganhei gratuidade no primeiro ano. Tomei gosto pelo colégio e meu pai conseguiu pagar o resto do curso. Aos 14 anos terminei o Ginásio e aos 17 o Curso Científico e, simultaneamente, em 1950 eu fiz o pré-vestibular na Faculdade Nacional de Filosofia para o curso de Geografia e História. Terminei a faculdade em 1954 e fiz o bacharelado no ano seguinte. Naquela ocasião, tive dois convites muito agradáveis, o primeiro para ser documentarista do Instituto de Imigração e Colonização. O segundo convite foi por conta das aulas que dei como prática de ensino na escola da faculdade durante a licenciatura. Abriram-se cinco vagas no quadro docente do Colégio de Aplicação. Fui indicado e contratado, junto com a Lidiméia Barata Pesada – que acabou sendo diretora da Faculdade de Educação, e o Manuel Maurício. Muitos professores do Colégio de Aplicação davam aulas em outras escolas como, por exemplo, o Colégio Andrews.

 

Quando o senhor foi trabalhar no Andrews?

 

MSS: Em 1959. E trabalhei até 1989. Entrei indicado e referendado pelo Colégio de Aplicação, conforme me disse o Professor Motta Paes na primeira entrevista. Ele disse também que eu seria chamado de Silva Santos, porque já eram três os Maurícios no Colégio.

 

No Andrews, o senhor começou dando aulas para que séries?

MSS: Para o Científico e para o Clássico.

 

O senhor deu aula nas classes experimentais?

 

MSS: Sim, porque o Clássico era experimental. Tinha Sociologia, Filosofia e História da Arte. Foi uma época em que cada professor tinha plena liberdade para estabelecer sua linha programática, indicação bibliográfica, tipo de atividade, dentro daquele espaço aberto para experimentação. Foi assim que fiz grandes relacionamentos com alunos brilhantes que galgaram em lugares muito importantes. Eu dei aula para Miguel Falabella, Beth Carvalho, Marieta Severo. O maestro da Orquestra Sinfônica de São Paulo foi meu aluno do Clássico. Depois ele foi fazer um curso de regência na Áustria e voltou famoso. Tive também alunos que se tornaram diplomatas, advogados, jornalistas, professores. Um elenco enorme de gente famosa que está por aí e passou pelo Clássico experimental do Colégio Andrews. Foi um período muito agradável.

 

Como era o seu relacionamento com seus colegas?

 

MSS: Meu relacionamento com todos os professores com quem convivi foi dos mais agradáveis. Enquanto eu trabalhei na Praia de Botafogo, dois momentos eram sagrados no sábado: uma pelada entre professores e funcionários do colégio e depois um chope no bar da esquina do então cinema Ópera.

 

O senhor pegou várias direções a frente do colégio, havia alguma diferença entre elas?

 

MSS: Pelo contrário. Eu diria que a coerência era tão grande que não afetava o nosso trabalho. Eu peguei a direção do doutor Flexa Ribeiro, que naquele tempo delegava a coordenação do colégio ao professor  Motta Paes, de manhã, e de tarde ao o professor Aluísio. Em todos os momentos em que eu precisei de um respaldo do Colégio Andrews para justificar na minha defesa o fato de que eu não tinha vinculação com o comunismo, nem partido, nem sócio, nem agente, nem assinatura em manifesto, o colégio me deu cobertura.

 

O senhor identifica fases diferentes no Colégio Andrews durante esses anos em que trabalhou lá?

 

MSS: Eu diria antes e depois de 1964. Depois de 1964, o relacionamento de professor com aluno passou a ser mais distanciado.

 

O que o senhor atribui a esse distanciamento professor aluno pós 64?

 

MSS: Questão política. Os professores passaram a ficar mais cautelosos. Não houve um clima de desconfiança por parte dos alunos sobre os professores. Até pelo contrário, os alunos queriam muito saber o que havia por trás da notícia. Com isso, eram procurados forçosamente os professores de História, Geografia, Sociologia, Literatura. Acho que os melhores anos de relação professor aluno foram de 1955 a 1965, coincidindo um pouco com aquele clima de liberdade que havia na época do Juscelino. Havia uma aproximação muito grande. Os professores eram chamados para festinha dos alunos, aniversário, batizado de filho.

 

O senhor destacaria alguma coisa na orientação pedagógica do Andrews que seria diferente de outros colégios?

 

MSS: Que eu me lembre, as reuniões eram só no início do ano. Havia um calendário a ser cumprido, mas o professor tinha a liberdade de estabelecer o programa e a indicação bibliográfica. Não me recordo de haver controle do trabalho pedagógico. Havia um calendário e as provas tinham que ser entregues com antecedência por causa da mecanografia, mas o professor tinha inteira liberdade de atuar. No Colégio Andrews em nenhum momento alguém parou na porta da sala para escutar a minha aula. Em quase 30 anos, nunca senti um controle sobre o trabalho que eu fazia. Talvez por causa dos resultados.

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que o senhor atribui que o Andrews tem que resiste ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

 

MSS: Qualidade. Os colégios bons vão sempre sobreviver, sejam eles públicos ou privados.

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

MSS: A minha vida. O meu suporte social foi o ambiente que eu frequentei, os lugares onde trabalhei e o resultado desse meu trabalho. Acho que ele foi muito importante. Eu nunca trabalhei em menos de três lugares, já cheguei a trabalhar em cinco, houve época que eu dava 60 aulas por semana, e a cada lugar para onde era convidado a trabalhar já sabiam que eu era desses lugares, um deles o Colégio Andrews. Quando se tratava de escola particular, o Colégio Andrews era a chave de entrada.

 

Quando o senhor saiu do Andrews em 1989, o senhor se aposentou?

 

MSS: De 1984 a 1986 dirigi o Distrito de Educação e Cultura de Copacabana, cujas atribuições incluíam a fiscalização de escolas particulares. Então me desincompatibilizei com o Andrews. Depois de 1989, eu parei com ensino particular e fiquei na UERJ, onde já era professor desde 1959. De 1992 para cá eu fiz vários trabalhos. Assessorei a Fundação para a Infância e Adolescência (FIA) na elaboração de pesquisas. Revisei trabalhos para a Escola do Estado Maior do Exército, fiz palestras. Colaborei para uma série de 30 aulas de Geografia da TVE. Isso me deu uma popularidade muito grande fora do magistério.

 

O senhor lançou um livro Divergências atuais sobre o Oriente Médio quando?

 

MSS: Em 2002. Eu levei uns três ou quatro anos juntando matérias.

 

O senhor quer acrescentar alguma coisa?

 

MSS: Eu tenho muito boa lembrança do Andrews. Tenho um agradecimento muito grande pela oportunidade profissional que eu tive. Foi um dos lugares que, servindo de oficina para mim, me deu um a projeção muito grande. De vez em quando ainda vou lá e encontro com os professores Flexa Ribeiro, Aluísio, e com colegas do terceiro ano. Alguns ainda são da minha época. A última vez que estive lá foi a convite do Iber Reis, para assistir a um filme e debater sobre os anos JK.

 

Muito obrigado pelo seu depoimento.

 


« voltar

COLÉGIO ANDREWS

(21) 2266-8010

Endereço:
Rua Visconde de Silva, 161
Humaitá CEP 22271-043
Rio de Janeiro - RJ

Colégio Andrews
Todos os Direitos Reservados
@ 2017