Roberto Frejat

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Roberto Frejat/Ex-aluno

Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu?

 

RF: Nasci no Rio de Janeiro em 21 de maio de 1962. Sempre fui morador do Flamengo.

 

Quem foram seus pais? Qual a profissão deles?

 

RF: Meu pai, José Frejat, é maranhense. Minha mãe, Léa Frejat, é carioca, foi aluna do Andrews. Os dois são advogados. Meu pai teve uma presença na vida política, foi deputado algumas vezes; foi procurador da Fazenda Nacional. Minha mãe trabalhava com administração de imóveis e foi funcionária pública; trabalhou no Ministério da Educação durante muitos anos.

 

Onde você fez seus primeiros estudos?

 

RF: Eu fiz do maternal ao segundo ano do fundamental na escola pública Associação dos Servidores Civis do Brasil. Na terceira série do primário eu fui para o Andrews e fiquei lá até o terceiro ano do segundo grau. A minha turma foi a última a fazer o Admissão.

 

Você entrou na Visconde de Silva?

 

RF: Sim. Fiz o terceiro, o quarto ano e o Admissão lá. Na Praia de Botafogo eu fiz da quinta série ao segundo ano no segundo grau. Voltei para a Visconde de Silva para fazer o terceiro ano.

 

Como foram seus primeiros anos na Visconde Silva?

RF: Foram muito legais. Eu gostei muito da escola desde o começo. Tinha aula de Música, que eu gostava muito. Tinha um professor de ginástica muito rigoroso, o Pereira, um cara bem sargentão, dava até um pouco de medo. Minhas primeiras professoras foram a Edith e a Clay, no terceiro ano. Depois teve a Olga no quarto. No quinto ano já começava a ter vários professores. Tinha o Talvane, cujo filho era meu colega de turma; a Maria Salvadora, que é avó de uma colega da minha filha, e mãe do professor de ginástica do meu filho. Eu tive professores muito legais, que me marcaram e foram muito importantes. O professor de História Luis Carlos era ótimo. Eu sempre gostei muito dessa matéria. Já no segundo grau tinha o professor Marcos, de Geografia, que eu gostava muito. Tive muitos bons momentos no Andrews, mas o que me marca mais é a quantidade de amigos que fiz lá.

 

Você ainda mantém contato com eles?

 

RF: Com muitos deles sim. E alguns, que não tenho contato, quando encontro na rua é uma festa total. Outro dia fizemos um encontro na casa do Guilherme Resende, irmão do Bernardo. Foi divertidíssimo.

 

Como era o ambiente cultural no Andrews?

 

RF: Tinha momentos interessantes. O Falabella deu aula de teatro lá na minha época. Vários amigos meus que hoje são atores foram alunos dele: o Felipe Martins, a Luciana Braga, o Edgar Amorim. Eu criei um cineclube, fiz parte do jornal e do Grêmio. Organizei festivais de música. É preciso ver que nós crescemos no meio da ditadura. Era muito complicado mexer com cultura, porque em qualquer momento esbarrava em liberdade. No momento em que começávamos a fazer o jornal, ficávamos ‘grilados’ se tinha um inspetor de olho. Eu era filho de uma pessoa que vinha da esquerda. Ainda tinha esse agravante. Meu pai foi do Partido Socialista. Ele foi demitido logo em 1964, ele fazia parte do gabinete do ministro das Minas e Energia no governo João Goulart, o Gabriel Passos. Então, existia certa preocupação minha e da minha família em não ter muita exposição ali. Não tinha motivo, até porque era uma escola, eu não estava fazendo militância. O Otávio Leite, que hoje é deputado federal e foi vice-prefeito, era meu colega de turma. Tinha outro amigo meu, o Marcelo Luís da Motta Veiga, cujo irmão tinha tido uma militância e tinha tido problemas com a polícia. Nós três conversávamos sobre política, mas era um papo reservado. A música também era meio distante, mas nós conseguíamos, com algumas pessoas que gostavam, criar esse ambiente e organizar os festivais.

 

Como eram esses festivais? Eles eram anuais?

 

RF: Eram anuais. Eram festivais, mas não tinha prêmio, era só uma apresentação. Todo mundo ia lá e tocava. Um fazia solo de baixo, outro tocava com a banda, outro tocava um violão e cantava uma música. Todo mundo tinha direito de fazer. Fiz parte do cineclube com os amigos  Nelson e Renato. Nós íamos às distribuidoras para conseguir cópia em 16 mm, porque a máquina do colégio era de 16 mm. Tínhamos o aval do colégio. Mas sempre evitando essa parte política, porque era muito perigoso na época. Houve alguns problemas de as pessoas escreverem algo no jornal e a direção ficar meio preocupada, mas acho que era muito mais por zelo do que por qualquer outro motivo.

 

 

Você tinha muito contato com o Edgar?

 

RF: Tinha muito contato. Nós brigávamos demais, ele era durão. Ele e o professor Aluísio eram os “linha dura” da escola. Mas acontece que a perspectiva muda. Quando você se vê garoto e vê o Diretor do colégio dando bronca, suspendendo, você fala que esse cara joga duro. Anos depois, você pensa no papel que tem um Diretor de colégio e vê que tem que ter certa disciplina. É lógico que o bom senso sempre deve prevalecer. Eu não me lembro de nenhum caso que tivesse sido uma injustiça. Sempre tinha havido alguma confusão com as pessoas que estavam envolvidas em caso de expulsão e suspensão.

 

 

Você se lembra de algum fato engraçado ou curioso dessa época?

 

RF: Os festivais eram muito engraçados porque eram dias muito agitados. Durava só um dia. Era depois da aula. As pessoas ficavam lá e, de repente, o colégio perdia aquele ranço da disciplina. Naquela hora todo mundo podia se divertir, cantar, gritar, fazer bagunça. Era um evento que fazia muita diferença no dia a dia.

 

 

Como foi a sua passagem da Visconde de Silva para a Praia de Botafogo?

 

RF: Havia os professores novos. E na troca entre um professor e outro tinha um intervalo, e ficávamos na porta conversando, fazendo bagunça. Isso era uma novidade. E acho que nos primeiros meses, o medo maior era de arrumar alguma confusão com o pessoal das turmas maiores, até porque existia essa prepotência das turmas maiores de se impor. Isso eu não percebo hoje no colégio quando vou levar meus filhos. Hoje a atmosfera me parece mais tranquila.

 

 

Como foi seu segundo grau? Você se lembra dos professores?

 

RF: Eu tive professores muito bons e uns confusos. Por exemplo, tinha uma professora muito antiga no colégio, a Penha, que eu tive uma dificuldade enorme de entender Química com ela. Tanto que esse ano foi a segunda vez que eu fiquei em recuperação; fiz as aulas de recuperação com o Paulinho e quando eu voltei para o segundo ano, eu realmente tinha aprendido. Por outro lado, eu tive professores muito legais. Tive um professor de Português chamado Paulinho, que começou a botar música popular e poesia nas aulas; ele chegou com uma proposta nova e isso entusiasmava muito a turma. Eu peguei o Andrews começando a ter uma transição de professores. Eu tive professores maravilhosos: o Luis Carlos, de História (de vez em quando encontro com ele na rua e é só abraços, muita alegria); o Chico Alencar, de História; o Marcos, de Geografia; o Paulinho de Química; o Sérgio de Matemática.Tinha uns personagens maravilhosos. O Vanderlei, que está lá até hoje; Paulinho, com quem eu trocava discos de rock. Teve uma época que eu dei uma porção de discos de rock para ele. Todo ano, quando eu lançava disco do Barão, eu ia até o Andrews entregar o disco novo para ele. Ele adorava. É engraçado que eu vejo outras pessoas que estudaram em outros colégios do Rio e não têm tantas lembranças ou tantos encontros com pessoas que estudaram juntos. Toda hora eu encontro algum colega de turma ou algum contemporâneo. A minha mulher é paulista e teve uma época que ela falava: “mas todo mundo no Rio de Janeiro estudou no Andrews?” É interessante porque foi um lugar que fiz muitos amigos e que conservo até hoje. O Mauro Santa Cecília, que é meu parceiro, foi meu colega de Andrews. O Luciano Maurício, que entrou comigo e ficou até o final, é meu amigo fraternal até hoje. Os laços de amizades que se criaram ali foram realmente sólidos. Isso eu acho que o colégio conseguia criar. Hoje eu vejo meu filho com os amigos, uma relação ótima. Não sei se eles deram sorte de estar em turmas boas. Eles são novos, ele tem 11 anos e ela oito. Estão curtindo muito, eles adoram a escola desde que entraram.

 

 

 

Você viu diferença da sua época para a dos seus filhos?

 

RF: Muita. Mas eu acho o colégio melhor agora. Eu particularmente acho que o colégio está muito bom. Quando as pessoas vêm me perguntar eu digo que estou muito bem impressionado. Acho que o colégio se atualizou. Hoje ele tem uma postura didática muito mais focada no que é realmente consistente para você levar para o resto da sua vida. Com a colocação da cidadania dentro do dia a dia deles. As matérias se inter-relacionam, é muito interessante.

 

 

 

Em termos do corpo docente, você acha que o Andrews mantém seu padrão?

 

RF: Isso é mais difícil de avaliar porque eu não estou na sala de aula. Dentro do que eu percebo do ambiente do colégio, estou bastante satisfeito. Vejo meus filhos aprendendo, evoluindo e, principalmente, sendo respeitados. Acho o colégio hoje muito mais flexível no sentido de perceber as particularidades de cada criança. Até porque a própria sociedade é assim, então ele está refletindo a sociedade. Acho o Andrews muito afinado com o dia a dia da sociedade.

 

 

 

 

Você fez vestibular para que?

 

RF: Geografia na UFRJ, porque era a única matéria que eu gostava. Eu já era músico, só que a faculdade de música era música erudita. Não existia nenhuma escola de música popular no Brasil. O mais curioso foi que eu passei em primeiro lugar e não sabia. Eu já estava na faculdade quando soube disso. Isso para mim não fazia diferença. A faculdade era muito ruim. O primeiro semestre eu fiz mal até a segunda aula do dia. Depois ia embora, estava totalmente desestimulado. No segundo semestre eu nem tranquei, eu abandonei. Eu já estava tocando e estudando música. Comecei a minha carreira profissional. Música é assim: você começa a tocar e daí a pouco está ganhando dinheiro. No início, você toca não ganhando nada. Depois ganha pouco até o momento de ganhar um pouco melhor. Desde aquela época eu sabia que queria fazer música. Eu tentei fazer a Berkeley University. Fiz a aplicação, mas nunca recebi uma resposta. Naquela época, a comunicação era um pouco mais complicada. Não sei se a minha carta não chegou. Ficou por isso mesmo. Acabei seguindo a minha carreira aqui e estou felicíssimo. Até achei melhor não ter ido para os Estados Unidos.

 

 

 

Qual foi a importância do Colégio Andrews em sua vida?

 

RF: Enorme. Primeiro: eu tive uma base de um bom colégio e isso é um grande diferencial. Segundo: eu conheço todo tipo de pessoa e tem muitas que são phd. Só que na hora que você vai conversar sobre o geral, ele não sabe. O Andrews me possibilitou analisar e assimilar o geral, me deu base para entender de todos os assuntos que eu quisesse e me interessasse. Isso fez muita diferença. Acho que o ensino básico do Brasil é melhor do que em qualquer outro lugar do mundo. Quando você conversa com pessoas da Europa e dos Estados Unidos, vê que elas não têm a metade de conhecimentos que nós temos. O nosso conhecimento é muito mais amplo, muito mais abrangente. O ensino que tive no Andrews me ajudou muito em tudo na vida. Por exemplo, viajar em outros países e ter uma compreensão do ambiente, acho que é fruto da escola. O Andrews foi muito consistente para mim.

 

 

 

 

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você acha que o Andrews tem que está resistindo ao tempo e vai fazer 90 anos em outubro de 2008?

 

RF: Acho que ele tem uma tradição do nome que não deixou cair. Isso é importante porque é uma grife. Uma grife de liberdade, porque o Andrews sempre foi um colégio laico. Hoje os bons colégios no Rio de Janeiro são religiosos. Eu não quero um colégio religioso para os meus filhos. É nesse sentido que o Andrews sempre foi uma marca dentro da sociedade e acho que ele ainda tem um pouco desse perfil. Também porque ele está tendo a capacidade de se recontextualizar. Eu não quero que meus filhos sejam os melhores da turma. Quero que eles tenham uma consciência ampla de tudo que aprendem e possam usar isso. A escola acaba e a vida continua. Muito do que aprendemos no colégio vamos usar em outros momentos da vida. Por exemplo, quando estou viajando e vejo uma cidade que eu tinha estudado, eu já conhecia, é outra chegada. Eu fico feliz quando acontece isso, quando tem um conteúdo que me foi passado e que se eu quiser desenvolvê-lo ou aperfeiçoá-lo, eu posso ir em frente, porque me deram o ponto de partida. A escola é muito isso e minha sensação é de que o Andrews continua tendo essa função.

 

Muito obrigada pelo seu depoimento.

 

 


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