Sylvette Jacobina

Projeto Andrews 90 anos

Entrevista com Sylvette Jacobina/Ex-aluna e Professora

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2007

Entrevistadora Regina Hippolito

 

Onde e quando você nasceu? 

SJ: Nasci No Rio de Janeiro em 1932.

 

Quem eram seus pais? 

SJ: Meu pai era Antônio de Araújo Ferreira Jacobina e minha mãe Blanche Thiry Jacobina.

 

Qual era a profissão deles? 

SJ: Meu pai fez vários cursos, mas não se formou em nada. Tinha uma inteligência e uma conversa maravilhosas; cativava a todos. Trabalhou no Colégio Jacobina, que era das irmãs dele. Ele era fazendeiro em primeiro lugar. Quando eu nasci, perdeu tudo. Foi na Revolução de 1932. Minha mãe era professora e trabalhou no Andrews por mais de 30 anos.

 

Onde você fez seus primeiros estudos? 

SJ: Em vários colégios. No Santa Rosa de Lima, no Sion, no Bennett. Mas onde eu me senti bem foi no Andrews.

 

Quando você entrou no Andrews? 

SJ: Fiz o exame de Admissão, o Ginásio e o Cássico, foi aí que me senti realmente feliz, eu não era filha da madame, eu era Sylvette, tratada igualmente como os outros. Havia um grande respeito pela individualidade.

 

O que você se lembra do tempo do Ginásio? 

SJ: Eu me lembro que tínhamos uma professora de Francês, mademoiselle Germaine, uma gracinha, jovem, e do terceiro para o quarto ano ela se casou. Eu perguntava a minha mãe: “quem vai substituir a mademoiselle Germaine?”. E ela dizia: “Não sei”. Ninguém sabia me dizer quem era. No primeiro dia de aula da quarta série, na primeira aula, quem entra na sala? Minha mãe. Eu dei um berro e na mesma hora Madame Jacobina  disse: “vocês sabem que a minha filha está na turma, mas é como se não estivesse, e ao próximo berro ela vai para o jardim como todos”. Não dei o próximo berro, fiquei bem quietinha. Isso foi uma coisa que me marcou. Eu me lembro também das aulas de Inglês do mr. Bloom que eram cantadas, me lembro até hoje das músicas. Aprendemos Inglês cantando. Era muito gostoso. Eu fiz grandes amizades no colégio que duram até hoje. 

 

Você fez Clássico ou Científico? 

SJ: O Clássico. Fui aluna da Madame quatro anos: na quarta série do ginásio e nas três do Clássico. Nunca um colega meu me perguntou algo sobre prova ou sobre nota. Acho isso maravilhoso, um respeito muito grande.

 

E do curso Clássico, que matérias você gostava? 

SJ: Eu não era boa aluna. Me lembro que no ano santo, 1950, eu estava no segundo ano Clássico e alunos e professores tinham direito de faltar um mês além das férias. Então, nós passamos julho e agosto na Europa. Fomos, naturalmente, ao Vaticano, porque era por isso que estávamos ganhando um mês de férias. E quando voltei, adorei as aulas de História do professor Ciro, porque antes aquilo tudo me parecia muito distante. Ele era ótimo, falava um Francês lindíssimo. Eu me interessei pelas aulas de História porque eu tinha vivenciado aquilo sobre o que ele falava. O ano de 1950 foi o meu melhor ano porque eu ganhei um mês, então a minha média ficou mais alta, passei muito bem. Eu adorava e admirava o professor de Latim Marques Leite, do Clássico, ele sentava com cada aluno para explicar como fazer uma tradução.

 

Quando você saiu do Andrews? 

SJ: Em 1951.

 

E você foi fazer faculdade? 

SJ: Fui para a PUC. Eu não ia porque minha mãe achava que eu era muito magrinha, muito fraquinha. Ela queria que eu fosse passar um ano na Europa. Nessa época, eu ficava muito na casa da minha madrinha, que era ao lado da PUC, e encontrei o professor Junito, de Latim. Ele me perguntou por que não estava me vendo na sala de aula. Eu disse que não ia fazer vestibular naquele ano porque minha mãe achava que eu devia descansar. Ele respondeu: “não senhora, amanhã quero ver você na minha sala”. No dia seguinte eu estava lá. Fiz então vestibular para Letras Neolatinas. Me formei em 1955, na primeira turma da PUC da Gávea.

 

Depois que você se formou, qual foi seu primeiro emprego? 

SJ: Eu comecei a trabalhar no Andrews como assistente da Madame Jacobina. Ela dava duas aulas, eu dava uma. Dei aula na turma da Verinha, do João Candido Portinari, do Carlos Roberto, da Beth Carvalho e muitos outros.

 

Quando você entrou no Andrews para trabalhar como assistente? 

SJ: Em 1954. Ainda não estava formada. Trabalhei no Andrews a minha vida inteira, com idas e vindas, de vez em quando eu parava. Trabalhei de 1954 a 1970. Tenho ótimas lembranças do professor Aluísio e do professor Motta Paes

 

Fale um pouco sobre como era a sua relação com a Direção do colégio? 

SJ: Era maravilhosa. O que apreciei muito no colégio era que todo mundo me tratava igual, carinhosamente, sem bajular.  Nos outros lugares era muito bajulada e me sentia muito mal.

 

Você só deu aula no Andrews ou deu em outros colégios? 

SJ: Eu dei aula em muitos colégios. Eu comecei no Melo e Souza, quando ainda estava no Clássico. Trabalhei numa escola em Santa Teresa. Depois fiz concurso para o Estado e para o Município. Também dei aulas no Centro Educacional de Niterói. Na PUC dei aula de Didática, substituindo o professor Leônidas Sobrino Porto que estava dirigindo a Casa do Brasil, em Paris.

 

Você sempre dava aula de Francês? 

SJ: No Município e no Estado dei Português e terminei como orientadora educacional. No Andrews sempre dei aula de Francês.

 

O que você destacaria na orientação pedagógica do Andrews? O professor tinha total liberdade de montar o conteúdo do curso? 

SJ: Pelo menos a minha mãe tinha. A Madame Jacobina  tinha plena autonomia  e eu também. Fazíamos muitas atividades extraclasse. Acho que isso sempre existiu. Todos os professores tinham liberdade em suas aulas.

 

 

Você pegou diferentes Direções no colégio? 

SJ: Peguei o finalzinho da dona Alice, mas já com o doutor Carlos junto, depois o doutor Carlos, e mais tarde assumiu o professor Edgard Azevedo.

 

RH: Fale um pouco da época da dona Alice e depois da do doutor Carlos.
SJ: Da dona Alice não me lembro muito bem, lembro-me dela como pessoa, mas não como diretora. Recordo-me que o doutor Carlos ficava, às vezes, vendo a saída dos alunos do Científico e a entrada dos alunos do Ginásio. Era uma atitude muito simpática. O doutor Carlos era um encanto. Me lembro que quando fui estudar na França e minha mãe passou seis meses lá comigo, ele  lhe deu todo apoio. Fez tudo o que era possível para ajudar. E a mim ele disse: “você é muito jovem, recomeça tudo quando voltar.” Eu voltei cheia de ideias, porque tinha feito orientação pedagógica na França, com um estágio em Sèvres, participei de visitas guiadas, fiz fonoaudiologia, grafoterapia, e queria aplicar tudo no colégio. Então, o doutor Carlos disse: “o colégio vai andando bem como está e vai ficar assim, não inventa”. Eu voltei a dar as minhas aulas de sempre.  Eu adorava. Fazia também muitas festinhas como a Madame pois  peguei a orientação dela. Muita música, tocava violão na época.

 

Tem algum fato engraçado ou curioso que ficou marcado para você como aluna ou como professora? 

SJ: Como aluna teve esse de ser aluna da minha mãe sem saber, isso foi um susto. Lembro também que quando eu estava na quarta série ginasial o Jacques Klein era aluno do Científico e o doutor Carlos abria o colégio aos sábados à tarde para ele (o Jacques) tocar piano no salão que havia em cima da secretaria. Era uma confraternização geral. Os alunos dançavam, era um programa cultural muito bom. Todos os alunos se conheciam. Nós freqüentávamos o bar do seu Manoel. Lembro também dos porteiros, o Zuza e depois o Paulinho.

 

E Guilhermina Sette? 

SJ: Ela era muito amiga de minha mãe, muito paciente. E ficou uma amizade hereditária. Eu vou sempre vê-la e sou muito grata por tudo que ela fez. Ela foi muito minha amiga no final da vida da minha mãe, me ajudou muito. Gosto imensamente dela.

 

 

De uns tempos para cá muitas escolas fecharam, o que você  acha que o Andrews tem que resiste ao tempo e vai fazer 90 anos em 2008?

SJ: Acho que o Andrews tem açúcar, para começar. Todos que foram do colégio fazem questão de matricular seus filhos, seus netos. Acho que todos têm uma grande afeição pelo colégio e guardam ótimas lembranças.

 

Qual foi a importância do Andrews na sua vida? 

SJ: Ele me deu grandes amizades. Fiz grandes amigos.

 

Você tinha muita amiga judia? 

SJ: Naquela época não. Uma das minhas amigas até hoje, Clarisse Daim, era judia. Quando fui para o Clássico entrou um grupo maior.

 

Vamos falar um pouco de sua mãe, a madame Jacobina. 

SJ: Acho que se Madame Jacobina fosse viva e ainda  trabalhasse, não iria conseguir o que conseguia: respeito  e  bons resultados.  Era muito exigente, mas sempre estimulava seus alunos, acrescentando “pontos” à sua média. Autora de livros didáticos para o ensino de francês, adotados não só no Rio, como em vários outros estados, recebeu, do Cônsul da França, uma medalha “Les Palmes Académiques” por tantos anos divulgando a língua e a literatura francesas. Quando eu encontro com ex-alunos, eles comentam  que graças à madame Jacobina  aprenderam Francês.

 

Onde e quando sua mãe nasceu?
SJ: Em Le Mans, em 1899.  Estudou até os 18 anos na França e depois foi para os Estados Unidos, onde passou 10 anos. Fez a faculdade e trabalhou como professora. Quando foi à França, em visita, participou que voltaria para morar nos USA. Minha avó pediu que viesse para o Brasil, onde ela já tinha um irmão. E assim minha mãe veio morar em São Paulo. 

Em que ano Ela chegou ao Brasil ? 

SJ: Acho que em 1929. Um dia ela viu um anúncio do Colégio Jacobina, oferecendo vaga para professor de Francês. Respondeu e foi chamada. Meu pai foi buscá-la no cais e levou-a para a casa da minha avó, onde ele estava morando porque tinha se separado da primeira mulher. Resultado: ela deu aula no Colégio Jacobina, eles se casaram e ela parou de trabalhar. Quando ela retornou, foi dar aula no Bennett e depois no Andrews. 

 

 

Ela foi dar aula no Clássico ou pegou o Ginásio também? 

SJ: Pegou o Ginásio também. Ela trabalhou no Andrews de 1942 até 1970.

 

Depois ela trabalhou em algum lugar? 

Madame Jacobina também dava aula de Didática na PUC

 

Fale um pouco sobre as peças que sua mãe montava com os alunos. 

SJ: Ela sempre gostou de fazer teatro e formou no Andrews o Cercle Dramatique Molière. Tinha gente ótima. O Rubens Correia, grande ator e ex- aluno do colégio, disse numa entrevista que começou a se interessar por teatro a partir das peças que interpretava no Cercle Molière.

 

Todo ano ela montava uma peça? 

SJ: Sim, inclusive uma das vezes ela fez uma festa imensa em benefício das Bandeirantes. Eu era Bandeirante. 

 

Você se lembra do nome das peças?

SJ: Eram de Molière, Les Femmes savantesLe médicin malgré lui, Le Bourgeois GentilhommeLes Précieuses ridicules.  L’anglais tel qu’on le parle de Tristan Bernard. Eram trechos das peças, com as roupas adequadas. Uma costureira nossa fazia as roupas. Era uma época muito boa. Havia  grandes talentos. 

 

Você quer acrescentar alguma coisa?

SJ: Fico feliz de ter feito parte da família do Andrews. Quero acrescentar que gostaria que o colégio continuasse a ser o que era na minha época, se adaptando naturalmente aos novos tempos, mas que continuasse com a sua tradição educacional.

 

Muito obrigada, Sylvette, pelo seu depoimento.


 


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